Bane, o homem que quebrou o morcego

Bane

Bane é o vilão principal escolhido para o filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan. Mas, quem é Bane? Quais são suas origens? E quanto de um dos maiores inimigos do Homem-Morcego nos quadrinhos foi aproveitado para sua versão cinematográfica?

Ao contrário da maioria dos vilões do Batman, Bane foi criado nos anos 90 com uma finalidade bastante específica: destruir o Homem-Morcego. Da mesma forma que o monstro Apocalypse foi introduzido nas histórias do Superman – também nos anos 90 – para matar o Homem de Aço, Bane tinha uma função parecida na saga A Queda do Morcego.

O misterioso vilão fez sua primeira aparição na revista Batman: A Vingança de Bane, publicado em 1993 com roteiro de Chuck Dixon e ilustração de Graham Nolan. Nascido dentro de uma prisão na fictícia ilha de Santa Prisca, no Caribe, Bane foi condenado desde seu nascimento a pagar pelos crimes cometidos por seu pai, conhecido com o Rei Cobra. Desde sua infância, Bane treinou corpo e mente, dedicando-se à leitura de livros, trabalhando seus músculos em pesados exercícios e aprendendo a lutar com uma verdadeira fera para se defender de outros prisioneiros. Logo se tornou soberano incontestável da prisão. Ninguém ousava se meter com ele e todos os presos o temiam.

Sua ascensão no controle da prisão chamou a atenção das autoridades que cuidavam do lugar, que o obrigaram a participar de testes obscuros com um novo superesteroide chamado Veneno. Bombeado diretamente para seu cérebro, o Veneno aumentou imensamente sua força física, mas o deixou viciado em infusões regulares da droga, que era bombeada diretamente para o cérebro através de um sistema de tubos. Absurdamente reforçado pelos efeitos da droga, Bane, junto com seus três lacaios, Trogg, Zombie e Bird, conseguiu fugir da prisão e rumou para a cidade de Gotham.

Dentro da prisão, Bane tinha ouvido rumores sobre Gotham e seu protetor: o Batman. Quando criança, Bane sofria com pesadelos em que sempre aparecia um morcego-demônio para aterrorizá-lo. Ao descobrir sobre a existência do Batman como uma representação do medo, Bane decidiu ir a Gotham para literalmente derrotar a encarnação de seu medo infantil. Era, de fato, o maior inimigo que o Homem-Morcego poderia enfrentar. Afinal, o Batman lutava usando o medo que inspirava nos criminosos. Mas Bane queria superar seu medo. Estava determinado a isso. E não mediu esforços.

Em Gotham, Bane começou uma campanha de guerrilha urbana contra o Homem-Morcego, usando sua inteligência antes de partir para a força bruta. O vilão começou libertando os detentos do Asilo Arkham e da Prisão Blackgate, forçando o Batman a recapturá-los um por um. O herói teve que enfrentar todos os seus maiores inimigos numa campanha que se estendeu por meses. Enquanto isso, Bane apenas observava das sombras, sem interferir.

Quando o Batman conseguiu prender novamente todos os fugitivos, Bane revelou-se, mas o herói estava muito exausto para enfrentá-lo. Batman e Bane lutaram um contra um na Batcaverna, num combate épico dos quadrinhos que terminou com a vitória do vilão. Bane, conhecido como “O Homem que Quebrou o Morcego”, fez exatamente isso: quebrou a coluna do Batman, deixando o herói paralítico da cintura para baixo. Com o Cavaleiro das Trevas fora do caminho, Bane começou sua investida para tomar controle total do submundo do crime de Gotham e, assim como antes fez na prisão do Caribe, tornou-se soberano nas ruas de Gotham.

Bane

O Batman não estava totalmente acabado, claro. Bruce Wayne escolheu um substituto para vestir o manto do morcego, o assassino que virou herói: Jean-Paul Valley, também conhecido como Azrael. Este novo Batman era diferente do antigo. Não tinha o mesmo código moral e era muito mais violento. Azrael vestiu-se com um traje sofisticado de combate, que era uma espécie de armadura tecnológica, e foi atrás de Bane para um acerto de contas. Azrael debilitou Bane destruindo os tubos que lhe forneciam a droga e, por fim, derrotou o vilão. Bane foi espancado de forma brutal pelo novo Batman e preso novamente, desta vez na Prisão Blackgate.

