Rio Comicon 2011

Rio Comicon

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Mais uma Rio Comicon. Neste ano, como no ano passado, a convenção aconteceu na antiga estação ferroviária da Leopoldina, aqui no Rio. O lugar estava adequadamente caracterizado para receber os fãs ávidos por quadrinhos. E a atmosfera era acolhedora. Quadrinistas nacionais e internacionais e fãs circulavam livremente e confraternizavam uns com os outros, como tinha que ser. A proposta vai sendo bem desenvolvida, afinal a ideia é aumentar a visibilidade dos quadrinhos e, especialmente, dos artistas brasileiros.

Fomos agraciados como uma exposição fabulosa dos originais de Will Eisner, um dos mais importantes nomes das histórias em quadrinhos. Fiquei feliz em ver os desenhos de A Força da Vida (1988), uma das obras dele que mais gosto. Durante a exposição, ainda era possível acompanhar a exibição de filmes relativos ao quadrinista: The White Whale (curta-metragem), Will Eisner Profissão Cartunista (1999), Will Eisner – Portrait of a Sequential Artist (2007) e The Spirit (2008). Também estavam em exibição os originais de Guido Crepax.

O evento também contou com várias oficinas e com o I Colóquio Internacional de Filosofia e Quadrinhos, que, entre outras coisas, se propôs a discutir temas contemporâneos como arte e política na realidade e na ficção, narrativa visual e estruturação de desenhos.

Outro destaque é a exposição de mangá da Clamp, as quatro quadrinistas japonesas que dominam o mundo dos mangás há anos com suas obras maravilhosas. A exposição acompanhava o desenvolvimento das mangakás desde o começo com RG Veda (1989… adoro!) até os mais atuais como xxxHOliC (2003). Os painéis estavam bonitos e com textos rápidos de ler. Eu sempre gostei das histórias da Clamp, desde que o anime Guerreiras Mágicas de Rayearth (1994) começou a passar na TV aberta. Foi bom ler a trajetória delas nos painéis. Só é uma pena que os organizadores não trouxeram uma das meninas para o evento. Teria sido um espetáculo! Quem sabe no próximo.

No centro da estação, assim como no ano passado, ficavam os painéis da tradicional exposição dos artistas brasileiros, americanos e europeus convidados. Foi uma boa para ver os previews de novos projetos dos quadrinistas brasileiros e conhecer os trabalhos de alguns artistas convidados. Eu não conhecia nada da Junko Mizuno e ela é uma graça de pessoa.

Dos artistas nacionais, uma novidade foi a presença de Rafael Albuquerque, das HQs Mondo Urbano (2008) e Vampiro Americano (2010, em parceria com Stephen King). Ele estava lá divulgando também seu novo folhetim (que parece interessante) Tune 8 (2011). Outros nomes que marcaram presença foram Roger Cruz, Rafael Grampá, os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, Danilo Beyruth, Érica Awano, entre outros.

Rafael Grampá ainda promoveu um painel sobre o vindouro filme nacional baseado na HQ Mesmo Delivery (2008). Junto com o diretor Mauro Lima (de Meu Nome Não é Johnny, 2008), o quadrinista falou um pouco sobre suas pretensões para o longa-metragem. Segundo ele, o roteiro ainda está sendo concebido e o projeto está em estado embrionário ainda. Porém, ele se mostrou animado com as possibilidades. Grampá e Lima falaram sobre suas ideias para converter a história do quadrinho para a telona, uma tarefa não muito fácil. Como a HQ é curta, sua premissa deve ser usada somente como introdução para a história. O restante será desenvolvido no roteiro de forma inédita. O próprio Grampá está envolvido no projeto e cuidando do roteiro, o que dá algum alento para os fãs. O artista falou ainda sobre as possíveis mudanças que podem ocorrer na trama. De fato, alguns elementos (como o Diabão, por exemplo) podem ser trabalhados de forma mais sutil e subentendida. Para Grampá, usar elementos muito fantásticos no cinema brasileiro é mais complicado do que no cinema americano, pois os recursos para efeitos visuais são menores e o olhar do público brasileiro tende a ser um pouco mais distanciado da fantasia. Além disso, o próprio quadrinista prefere que relações entre bem e mal sejam mais implícitas do que com anjos e demônios aparecendo abertamente. E o diretor pareceu concordar com o companheiro. Rafael Grampá e Mauro Lima ainda falaram que pretendem apresentar cenas de ação condizentes com que se vê no quadrinho e, mais importante, não pretendem pegar leve na violência. Segundo o diretor, a classificação para o filme será alta, bem alta.

Dentre os artistas internacionais, vários nomes como Dan Goldman, Ulli Lust e Bob Schreck (este último perambulava serelepe como um turista pelo evento... um cara muito simpático). O grande nome, no entanto, era Chris Claremont, homem responsável por transformar os X-Men num fenômeno e pela criação de alguns dos maiores super-heróis da Marvel Comics. Claremont perambulou pela feira, deu autógrafos e tirou fotos na maior cordialidade. Também participou de uma palestra que foi realmente empolgante e repleta de respostas sensacionais a perguntas que, muitas vezes, queriam fazê-lo comentar dos anos que passou fora da Marvel. O cara já é experiente nessas coisas e em nenhum momento foi pego desprevenido. Respondia tudo com firmeza, inteligência e de forma a não deixar espaço para repercussões desnecessárias. No mais, falou sobre seu trabalho, seu processo criativo e especialmente sobre os X-Men (que também dominaram as perguntas da galera). No final, Claremont até tocou no assunto Marvel, mas, até nisto ele foi esperto, pois só o fez para promover uma história antiga que ele tinha deixado na gaveta por mais de vinte anos (por veto da editora) e, agora, estava retomando para ser publicada em 2012. Dentre suas declarações, foi realmente uma surpresa escutar da boca dele que existia um projeto para um filme dos X-Men que envolvia um roteiro dele próprio, com produção de James Cameron e direção de Kathryn Bigelow.

A convenção não estava tão cheia quanto no ano passado, mas estava bem organizada e o espaço estava melhor distribuído. O número reduzido de pessoas pode ter sido por causa das provas do Enem, que estavam acontecendo no mesmo fim de semana do evento. Ou pode ter sido o fato de que os ingressos estavam mais caros do que no ano passado, que aumentou para R$ 20,00 (com direito a meia).

No saldo final, a Rio Comicon 2011 foi bem-sucedida. Teve novidades e bons momentos proporcionados aos fãs de quadrinhos. Foi gostoso e divertido.