Pecadores (2025), Ryan Coogler.
Ouça sobre o filme: podcast
Um filme magistralmente dirigido por Ryan Coogler, do filme Pantera Negra, e muito bem interpretado por Michael B. Jordan em dose dupla. Pecadores conta a história de irmãos gêmeos que retornam para o sul dos Estados Unidos depois de um período de guerras. Eles trabalham com criminosos e gângsteres numa tentativa de deixar suas vidas problemáticas. De volta à sua cidade natal, os irmãos decidem abrir um bar noturno que promete trazer muita música e alegria para a cidade e sua população, trazendo consigo seu primo Sammie, um garoto ainda muito jovem que é um músico incrivelmente talentoso.
Na cidade, diversos outros personagens se destacam. Annie é um antigo relacionamento de Fumaça, um dos irmãos, e tem grandes conhecimentos sobre o sobrenatural e o oculto, além de ser uma excelente cozinheira. Mary é ex do Fuligem, uma personagem que tem grande força, mas nunca conseguiu superar completamente o término do seu relacionamento. E temos ainda o músico Delta Slim, que traz um misto de lucidez e alívio cômico para a história desses dois irmãos numa saga que começa de uma maneira e termina completamente de outra.
Aos poucos, o filme vai apresentando a cidade natal dos irmãos e a história daquele lugar no sul dos Estados Unidos durante a Era das Leis de Jim Crow, uma época conhecida por sua segregação racial, de muitas dificuldades e desigualdades, em que os negros ainda enfrentavam as consequências e as terríveis cicatrizes deixadas pela escravidão numa sociedade que ainda vivia fortemente baseada nas plantações de algodão enquanto ainda precisava lidar com os horrores e o medo provocados pela Ku Klux Klan.
Toda essa narrativa é habilmente entrelaçada por Ryan Coogler com seu elenco fenomenal numa história extremamente bem contada e bem desenvolvida, que mistura entretenimento com a pura arte do que é fazer cinema. Uma cena em especial é espetacular, que mistura passado, presente e futuro de uma forma que me deixou extasiado. A cena é muito estranha e, ao mesmo tempo, maravilhosa e perfeita, totalmente impulsionada pelo espírito da música e pela maneira como a música é tratada na história, com muito blues, muita mística ao redor do blues e de suas conexões com as forças sobrenaturais e com o espírito dos tempos, algo que sempre foi muito falado e trabalhado nas lendas sobre esse estilo de música norte-americano. O blues impulsiona uma trilha sonora extremamente eficiente e emocionante que só contribui ainda mais para o impacto que o filme causa.
Pecadores na verdade é muitas coisas: um filme de drama, um filme de época, um filme sobre questões sociais e um filme que te faz refletir, mas também é um filme de terror, muito bem-construído, com uma atmosfera horripilante e sombria que vai crescendo aos poucos, de uma maneira que, como eu já disse, começa de uma forma e termina de outra completamente diferente. É inusitado, inesperado e emocionante, com muito sangue, muito fogo e muita mística. E o melhor de tudo: é um filme perfeitamente original, escrito, produzido e dirigido por Ryan Coogler, uma demonstração clara da paixão do diretor pelo cinema. O filme é pura arte. A cena do passado, presente e futuro é uma bela manifestação de como o cinema ainda tem um poder de inspirar e construir grandes histórias e narrativas através puramente da imagem e da música.
Essa obra-prima do Ryan Coogler já é um dos meus filmes favoritos da vida, que vou ver e rever e escutar muitas vezes ainda. A trilha sonora é fantástica e apaixonante. E o filme ainda conta um elenco incrível além do Michael B. Jordan, com o estreante Miles Caton, Wunmi Mosaku, Hailee Steinfeld e Delroy Lindo interpretando personagens incríveis numa história incrível que eu gostei pra caramba. Pecadores é estranho, desafiador e extremamente maravilhoso. Uma experiência cinematográfica sangrenta e emocionante. E um dos melhores filmes que eu assisti nos últimos anos.
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