Assalto à 13º DP (1976), John Carpenter
Um grande filme de ação e suspense que é uma das primeiras obras de um dos meus cineastas favoritos, John Carpenter. O melhor do filme é como sua história de cerco urbano pega referências de faroestes e filmes de terror com zumbis. O próprio diretor já confirmou que se inspirou nos filmes Rio Bravo, de Howard Hawks, e A Noite dos Mortos-Vivos, de George A. Romero. De fato, parece uma mistura entre ambos. Muitos elementos — como a estranheza da trama e a ambiguidade dos personagens — já mostravam um pouco do caminho que seria traçado pelo diretor no futuro.
A história é centrada no 13º Departamento de Polícia, um distrito localizado num bairro afastado do centro urbano que está prestes a ser desativado. No último dia do distrito, o tenente Ethan Bishop (Austin Stoker) é transferido para o local, onde deve cuidar das coisas até a manhã seguinte, quando a delegacia será desativada definitivamente. No meio da noite, um ônibus policial transportando presidiários pede para fazer uma parada no lugar por motivos médicos, sendo que o ônibus transporta um criminoso famoso chamado Napoleon Wilson (Darwin Joston). Em outro lugar do bairro, um homem vê sua filha ser assassinada por membros da terrível gangue Cholo e se vinga matando um dos assassinos. Os demais membros da gangue, em busca de vingança, perseguem o homem, que foge desesperado e se refugia na delegacia. Como consequência, centenas de bandidos cercam a delegacia e declaram guerra contra todos lá dentro. Junto com outros policiais e até mesmo os presidiários trazidos no ônibus, Bishop luta para defender o lugar e o homem que lhe pediu ajuda, custe o que custar.
Você deve ter percebido que nesse único filme de aproximadamente uma hora e meia existem várias subtramas entrelaçadas à narrativa principal: o fechamento da DP, o homem que vê a filha ser morta, e o destino de Napoleon Wilson. As circunstâncias vão se estabelecendo aos poucos, num ritmo lento inicialmente, até se cruzarem no ponto em que tudo fica fatalmente crítico — quando a delegacia é invadida pelos cholos.
A abordagem cuidadosa dessas subtramas concede uma alma única à história ao reforçar a capacidade do homem para o heroísmo, não importa a adversidade. Bishop não tem dúvidas em proteger o homem que veio lhe pedir ajuda, mesmo sem saber de todos os fatos. Ele apenas faz o que acha certo, assume suas responsabilidades e inspira os outros a segui-lo naquela dura batalha. Um verdadeiro herói! Sua presença de espírito é tamanha que até mesmo um criminoso cínico como Wilson sente-se inclinado ao heroísmo. Quando os dois protagonistas decidem trabalhar juntos, as coisas atingem o auge!
Bishop e Wilson, apesar de estarem em lados opostos, possuem semelhanças de caráter e desenvolvem certa camaradagem à medida que tentam proteger a delegacia sitiada. A relação dos dois é mostrada sem maniqueísmos e de forma crível. Você inevitavelmente se vê torcendo para que eles dois juntos resolvam aquela situação e sejam devidamente recompensados por isso, não importa como. A sequência final num corredor é de dar inveja nos 300 de Esparta!
Os atores colaboram muito com essa empatia estabelecida pelos personagens. Austin Stoker chama atenção com um personagem estoico e digno de respeito por seu brio moral. Darwin Joston é mais despojado e sua obsessão por cigarro — um traço comum aos personagens fora-da-lei de Carpenter — proporciona momentos divertidos. Soma-se a eles a presença marcante da atriz Laurie Zimmer, como a policial badass Leigh.
O mérito da produção torna-se ainda maior se considerarmos a falta de experiência do diretor na época e a falta de recursos. O que John Carpenter conseguiu fazer aqui com o pouco que tinha à disposição foi no mínimo heroico. Um mérito que até mesmo torna irrelevante alguns coisas inexplicáveis do enredo — até hoje me pergunto como os caras da gangue conseguiram ser tão rápidos pra limpar a pilha de cadáveres caídos na rua depois do tiroteio pós-cerco. Ah, e onde foi parar todo o sangue espirrado durante o ataque?! Como eu disse, meros detalhes.
O ritmo da trama é ainda estimulado pela edição, com cortes secos e tomadas longas que combinam com o estilo cru do filme e ainda lembram um pouco a forma dos velhos filmes de faroeste — por motivos óbvios. Porém, depois que o cerco à delegacia começa, as sequências se tornam mais frenéticas e violentas, com um ar mais de filme policial típico de sua época (anos 70).
Acrescente a isso a trilha sonora minimalista e sombria e cenas fechadas com um bando de homens ensandecidos tentando invadir o lugar pelas portas e janelas. É mais tenso do que estar preso numa casa cercada por zumbis. Por quê?! Por causa do realismo da situação! Os membros da gangue não são monstros fantásticos; são pessoas de carne, osso e pura vilania. Às vezes o que um humano pode fazer por ódio é mais aterrorizante do que aquilo que um monstro pode fazer por cérebros.
Assalto à 13º DP merece o respeito que guarda até hoje como um filme tenso, assertivo e chocante — uma lição de como produzir um filme de qualidade com uma história simples e poucos recursos. Mais do que isso, merece respeito por mostrar dentro e fora da tela o verdadeiro significado da palavra heroísmo.
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