Dentro da Blackgate, Bane consegue recuperar-se de seu vício no Veneno e, finalmente, escapar da prisão (fatos contados na revista A Vingança de Bane II: Redenção). De volta às ruas de Gotham, ele ajuda o Batman (com Bruce Wayne de volta ao posto, já recuperado de sua lesão) a derrubar um grupo de criminosos que estava distribuindo Veneno na cidade sob comando do médico que fez os experimentos com a droga em Bane. Depois disso, Bane simplesmente deixa Gotham para procurar seu pai.

Com essa história concluída, Bane apareceu na minissérie Batman: O Legado do Demônio, que na busca por seu pai, acaba aliando-se a Ra’s al Ghul. Impressionado pelas habilidades de Bane, Ra’s al Ghul concede ao vilão o título de herdeiro – uma honra que Batman havia rejeitado – e, juntos, formam uma aliança para enfrentar o Homem-Morcego. Foi durante este arco que Bruce Wayne finalmente teve sua revanche contra Bane. Desta vez, num combate mano a mano, Batman leva a melhor e sai vitorioso contra Bane, que termina banido da Liga das Sombras por Ra’s al Ghul.

Após O Legado do Demônio, o futuro de Bane ficou meio incerto. Depois dos ápices em A Vingança de Bane e A Queda do Morcego, o vilão fez aparições em Terra de Ninguém e Vigilantes de Gotham. Durante o desenrolar destas sagas, Bane acredita ser meio-irmão de Bruce Wayne, fato desmentido depois, e finalmente descobre que seu pai é o Rei Cobra, contra quem luta ao lado do Homem-Morcego. Bane quase morre no confronto com o Rei Cobra, mas consegue sobreviver após ser mergulhado pelo Batman no Poço de Lázarus de Ra’s al Ghul. Foi um daqueles momentos nos quadrinhos em que as mentes criativas por trás das histórias tentavam encontrar uma forma de encaixar o icônico vilão nas tramas do Homem-Morcego.

Depois de várias participações menos memoráveis durante os eventos das sagas Crise Infinita e Um Ano Depois, Bane teve participações no Esquadrão Suicida, um grupo de mercenários da DC, e contra uma das versão dos Renegados. Depois disso, Bane pareceu encontrar seu lugar nas revistas do Sexteto Secreto (não publicadas no Brasil), que contava histórias sobre as missões de um grupo de supervilões que se ajudavam mutuamente apesar das (muitas) diferenças. Bane ganhou uma roupagem mais honrosa com o Sexteto Secreto, mas a HQ foi cancelada no reboot da DC que abriu caminho para os Novos 52.

Bane

Apesar disso, Bane ainda tem sua chance. Agora, noutra mídia, como o vilão do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Ainda que sua aparição tenha sido um fracasso bizarro no filme Batman & Robin – ok, o filme TODO é um fracasso bizarro –, o Bane de Christopher Nolan foi concebido com o devido respeito por sua contraparte nos quadrinhos. O Bane de agora é brutal e inteligente como o Bane original. Lembro que na época do movimento para iniciar a produção de Cavaleiro das Trevas Ressurge muitos nomes foram especulados para o vilão – Charada, Pinguim e até mesmo Hugo Strange –, mas foi uma surpresa interessante ter o Bane como escolha final.

Nolan sabe o que faz. E seu vilão prova-se uma escolha acertada no filme, especialmente por ser interpretado por Tom Hardy. O Bane de Cavaleiro das Trevas Ressurge é muito foda! Sua mentalidade, seu histórico e suas motivações são bastante influenciados por suas primeiras aparições, em A Vingança de Bane e A Queda do Morcego – com algo de O Legado do Demônio.

Pra somar, os responsáveis pelo filme optaram por redesenhar a máscara do Bane sob a forma de uma focinheira semelhante a um aparelho de respiração. Ao fazerem isso, apagaram um pouco aspecto de lutador de luta-livre mexicana do vilão e concederam-lhe um ar mais de mercenário ameaçador – estabelecendo uma característica marcante que dificilmente será esquecida. – As mandíbulas semelhantes a dentes lembram ainda o líder da gangue dos Mutantes que enfrenta o Homem-Morcego na revista O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.

Ainda que tenham optado por não usar a dependência química de Bane no Veneno, habilmente mantiveram a dependência do vilão numa espécie de narcótico na máscara que alivia sua dor, o que concede a Bane uma fraqueza e um elemento a mais de simpatia, especialmente pelo mistério que se cria ao redor de sua condição na trama. De qualquer maneira, nos quadrinhos ou no cinema, Bane continua sendo um dos inimigos mais terríveis e importantes que já enfrentaram o Batman. E sempre será conhecido como O Homem que Quebrou o Morcego.