Se você já assistiu à The Good Place, no Netflix, sabe do que vou falar. Mas você pode ser também um grande amante da filosofia e ter lido o livro O Que Devemos Uns aos Outros, de Thomas Scanlon. Esse livro é super abordado na série, que traz um assunto muito importante: ética moral.
Resumindo The Good Place sem dar spoilers: a protagonista Eleanor Shellstrop morre e vai para o céu, só que, no seu tempo aqui na Terra, ela não foi um exemplo de pessoa e, por isso, tenta aprender a ser boa para não ir para o inferno.
Eu não dava nada por essa série, mas quando vi pela primeira vez (sim, já assisti algumas vezes), fiquei surpresa do quanto ela é inteligente. De forma simples, ela destrincha diversos pontos sobre filosofia e ética.
Se no final da vida, você passar por um julgamento, você vai dizer que foi uma pessoa boa ou uma pessoa ruim? Será que temos que ser bons esperando alguma recompensa?
A verdade é que a ética é algo que vai além de ser bom ou ruim. Você pode estar fazendo algo errado que eticamente pode ser discutido ou fazer algo bom que na visão ética é condenável?
Tantas perguntas que têm uma explicação: a ética parte da visão de mundo de cada um. Julgar o certo e o errado a partir do seu ponto de vista muitas vezes te torna intolerante. Pelo menos, eu penso muito nisso. Quando tentamos justificar nossos atos, usamos o ideal do que é certo para nós, mas poucas vezes estamos dispostos a tentar entender o lado do outro. Muitas vezes, ouvimos para responder e não para entender.
Em certos momentos, mesmo sabendo que talvez possamos estar errados, continuamos defendendo nosso ponto de vista com a justificativa de “é o que eu acredito”. E se um dia, descobrimos que o que acreditamos não é o correto? Deixaremos de acreditar?
Como podemos justificar se nossas ações são moralmente certas ou erradas se não estamos dispostos a entender o outro? Em outubro, teremos aquela época ótima na qual entramos em discussões com nossos amigos de redes sociais: as eleições.
Todos os ânimos estarão exaltados e todos vão querer (e se estressar por isso) tentar fazer com que os outros concordem com seu pensamento político porque “o meu candidato é o melhor”. E aí, vamos ficar pensando: fulano é tão legal, como ele pode votar em candidato x????
Nas últimas eleições, pelo menos, eu vivi muito isso. Vi várias pessoas que eu considerava muito falarem tantas coisas que me deixaram bem assustada. Eu tentava argumentar, mas acabava sendo desrespeitada. E cada vez mais, fui ficando decepcionada. Eu queria tentar conversar, como boa ex-aluna do Colégio Pedro II. Só que ninguém queria ouvir ninguém. Por algum tempo, passei a também não querer ouvir. Porque era o que eu acreditava.
Nós queremos sempre justificar que o que acreditamos é o certo. Mas tudo bem se o outro pensar diferente, apesar de não vermos isso. O que é moralmente correto nem sempre é o que acontece. Temos que aprender a conviver com isso? Temos que passar a ignorar o que achamos que é errado?
The Good Place fala sobre as reações às nossas ações. Toda ação tem uma reação. Cada ato nosso tem uma consequência. O que acreditamos e defendemos pode vir a ter uma consequência sim. Só que, ao mesmo tempo que não podemos esperar que o outro concorde conosco, não podemos esperar que iremos sempre ter uma recompensa por sermos bons.
Quando ser bom se tornou algo negociável?
Onde está escrito que sempre estamos certos e os outros errados?
Viver em sociedade é botar em prática os preceitos da Ética e da Moral discutidos o tempo todo pela filosofia. Sermos bons uns com os outros não é moeda de troca. O mundo precisa que sejamos bons e compreensíveis uns com os outros. Grandes problemas poderiam ser resolvidos assim.
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