Como lidar com o hype dos trailers

Trailers

A San Diego Comic Con acontece neste final de semana e, com ela assim como na época do Superbowl, somos brindados com uma enxurrada de trailers dos próximos lançamentos das telonas nos meses que se seguem, o que deixa todos nós, muitas vezes com o coração na garganta, contando ansiosamente nos nossos calendários, a data de estreia do tão esperado filme que aguardamos tanto para ver. Por conta disto, os estúdios procuram deixar o público com o máximo de água na boca com um pout-pourri de cenas em poucos segundos na tentativa de garantir uma boa venda de ingressos para o seu produto. É claro que um trailer bem-feito e empolgante não é garantia de retorno financeiro se o produto final for um verdadeiro desastre cinematográfico. Exemplos disto é o que não faltam e creio que cada um de vocês conhece vários, não havendo a menor necessidade de enumerá-los aqui.

Ao contrário da grande final do torneio anual de futebol americano, os estúdios aproveitam a consagrada convenção de quadrinhos para uma divulgação mais abrangente, que vai além dos segundos de exibição mais caros da TV mundial. Na convenção, existem os painéis, onde normalmente, vão o elenco, o diretor, o roteirista, os produtores executivos e quem mais puder agregar à divulgação do trabalho. Os painéis são uma espécie de coletiva de imprensa misturada com palestra onde dúvidas são tiradas e esclarecimentos são dados sem acabar com o fator surpresa da experiência do público em assistir pela primeira vez o filme ou a série que tanto aguardou durante meses.

Como era de praxe, a Paramount Pictures aproveitou o evento para fazer um painel sobre o filme Bumblebee, o spin-off das aventuras dos Transformers nas telonas que chega aos cinemas com o fardo de ser “canto do cisne” da franquia, após o fiasco de Transformers: O Último Cavaleiro a ponto de fazer o estúdio colocar definitivamente o galho dentro nos ambiciosos planos que tinham para a saga cinematográfica dos Autobots e dos Decepticons. Aliás, o próprio filme solo do Bumblebee só não foi cancelado porque o projeto numa fase de produção em que não dava mais para voltar atrás.

Quando o trailer de Bumblebee foi lançado, a expectativa de muitos fãs em relação ao filme ficou um tanto animadora, inclusive a deste que vos escreve. Primeiro, pelo fato de Michael Bay não estar mais na direção da franquia que, na minha opinião, é um dos grandes responsáveis do fracasso que a pentalogia cinematográfica dos Transformers se tornou. Depois porque, além de anunciarem que Bumblebee teria uma pegada totalmente diferente dos filmes anteriores, quem se senta na cadeira de diretor desta vez é Travis Knight, cuja referência é seu trabalho magnífico em Kubo e As Cordas Mágicas. Além disso, o filme, por se passar nos anos 1980, traz toda a nostalgia da série animada que passava na Globo nas manhãs de domingo, inclusive com o protagonista se transformando num Fusca amarelo como na série original e não um Camaro. E, tudo isto, até então, veio a se confirmar com a divulgação do primeiro trailer. Parecia que Bumblebee agradaria os fãs de todas as gerações, especialmente por conta de uma cena em que aparece um jato Decepticon se transformando em robô, cuja aparência lembrava e muito o visual do Decepticon Starscream da série clássica, informação inclusive confirmada pelo estúdio logo após o lançamento do trailer. “Será que dessa vez acertaram? Será que finalmente veremos os personagens que marcaram nossa infância representada de uma forma digna? Será que finalmente teremos um filme que agradasse os fãs de todas as gerações?” Ao que tudo indicava, pelo menos, Starscream teria um visual decente e não mais a aparência de um “Doritos com braços e pernas”, como alguns fãs maldosos o descreviam.

Mas, aí, veio o painel da Paramount na San Diego Comic Con, e, aparentemente, o primeiro “balde de água fria” é jogado nas expectativas de alguns fãs quando Travis Knight diz que o Decepticon que aparece no trailer não é Starscream, mas sim, Blitzwing que, originalmente, era um triple changer na série original, ou seja, um robô com duas formas alternativas. No caso, Blitzwing se transformava em um caça e em um tanque de guerra. Ao que tudo indica, apesar de não confirmado, Blitzwing também será um triple changer no filme, além dos outros Decepticons já divulgados que darão as caras na história: Shatter e Dropkick. A princípio, teremos um Decepticon que se parece muito com o Starscream, mas que não será o Starscream. Esta informação foi o suficiente para alguns fãs baixassem muito a bola em relação às suas expectativas com o filme. O que antes achavam que seria algo promissor, agora, se tornaria algo digno de descrença e gerador daquela sensação de que será “mais do mesmo” com os erros de sempre.

Este tipo de episódio me trouxe à reflexão do quanto devemos ser cautelosos em relação aos trailers, no meu caso, acredito que a grande lição foi aprendida com O Último Cavaleiro que parecia promissor, mas, no fim, acabou sendo um desastre completo. Obviamente, toda essa questão de Starscream/Blitzwing vai ser algo bem pequeno e um tanto ridícula comparada ao filme como um todo se o resultado for bem executado. Seria o mesmo que julgar o livro pela capa. O mais irônico de tudo é que a intenção dos trailers é justamente essa: fazer o público “julgar” o filme com um punhado de cenas aleatórias. Mas qual a melhor maneira de lidar com isto? Alguns amigos meus são bem radicais ao ponto de não assistir a nenhum trailer e se distanciarem das redes sociais para não se deixarem contaminar por uma eventual expectativa exacerbada ou frustração por antecedência. Não acho que precisamos chegar a tanto, basta termos maturidade o suficiente para entender que aquilo é apenas um trailer e nada mais que um trailer e que muitas das informações adicionais divulgadas antes da estreia são lançadas ao público com a intenção apenas para confundir e despistar, aliás, o próprio Michael Bay se utilizou dessa técnica em todos os filmes dos Transformers que dirigiu. Sendo assim, pouco importa se o Decepticon se chama Starscream ou Blitzwing. Mesmo que o trailer de Bumblebee seja bonitinho, eu só terei uma opinião formada sobre o filme quando sair do cinema (depois de todas as cenas pós-crédito). Até lá, a melhor coisa a se fazer é acompanhar as informações e não “levá-las para o coração.”