Central do Brasil

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Central do Brasil (1998), Walter Salles.

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Um clássico do cinema nacional. Eu sempre recomendo, já vi várias vezes e adoro esse filme. Sou apaixonado por Central do Brasil. É facilmente um dos meus filmes favoritos da vida. Lançado em 1998 e dirigido por Walter Salles, conta a história de Dora, uma professora aposentada que escreve cartas para pessoas analfabetas na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Um dia, ela conhece o menino Josué, que perde a mãe em um atropelamento, e decide ajudar o garoto a chegar no Nordeste para que ele possa se encontrar com o pai.

Com sua premissa, Central de Brasil é tocante, construído de uma maneira muito bonita e emocional. É uma das razões pelas quais eu gosto tanto do filme. A maneira como a relação da Dora e do Josué é desenvolvida ao longo dessa trajetória até o Nordeste é uma coisa maravilhosa. Eles se desentendem constantemente, especialmente no início, porém, aos poucos, também vão desenvolvendo um laço muito forte, criando uma relação realmente muito bonita. A Dora é uma pessoa simples e direta, mas também é bastante carrancuda, frequentemente mal-humorada e irritadiça. Esse cinismo dela é uma forma que ela encontrou de lidar com as questões e as tristezas que ela guarda de sua infância, que refletem bastante das vulnerabilidades da personagem e do desejo que ela tem de ser amada e de ser lembrada. Por outro lado, Josué é um garoto sagaz, que ainda tem bastante inocência infantil e acaba forçando Dora a confrontar seus próprios demônios. Por isso, ela decide ajudá-lo. E essa relação de vai e vem emocional entre eles ao longo da viagem é o que mantém a gente ali encantado com a história e com o desenvolvimento emocional dos personagens, de uma maneira que torna o filme esse clássico que ele é.

Central do Brasil também é uma espécie de road movie, um filme de estrada que mostra a saga de Dora e Josué viajando pelo interior do Brasil para chegar do Rio de Janeiro ao Nordeste, passando por paisagens que carregam muito da beleza do Brasil, mas também carregam muito da sua melancolia ao mostrar um retrato do Brasil daquela época dos anos 90. O filme se passa em uma época anterior ao boom da internet, e há toda uma questão sobre a exploração das cartas. Ao mesmo tempo, a história fala muito sobre o analfabetismo e sobre as cidades do interior do Brasil, especialmente as cidades do Nordeste.

O filme fala também sobre o próprio cinema brasileiro, porque Central do Brasil é um filme que foi aclamado internacionalmente, considerado um marco para o que hoje se chama na História do cinema brasileiro de Cinema da Retomada. O filme ajudou muito a resgatar o poder do cinema nacional numa época em que estava se reerguendo. A própria Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, que injustamente perdeu para a Gwyneth Paltrow em 1999, enquanto o filme também foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas também não ganhou. Ainda assim, Central do Brasil ganhou vários outros prêmios, como o Urso de Ouro de Melhor Filme e o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, o Bafta e o Globo de Ouro.

Central do Brasil também é um filme sobre lidar com seus demônios, sobre saudade, sobre a passagem do tempo e sobre não ser esquecido. Talvez, por isso, a temática das cartas seja tão importante para a história.

Eu adoro a história, os cenários, a jornada, os personagens e a maneira como os personagens são desenvolvidos. Sempre que posso, assisto e recomendo fortemente. Apesar de ser um filme dos anos 90, ainda é um filme que conversa muito com o Brasil de hoje em dia, com atuações maravilhosas, um roteiro encantador e uma trilha sonora que é arrasadora. A trilha sonora mexe muito comigo, especialmente quando toca naquele final maravilhoso. Toda vez que eu escuto aquela música, eu me sinto me... eu me sinto me... embriagado!