Titanic

Titanic

Titanic

Titanic (1997), James Cameron.

Eu sou apaixonado por Titanic! É um dos maiores filmes do cinema, inspirado no navio monumental que afundou no Atlântico Norte nas primeiras horas da madrugada de 15 de abril de 1912 e matou cerca de 1500 das 2200 pessoas a bordo. O naufrágio até hoje é considerado o pior da história. Um filme sobre a tragédia tinha que ser inesquecível. E é, de fato, inesquecível! Na época que lançou, em 1997, foi uma febre. Aqui no Brasil, estreou um ano depois, e ganhou os corações do público. Titanic tornou-se um fenômeno de bilheteria quando estreou. Foi indicado a 14 prêmios no Oscar e venceu 11 prêmios, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Eu assisti no cinema algumas vezes, depois revi mais algumas na fita VHS dupla e na televisão. É um filme pelo qual tenho muito carinho, que me marcou e até hoje me emociona.

Em 2012, o filme foi relançado nos cinemas em 3D, exatamente quando a história do naufrágio completou 100 anos. Uma curiosidade é que ainda nos anos 1990, Titanic foi planejado para usar a tecnologia, que na época não tinha o potencial que tem hoje. Mas James Cameron era um visionário e já imaginava as possibilidades. Construiu sua obra tendo isso em mente. Na época, as salas de cinema também não tinham o preparo que têm hoje. Os anos passaram, Cameron produziu Avatar (que já estava sendo pensado quando Titanic estreou) e ajudou a conceber a tecnologia 3D como é usada atualmente.

Mais do que tudo, Titanic foi feito para ser visto no cinema, na tela grande! E de vez em quando, é exibido em festivais de cinema e eventos especiais. Se estiver passando, recomendo fortemente. O valor da obra está também no fato de que este é um tipo de um tipo de cinema que não se vê muito hoje em dia. Fiquei fascinado quando assisti nos anos 1990 e ainda hoje me encanto quando tenho a oportunidade de rever, especialmente quando posso fazê-lo no cinema.

Titanic é muito sobre esta simples sensação de estar apaixonado. Assistir a esta história é como embarcar numa viagem pelo tempo e é o mais próximo que provavelmente vamos chegar do convés do transatlântico há muito perdido. Meticuloso nos detalhes, grandioso em extensão e ambição, é o tipo de evento cinematográfico que, como eu disse antes, tornou-se raro hoje em dia. Não foi um filme para ser simplesmente assistido, mas para ser vivenciado, especialmente pela forma como começa, numa espécie de documentário que nos leva à sepultura do navio, mais de dois quilômetros abaixo da superfície.

Há o inteligente uso de imagens documentais verdadeiras na construção do cenário da história. Cameron chegou ao ponto de levar sua equipe ao local do naufrágio para fazer sua própria filmagem. As tomadas embaixo d’água que aparecem na abertura aumentam a credibilidade. Eu admito que em 1998, eu saí do cinema querendo saber se Jack e Rose tinham realmente existido. E na naquela época, você não tinha um Google ao alcance dos dedos pra pesquisar logo quando saía da sessão.

Antes mesmo de chegar a esta história, Cameron já aspirava à grandiosidade com produções de excelente técnica como Aliens, O Segredo do Abismo, Exterminador do Futuro 2 e True Lies. Cada um desses filmes foram aperfeiçoando o processo de efeitos visuais do cineasta até atingir o ápice que foi Titanic. Cameron simplesmente recriou o lendário navio em toda sua imponência, de tal forma que mesmo hoje é difícil separar na tela o que real do que não é. Ele construiu algo totalmente novo, elaborou uma viagem trágica de amor e perda e foi extremamente bem-sucedido.

Claro que os efeitos especiais sozinhos jamais sustentariam o sucesso de um filme. O que marcou Titanic foi a história envolvente repleta de personagens apaixonantes. Cameron sempre foi de colocar seus personagens acima de suas maravilhas tecnológicas. Aqui não foi diferente. Ele usou os efeitos visuais para servir ao roteiro, não o contrário. O momento do naufrágio é um espetáculo à parte, mas o núcleo formado pelo casal principal é o verdadeiro Coração do Oceano.

O filme é uma impressionante mistura de gêneros que deu certo. Romance, aventura, drama, suspense, tudo impulsionado por momentos de humor despretensioso, paixão, tragédia, intensidade e beleza. Os personagens tornam-se na trama quase tão lendários quanto a lenda do navio, mas ainda assim são apresentados com humanidade e nuances de personalidade que despertam nossa empatia. Eles são tridimensionais, você acredita neles, torce por eles, ama com eles, sofre com eles.

Quem nunca quis ter uma Rose ou um Jack na vida?! Cameron nos deu ainda a capacidade de sonharmos com uma idealização de seus personagens. Não é qualquer um que faz isso. O diretor recriou a catástrofe em toda a sua grandeza e, mesmo assim, em nenhum momento, o evento diminui ou apaga seus protagonistas. Durante toda a tragédia, nós acompanhamos apreensivos e nos preocupamos com o destino de Jack e Rose.

