Reis de Todos os Mundos Possíveis (2013), Octavio Aragão.
Nos filmes de Ficção Científica que falam sobre viagem no tempo, é comum existir uma polícia que tome conta dos viajantes, impedindo que criminosos alterem o passado (ou futuro) para benefício próprio. Geralmente temos o herói como um mocinho seguidor de regras, que irá garantir ao final que tudo se mantenha como sempre foi (e será).
Mas e se a polícia do tempo fosse brasileira? Com todo o jeitinho e a corrupção que conhecemos, que nem o Capitão Nascimento consegue encerrar? Foi pensando nisso que o escritor carioca Octavio Aragão criou a Intempol – uma polícia internacional do tempo, mas com cara e sotaque de Brasil.
Surgida no conto Eu Matei Paolo Rossi, de 1998, a Intempol logo virou um universo compartilhado, onde vários autores puderam dar a sua própria versão desta estranha polícia, resultando em uma antologia clássica da Ficção Científica Brasileira, além de quadrinhos, sites e um longo etc. Houve até um RPG que quase saiu – e é uma pena que esse material não tenha chegado ao público.
Como um verdadeiro projeto multimídia pensado ainda nos primórdios da rede, foram precisos 15 anos para que seu criador finalmente escrevesse seu primeiro romance sobre o tema. Assim finalmente surgiu Reis de Todos os Mundos Possíveis, publicado em 2013 pela Editora Draco.
Idealizado para ser “a palavra final do autor sobre o universo Intempol”, o livro acaba servindo justamente como uma boa introdução ao mesmo. Vários personagens e cenários pensados por outros autores se mesclam num todo coerente, deixando no leitor a curiosidade de ver o que mais pode render de bom deste caldeirão de citações a livros, quadrinhos, filmes e cultura pop em geral.
O protagonista da trama é Carlo Costa, um super-agente criado pela Empresa – assim a Intempol é chamada em seus corredores – para combater Dualai, um neandertal místico de uma Terra paralela que pretende dar cabo da polícia do tempo, e ao mesmo tempo, impedir uma invasão alienígena que visa ocupar nosso planeta, mesmo que isso signifique o fim da raça humana.
Figuras históricas, como Houdini, Evita e Carlos Lamarca, são recrutadas como agentes para garantir que a Linha Temporal Oficial continue a mesma. Em meio a tecnologias fantásticas e teorias das conspirações, a Empresa vai se virando, sempre arranjando uma maneira de maximizar seus lucros.
Intercalando boas doses de ação e mistério, a leitura flui rápida e não dá vontade de parar. As muitas referências dão um sabor especial à trama. Perceber quem realmente é Carlos Costa ou o Diretor do Departamento M torna as coisas mais divertidas. Talvez um novato fique meio perdido no início, pois nada é mastigado para o leitor. Mas a trama funciona bem, e instiga o leitor a buscar conhecimentos sobre a cultura pop que aparecem pelo texto.
Reis de Todos os Mundos Possíveis acaba sendo uma bela porta de entrada para o riquíssimo universo Intempol. E como universo compartilhado, ainda há muito a ser explorado. Ao contrário do que acreditam os agentes da Empresa, o futuro ainda não está escrito, e a página seguinte sempre pode reservar uma grande surpresa.
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