Um Senhor Estagiário

Um Senhor Estagiário

Um Senhor Estagiário

Um Senhor Estagiário (2015), Nancy Meyers.

Nancy Meyers é conhecida por histórias que abordam as múltiplas variáveis que envolvem relacionamentos. Ela criou um estilo próprio de filmes equilibrados (e eventualmente implausíveis) que são, em geral, experiências adoráveis de se assistir, como O Amor Não Tira Férias e Simplesmente Complicado. Um Senhor Estagiário possui esse estilo adorável, aproveitando-se de uma estética que minuciosamente nos insere em um mundo de sonhos joviais. O mundo que Meyers cria é maravilhoso.

Este é o primeiro filme da cineasta em seis anos, escrito e dirigido por ela, focado em sensibilidades modernas, ainda que possua uma atmosfera antiquada. O misto entre o velho e o novo constrói um mundo que se distancia levemente da realidade, um mundo de sonhos que quase podemos tocar, ao mesmo tempo tão distante e tão perto. Mais agradável ainda é descobrir que não é uma história de amor. Ao invés disso, é uma história sobre a tranquilidade de amar em todas as suas formas: o amigo, a amiga, o marido, a namorada, o filho postiço, a filha, o trabalho, a rotina, a correria, a vida, a si mesmo.

Meyers usa esta premissa para abordar questões sobre divórcio, cumplicidade e amor tardio, usando o drama e o humor de forma ousada, até um pouco melancólica, ainda que inocente. Um Senhor Estagiário, diferente do que muitos poderiam pensar em um primeiro momento, preocupa-se pouco com o conflito de gerações: está mais interessado na polidez de um homem solitário que descobre em uma garota insegura que tem tudo a chance de mudar o que ele próprio acredita sobre si mesmo. Mais do que isso, ele encontra a oportunidade de dizer a essa garota que ela realmente pode ter tudo e não deve temer isso mesmo que o mundo diga o contrário.

Robert De Niro é de uma simplicidade charmosa como o aposentado que decide voltar ao trabalho como estagiário. Ben passou toda a carreira em uma fábrica que fazia listas telefônicas. Era casado e agora está viúvo, aposentado e entediado. Ele é adorável o tempo todo, educado o tempo todo, equilibrado o tempo todo. Ele é o vovô que você gostaria de abraçar pelo menos uma vez por dia. Ou o tempo todo. Acima de tudo, ele é o reflexo do homem romântico (não no sentido de romance ou relacionamento, mas num sentido idealizado, poético). Ele é um homem que se diferencia de um menino, e ainda assim, cultiva uma juventude interior invejável. Ele é raridade. E mesmo quando você pensa que ele não tem mais para onde crescer, ele cresce mais um pouco, e ajuda todos ao redor a crescerem também.

Ele ajuda Anne Hathaway a crescer. Jules Ostin é o coração do filme. Ela é uma jovem mulher que construiu um negócio de roupas incrivelmente bem-sucedido a partir do zero, e agora tenta conciliar a relação com o marido e a filha, o trabalho que não para e o conselho administrativo da empresa que quer substitui-la por um CEO mais experiente. Ela é excêntrica, mas mantém um equilíbrio agradável entre ser uma protagonista de comédia romântica e ser uma executiva megera. Ela é um pouco de tudo, sem exageros. Quase O Diabo Veste Prada às avessas. Quase uma referência divertida à própria Anne Hathaway. A atriz, com o talento de sempre, é sábia, brincalhona, sisuda e insegura. Não deixa que sua personagem se torne caricata ou previsível. Quando você acha que isso pode acontecer, ela muda o jogo.

O jeito contido de Ben e o estilo de vida exagerado de Jules se completam em uma relação cuja estranheza inicial é facilmente sobrepujada. Não há muita cerimônia na amizade que eles constroem. Na verdade, não há muita cerimônia no filme em si. As coisas acontecem com naturalidade. Mesmo os problemas são resolvidos dessa forma. Não há um grande conflito.

Muitos talvez se sintam frustrados com escolhas feitas no final do filme, especialmente no que diz respeito a Jules, mas não se pode culpá-la por não querer desistir da vida que construiu a duras penas, a profissional e a pessoal, independente do que ela tem a dizer sobre isso. O que dizemos nem sempre é o que fazemos, principalmente quando se trata de filhos e família. A verdade é que, no mundo de Meyers, nada é realmente errado. Escolhas são feitas e decisões, tomadas. Conviver com elas é parte da vida, e cada um tem sua própria maneira de encontrar paz de espírito.