O enredo, na verdade, não começa em 1912, mas nos tempos modernos, com a expedição liderada por Brock Lovett, um caçador de recompensas que está procurando um diamante lendário que supostamente afundou com o navio. Depois de ver uma reportagem sobre a missão de resgate, uma mulher de 101 anos entra em contato com Brock dizendo ter informações sobre a joia. Ela é Rose DeWitt Bukater, sobrevivente da tragédia, que mudou de nome após o naufrágio e, por isso, viveu desconhecida até aquele momento da vida. Mas, ao encontrar com o caçador de recompensas, ela revive o passado e nos apresenta uma das mais bonitas histórias já contadas, uma história capaz de derreter até os corações mais frios, como faz com o próprio Brock no final.

Assim, chegamos ao dia da partida do RMS Titanic, rodeado de pessoas e expectativas. A bordo estão a própria Rose, uma jovem mulher presa a um noivado sem amor por causa de motivos financeiros da mãe; Cal Hockley, o noivo rico e inescrupuloso; e Jack Dawson, um artista pobre que ganhou seu bilhete de terceira classe em um jogo de pôquer.

Jack e Rose são extremos opostos: um é livre e solto como um pássaro, enquanto a outra vive presa numa gaiola cujas grades são as supostas convenções sociais do meio supostamente nobre em que está inserida. Jack surge para libertá-la destas amarras. Sempre despreocupado, ele não tem medo de se jogar nas coisas e deixar a vida levá-lo. Aos poucos, Jack e Rose se aproximam e ficam mais íntimos. E, enfim, ela aprende a se jogar também. Não é uma história inovadora. É um clichê clássico, um clichê, aliás, bastante comum na vida cotidiana. Não é fácil se deixar levar pela vida com todas as coisas que nos preocupam no dia-a-dia. Mas este sentimento de liberdade é tão necessário quanto as preocupações. Jack e Rose expressam o caminho do equilíbrio entre ambos. E, por isso, são ainda mais adoráveis juntos.

Enquanto o relacionamento dos dois caminha, vamos conhecendo algumas outras peças da trama como a mãe de Rose, Ruth, que não aprova as atitudes da filha, e a inafundável Molly Brown, uma emergente na nobreza que ajuda o casal e que foi inspirada numa sobrevivente real do naufrágio. Quando as consequências do triângulo amoroso entre Jack, Rose e Cal atingem um limite, o Titanic bate num iceberg e o “inafundável” navio começa a afundar – na época, o RMS Titanic foi alardeado como sendo um navio inafundável e tornou-se uma prova irrefutável do quão perigoso pode ser a prepotência humana.

Ao manter o foco em Jack e Rose, James Cameron evitou uma falha comum aos filmes sobre desastres épicos: muitos personagens e muitas subtramas. Em Titanic, o casal protagonista é o foco do início ao fim, não há desvios. Os coadjuvantes estão ali como apoio e apenas isso. Esta sagacidade narrativa é também o maior mérito do filme.

E para os papéis de Jack e Rose, o diretor ainda escolheu dois dos melhores atores jovens da época. Leonardo DiCaprio conseguiu ser charmoso e cheio de energia na medida certa para estabelecer seu personagem como herói. Kate Winslet teve uma de suas melhores atuações no cinema, com um misto invejável de beleza e vulnerabilidade. A química entre os dois foi perfeita. Tanto que a cena do beijo na proa do navio é uma das mais tocantes cenas de beijo do cinema. Não é à toa que se tornou icônica. A química entre DiCaprio e Winslet era tão grande porque eles se tornaram grandes amigos e são grandes amigos até hoje, tanto que estão sempre juntos em eventos cinematográficos e sempre mostram que se dão muito bem. Não é algo que se vê todo dia. É lindo!

Há ainda os efeitos visuais, especialmente durante a última hora, quando enfrentamos a agonia de ver o navio afundando. O filme funciona não apenas como uma corrida perturbadora para fugir dos corredores inundados do navio, mas também é uma prova da capacidade do cinema de simular a realidade, já naquela época. As sequências do Titanic naufragando estão entre as mais maravilhosas já feitas, com níveis de detalhes de brilhar os olhos.

Por fim, a trilha sonora, que merece um destaque. Titanic tem uma trilha incidental envolvente, que embala agradavelmente o romance entre os protagonistas. Nos momentos dramáticos, ela conduz a tristeza dos acontecimentos, causa certa melancolia, desperta emoções como só um bom filme é capaz de despertar. A canção “My Heart Will Go On”, da Celine Dion, é perfeitamente adequada à história. Muitos sempre criticaram a música, principalmente porque nos anos 1990 o MP3 não tinha a força que ganhou nos anos 2000, e nós escutávamos rádio com mais frequência. A música foi tocada à exaustão por quase todas as rádios da época. Sim, o excesso saturou. Mas ainda é uma música bonita, que inspira a paixão do filme.

Eu admito, sou uma pessoa naturalmente apaixonada. É parte de quem sou e eu não luto contra isso nem tento ser diferente. Me apaixono fácil, me envolvo fácil, me jogo fácil. E o cinema mexe comigo como poucas coisas na vida. Titanic é um destes casos. É sobre paixão e estar apaixonado, sobre fazer de tudo por essa paixão. Não só paixão entre um homem e uma mulher, mas paixão pela vida, por vivê-la. O filme não é só memorável pelo estilo e exuberância de sua execução. É memorável pelo que representa, pelos sentimentos que inspira. É preciso ser muito frio ou esnobe para ficar alheio a Titanic. E, de fato, talvez seja um outro bom motivo para retornar ao filme de tempos em tempos. O mundo hoje é muito frio e precisa de um pouco mais de calor, de paixão… precisa que as pessoas se joguem um pouco mais em suas paixões. Se você pular, eu pulo, lembra?