Army of Darkness (1992), Sam Raimi.
Depois do quase reboot com Evil Dead II, a série de filmes de terror continuou com Army of Darkness, que aqui ficou conhecido como Uma Noite Alucinante 3. É um filme sensacional de uma forma totalmente diferente e, bem... alucinada.
De toda a série, Army of Darkness é o mais galhofa de todos. Não é um filme de terror pleno, com doses cavalares de comédia louca, que parecia tirar influências da veia cômica do Monty Python, misturada com efeitos especiais no melhor estilo Ray Harryhausen — responsável pelos efeitos especiais stop-motion de Fúria de Titãs (o original) e Jasão e os Argonautas. Os esqueletos de stop-motion são muito toscos, mas também são muito engraçados.
Na trama divertidamente non-sense, nosso herói fanfarrão Ash (Bruce Campbell) está no passado, pelos idos de 1300, sugado para lá por um vórtice temporal aberto no final de Evil Dead II. Assim como no filme anterior, a história começa com uma sequência de flashback reencenado que mostra como Ash abriu o portal e foi sugado para o passado. Algumas coisas vistas em Evil Dead II são abstraídas nesse flashback, fato comum à forma narrativa da franquia. De repente, Ash se vê cercado por cavaleiros (praticamente saídos de Monty Python e o Cálice Sagrado) e precisa lutar contra um exército de mortos-vivos para salvar o mundo medieval. Algo que o deixa bastante irritado, afinal, ele não é um herói.
Bruce Campbell aparece em sua melhor forma e é por cauda dele que Army of Darkness alcançou seu status merecido de cult, porque Campbell transforma o filme num mega épico da galhofa! Ele tem até mais falas nesse filme, e se revela um verdadeiro falastrão. Ele também está mais engraçado, e mais arrogante, e mais anti-heroico, e mais fanfarrão, e mais groovy!
Por ser tão diferente, Army of Darkness não usa o nome Evil Dead, e durante um tempo havia certa relutância de Sam Raimi e Bruce Campbell em assumir Army of Darkness como parte do Evil Dead. O filme, aliás, teve muitos nomes originais, como Bruce Campbell vs. The Army of Darkness ou The Medieval Dead (numa sátira interessante com a sonoridade de Evil Dead aplicada ao fato de ser uma história medieval, e que teria sido um nome maneiro). Mas, se tem o Ash, é Evil Dead, e não importa o título.
O roteiro tinha apenas 43 páginas, e foi feito como parte de um acordo de produção com a Universal depois do sucesso com Darkman, também dirigido pelo Sam Raimi. O problema é que a Universal não gostou do final que Raimi havia planejado para Army of Darkness e ele teve que mudar para o final mais conhecido, que é aquele com o Ash na loja de departamentos. No final original, Ash, na verdade, ficava em animação suspensa numa caverna e acordava num futuro pós-apocalíptico — esse final foi disponibilizado em algumas versões do DVD fora dos Estados Unidos, e você pode assistir clicando aqui. É bem maneiro!
Army of Darkness também mantinha aquela mesma inventividade lúdica para efeitos visuais dos filmes anteriores. Dentre as sequências mais impressionantes está o confronto de Ash com vários Ashes em miniatura que brotam dos cacos de um espelho quebrado. Ash é aprisionado pelas criaturinhas e forçado a engolir um deles. Logo depois, membros começam a brotar do ombro de Ash, de onde nasce (da forma mais grotesca) um gêmeo maligno. Ash e o Evil Ash se enfrentam, Ash estoura o maxilar do Evil Ash com a espingarda, e o enterra. Mais tarde, o Evil Ash volta, deformado, liderando um exército de esqueletos com o objetivo de roubar o Necronomicon e conquistar o mundo medieval. Evil Ash é um vilão toscão sensacional! Não é à toa que até hoje é muito lembrado.
Army of Darkness reforçou as grandes diferenças que existiam entre os filmes da franquia Evil Dead, e estas diferenças parecem refletir as mudanças do próprio cinema de terror ao longo das décadas. Nos anos 70 e 80, o terror era mais agressivo e sombrio (Evil Dead, o primeiro), no final dos anos 80 ganhou toques de humor (Evil Dead II), e nos anos 90 assumiu uma faceta mais terrir do que terror (Army of Darkness).
Como diria o próprio Ash no final mais conhecido:
“Claro que eu podia ter ficado no passado, mas do meu próprio jeito, eu sou rei.”
“Salve o rei, baby!”
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