Não Fale o Mal (2022), Christian Tafdrup.
Ouça sobre o filme: podcast
Um filme de suspense dinamarquês de dar nos nervos. A história é centrada no casal Bjørn e Louise, que são convidados junto com a filha para casa em um lugar remoto do casal Patrick e Karin. Embora esses anfitriões pareçam perfeitamente agradáveis no começo, aos poucos eles vão demonstrando atitudes passivo-agressivas que deixam seus convidados desconfortáveis e mais cautelosos durante sua presença naquela casa. Só que essas atitudes que, no início, parecem ser apenas pequenas grosserias, vão escalando para se tornarem violências reais. A maneira como esses desconfortos sociais são tratados tem um aspecto meio lúdico, porque às vezes parece uma sátira, mas também tem um aspecto muito de horror, bem íntimo e pessoal e, muitas vezes, doentio. Esse é o grande lance do filme dinamarquês, que tem um poder difícil de se alcançar quando se pensa em um remake.
Inicialmente, o filme não dá muitos sinais de que os protagonistas estejam realmente em perigo. Esses sinais vão aparecendo muito aos poucos. O filme vai fazendo lentamente a transição dessa sátira, que é meio cômica e meio tensa, para o horror verdadeiro e arrasador que é o final intenso. E é justamente por ser paciente, por ser lúdico e enervante de uma maneira equilibrada, que esse filme é tão poderoso nas mensagens que tem para passar e na forma como constrói a narrativa.
Não Fale o Mal é um filme bastante sombrio sobre a questão de nós sermos pessoas tentando manter uma fachada de civilidade e educação mesmo quando coisas abomináveis estão acontecendo com a gente ou ao nosso redor, mesmo quando nós estamos vendo aquelas coisas acontecendo, piorando e se tornando ainda mais perigosas e prejudiciais. É uma história que trata dessa temática de uma maneira muito bem-feita e bem-construída, de uma forma que não é nada agradável, o que pra mim é o grande lance de um filme de terror. Filme de terror tem que ser desagradável, desconfortável, tem que te tirar da sensação de segurança. E se há uma coisa que Não Fale o Mal faz bem é te tirar da sensação de segurança. Por isso que eu gostei muito do filme dinamarquês. E gosto muito mais do filme dinamarquês do que do remake norte-americano.
Porém, eu também indico o remake norte-americano, que foi lançado em 2024 e é um filme bem-feito de uma maneira diferente que aborda mais ou menos as mesmas temáticas. O grande destaque do remake norte-americano é o James McAvoy como Paddy. Ele é um cara que consegue fazer vilões de uma forma bizarra e aterrorizante, e consegue ser carismático e envolvente mesmo quando é enervante. Nesse filme, ele é a definição do enervante. Em alguns momentos, ele dá uns sorrisos que te dão calafrios. E o Paddy é um personagem muito bom, que ajuda muito a construir a atmosfera do filme.
A história do remake é parecida com a história do filme dinamarquês, só que, no meio do caminho, os dois filmes divergem. O filme dinamarquês é muito mais brutal, cruel e arrasador. O filme norte-americano também segue por esse caminho, mas, num dado momento da história, ocorre uma reviravolta e as coisas mudam completamente, o que eu particularmente considero uma coisa muito boa. Apesar dos dois filmes serem experiências diferentes, eles meio que se complementam. Por isso, eu recomendo fortemente assistir ao filme norte-americano e assistir ao filme dinamarquês.
Porém, eu devo dizer também que, prepare o estômago e o coração para os dois, porque são filmes muito fortes e pesados na maneira como constroem a temática de suspense de suas histórias. Ambos os filmes são basicamente sobre você ficar atento ao que é geralmente chamado de red flags, as bandeiras vermelhas, sinais de que alguma coisa está errada. Ao mesmo tempo, são filmes sobre a importância de saber dizer não, de se impor e de colocar sua vontade quando você está vendo que uma coisa errada está acontecendo. Os filmes são bastante incisivos em relação a sua mensagem. Nesse caso, os dois filmes são muito bons e o remake norte-americano não deixa nada a desejar, e ele ainda é diferente e complementar. Pra mim, vale muito a pena porque eu gostei muito da maneira como eles conduziram a história na versão norte-americana.
Enquanto no filme dinamarquês a história mostrava o casal de uma forma mais apática e aceitando tudo, o filme norte-americano é mais combativo ao colocar os dois lados meio que em pé de equilíbrio, criando premissas e possibilidades estimulantes. Diferentes e complementares, como eu disse, porque dá uma roupagem nova para a ideia original, e ainda oferece algum grau de catarse e salvação que não havia antes. Por isso que eu digo que os dois filmes meio que se complementam e, por isso mesmo, eu indico fortemente os dois. Não Fale o Mal é um filmão de suspense psicológico, com um jogo emocional de puxa e empurra que é enervante e muito bem-construído.
Redes Sociais