Ainda Estou Aqui (2024), Walter Salles.
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Nosso queridíssimo filme nacional que agora é um maravilhoso ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional. Uma tremenda vitória, especialmente para o cinema nacional como um todo. Dirigido por Walter Salles, é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva e conta a história da mãe do escritor, que se torna uma grande ativista dos direitos humanos depois que seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, é levado pela ditadura militar e nunca mais retorna. Selton Mello interpreta Rubens Paiva enquanto Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva, a grande protagonista desse filme e agora uma das grandes protagonistas da história do cinema. A Fernanda Torres pode não ter ganhado o Oscar de Melhor Atriz, mas certamente ganhou nossos corações e os corações de todo mundo. Além de grande atriz, ela é uma grande roteirista, e eu sempre curti muito o trabalho dela, tanto por sua participação em novelas e séries, como Os Normais e Tapas e Beijos, mas também por suas participações no cinema, em filmes como Redentor, Casa de Areia e Saneamento Básico, que é um filme dela que eu acho muito divertido. Em Ainda Estou Aqui, ela está excelente. Fernanda Torres é a alma do filme, o coração de toda a história dramática que cerca a família Paiva.
O fato de a obra ter levado o Melhor Filme Internacional é uma consagração de maneira geral para todo seu elenco, toda a sua produção, para o diretor Walter Salles, e é algo muito importante para o cinema brasileiro como um todo porque aumentou seu alcance no mundo, o que vai tornar o cinema brasileiro ainda mais conhecido em diversos outros países. Isso é uma coisa muito boa para o nosso cinema.
Ainda Estou Aqui é um filme fantástico e mereceu muito sua vitória. O filme conta sua história muito bem. Começa ensolarado e radiante, apresentando a vida da família enquanto eles se divertem juntos e aproveitam seus momentos juntos. Só que, aos poucos, vai apresentando os relances de que o país vive um momento sombrio. A história ocorre na época do regime militar, uma época em que o país funcionava na base do medo e que todos eram suspeitos o tempo todo. O filme aos poucos vai dando pinceladas sobre isso, até chegar no momento decisivo quando Rubens Paiva é levado por agentes do governo para supostamente dar um depoimento. Porém, os dias vão passando, as semanas vão passando, até que a própria Eunice é levada com uma das filhas para dar depoimento e fica um tempo presa. Quando ela retorna para casa, seu marido não está e ela precisa lidar com aquela situação horrível de perda e de luto enquanto mantém a família unida, cria seus filhos e tenta dar novos rumos para sua vida e para a vida de sua família. É justamente essa força da Eunice para manter a família unida e para lutar por uma conscientização, para tentar descobrir o que aconteceu com seu marido, que constrói a emoção e o poder do filme através da mensagem que sua história tem para passar.
Em dado momento, Eunice está conversando com uma professora e diz: “meu marido está em perigo.” Ao que a professora responde: “todo mundo está em perigo.” Isso deixa claro o que era a época e mostra que o Brasil já foi um lugar horrível. O mais triste é que ainda hoje, depois de tudo, ainda existem alguns que gostariam de trazer esse horror de volta.
Ainda Estou Aqui é também um alerta de que isso não deve acontecer nem se repetir. Nossa história precisa ser lembrada justamente para que não se repita. E filme é exatamente sobre isso: sobre a luta por justiça, sobre uma luta por direitos humanos e sobre a luta pela sobrevivência de uma família. Tudo isso através de uma performance maravilhosa da Fernanda Torres enquanto tenta manter sua família unida e seus filhos seguros.
Ainda Estou Aqui é um grande filme, um grande vencedor de Melhor Filme Internacional e é, sobretudo, uma história que precisa ser assistida e lembrada, porque tem muito a contar. Sua história vai se construindo de forma solene e contida até seu final, que cria um impacto memorável. É um filme que me provocou um impacto emocional muito grande. Inclusive, a maneira como eu me senti quando eu saí do cinema, foi uma maneira muito parecida com a maneira como eu sempre me sinto quando eu assisto a Central do Brasil, que é um dos meus filmes favoritos, e que me provoca um sentimento meio solene de melancolia, justamente porque me faz pensar e refletir sobre uma série de coisas. Ainda Estou Aqui é um filme maravilhoso que nos faz pensar e nos faz refletir sobre a nossa história, sobre o passado do nosso país e, principalmente, sobre o que nós queremos para o nosso país. Por isso, eu recomendo fortemente.
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