O Enigma de Outro Mundo (1982), John Carpenter.
Um dos filmes mais lembrados do John Carpenter. E com razão! Porque é um clássico do horror de ficção científica. O próprio John Carpenter fez seu nome com filmes nesse estilo, como A Bruma Assassina, Halloween, O Príncipe das Sombras, Cristine o Carro Assassino.
O Enigma de Outro Mundo, uma refilmagem de O Monstro do Ártico (1951), equilibra perfeitamente um enredo intenso com um teatro de marionetes de dar medo. O filme conta sua história numa estação de pesquisa isolada no meio da Antártida. Além da paisagem esbranquiçada pela neve, de uma frieza perturbadora, o ambiente apertado da estação torna tudo mais claustrofóbico. Soma-se a isso uma criatura alienígena que tinha a capacidade de absorver animais ou humanos e assumir sua aparência. A paranoia que nasce dessa realidade ampliava toda a sensação de horror.
O Enigma de Outro Mundo tem como protagonista o piloto de helicóptero R.J. MacReady (Kurt Russell, repetindo sua parceria com Carpenter numa atuação mais contida do que o habitual, porém forte como de costume), que vive na estação com cerca de outros dez homens. Tudo começa quando um cientista norueguês de outra instalação de pesquisa há quilômetros de distância aparece na estação de MacReady tentando matar um cachorro. MacReady e outros residentes da estação matam o homem em defesa própria e acolhem o cachorro. No entanto, eles não sabem que o cachorro traz consigo uma entidade alienígena perigosa que pode absorver organismos vivos e se transformar neles. Quando os companheiros de MacReady começam a ser assimilados pela coisa (como eles a chamam), imediatamente cria-se discórdia e desconfiança entre eles, pois ninguém está a salvo e ninguém consegue saber ao certo quem é humano, quem é alienígena. Mesmo assim, eles lutam para tentar impedir que a coisa escape da Antártida e se alastre pelo mundo.
A ambientação no continente gelado por si só já é uma grande qualidade do filme. O cenário imenso e totalmente tomado pelo branco mostra-se essencial para a sensação de isolamento e paranoia na qual toda a proposta é fundamentada. Além disso, o contraste da estação no meio do nada reforça um conflito mais sutil da história: o homem versus a natureza — especialmente se levarmos em consideração que a coisa não é exatamente uma criatura, mas um organismo microscópico que assimila outras criaturas, mais ou menos como um vírus.
O filme usa esse contexto para disseminar a praga alienígena pela estação, nos prendendo totalmente na perturbação mental e angustiante que se alastra junto com a coisa, uma vez que, assim como os residentes da estação, não sabemos em que personagem confiar. Nem mesmo MacReady escapa dessa desconfiança. A coisa mais apavorante aqui é ser ou não ser humano.
Mas as impressões mais duradouras são, com certeza, as transformações provocadas pela coisa num espetáculo de efeitos visuais. Quando algum animal ou humano é assimilado, passa por uma mutação grotesca, apresentada com um jogo de marionetes impressionantemente bizarro. Os órgãos pulsantes, os inchaços corporais, os tentáculos, os dentes deformados, imagens ferozes que são inesquecíveis. Eu mesmo, assisti a esse filme quando era criança e ainda me lembrava das transformações. E mesmo ao rever, é como se estivesse vendo naquela época de criança ainda bastante impressionável. É o puro sangue do horror das décadas passadas.
A revelação sobre as origens da coisa é sutil e intrigante. Nunca sabemos ao certo o que é aquilo. Mas impulsionado pelas atuações providenciais de todo o elenco e pela trilha sonora aguda, esse mistério torna a paranoia é maior. Sem dúvidas, John Carpenter conseguiu reunir com maestria os elementos necessários para transformar esse horror científico em algo tão fenomenal e contagioso quanto sua coisa.
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