Arraste-me para o Inferno (2009), Sam Raimi.
Um filme sensacional de terror que é muito mais do que um filme de terror. Na época de sua estreia, foi o retorno de Sam Raimi ao gênero que o consagrou depois de sua experiência de sete anos com os três filmes do Homem-Aranha. Hoje, está no rol das obras bem-sucedidas de Raimi, não só por ser um excelente retorno ao terror, mas por ser um filme com a cara do Sam Raimi, tão carregado com aquela atmosfera maníaca de Evil Dead II e Army of Darkness que poderia, até mesmo, ser considerado parte do universo ficcional de Evil Dead.
O filme, que começa com o logotipo antigo da Universal antes dos créditos iniciais (retorno às origens total), é centrado em Christine Brown (Alison Lohman), uma agente de empréstimo de banco que, tentando impressionar seu chefe, nega crédito a uma mulher idosa chamada Sra. Ganush (Lorna Raver). A mulher, desesperada por estar sendo despejada de sua casa, se ajoelha suplicante para Christine, implorando que ela reconsidere. Christine se recusa a ajudar e, furiosa, a velha lança nela uma maldição. Depois disso, a vida de Christine vira de cabeça para baixo à medida que ela começa a ser atormentada por um Lamia, um espírito maligno que deseja arrastar sua alma para o inferno — aparentemente inspirado numa mistura do Baphomet associado à história dos Templários e do monstro Lâmia da mitologia grega. Christine tenta desesperadamente escapar da maldição, antes que seu tempo acabe e o demônio surja para buscá-la.
O enredo, assim como em Army of Darkness, é simples e sem grandes pretensões. Raimi parece estar apenas se divertindo, com o único intuito de fazer terror pelo terror com uma história de fantasmas sangrenta e repugnante. Aliás, é impressionante como Raimi sabe fazer um filme repulsivo — que o diga a velha Sra. Ganush, bizarra até depois da morte! O filme tem momentos de crítica social e suas reflexões sobre o comportamento humano, e às vezes lembra um episódio de Além da Imaginação. Aqui, simplicidade é a alma do negócio, e o negócio aqui é, de fato, a alma.
Alison Lohman é perfeita com sua Christine ambiciosa e egoísta que acaba sendo transformada pela experiência ruim, uma personagem forte no limiar entre sanidade e loucura.
Arraste-me para o Inferno é o tipo de terror que não tenta provocar sustos o tempo todo. Prefere focar na tensão dos fatos e na sensação paranoica de estar sendo vigiado e perseguido. Raimi cria uma harmonia perturbadora, com movimentos rápidos de câmera, ângulos inclinados (que ele adora usar em seus filmes), cenas escuras e sons ruidosos.
Raimi volta às origens como se fizesse uma paródia de si mesmo. E ele brinca sem se preocupar. O espírito de Evil Dead está em tudo, com muita bizarrice estranha. Ao mesmo tempo, há um humor mórbido que quebra a tensão num estilo meio travessuras dos Looney Tunes, do tipo que atira uma bigorna na cabeça de uma pessoa. E você tem que respeitar alguém que faz uma piada bem-feita de bigorna.
Ainda que não seja tão sanguinolento, o filme tem bastante sangue e nojeira. O sangramento de nariz de Christine é de um non-sense fantástico. E a Sra. Ganush é de dar arrepios com seus vômitos e sua tendência para atrair moscas.
Arraste-me para o Inferno é cinema de terror em sua melhor forma. Vale muito a pena. Nada como ter sua alma arrastada pelo talento infernal de Sam Raimi.
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