Sequências (ou continuações) de histórias nem sempre são concebidas com o objetivo real de continuar uma história previamente contada. Às vezes, a intenção é simplesmente contar uma nova história, com novos personagens, sob um novo ângulo, talvez (mas, nem sempre também) com elementos antigos aplicados a essa nova ideia.
Darker Than Black: Ryuusei No Gemini é um desses casos, uma sequência que não é tão sequência assim. Confuso?! Eu sei, o anime é um pouco confuso mesmo. A segunda temporada do impressionante Darker Than Black não é tão longa (ou impressionante) como a primeira temporada, mas tem seu valor, especialmente por desenvolver um pouco mais o universo dos Contratantes apresentado anteriormente.
Porém, antes de falar sobre Darker Than Black: Ryuusei No Gemini, precisamos falar sobre a série de OAV dividida em quatro episódios que serve como ponte entre a primeira e a segunda temporada, chamada Darker Than Black: Gaiden. Começar a assistir à segunda temporada sem assistir à série OAV é começar uma história com partes essenciais faltando.
Os quatro OAV estabelecem o que aconteceu após a primeira temporada com os personagens Hei e Yin, que abandonaram a Organização e fugiram. A Organização, que naturalmente não tolera desertores, colocou um bando de Contratantes no encalço dos dois, que tentam de toda a forma escapar de seus perseguidores, mudando de um lugar para o outro sem descanso. Durante a fuga, acompanhamos a evolução do relacionamento entre Hei e Yin e como isso afeta a personalidade e os poderes da garota, uma vez que antes ela não passava de uma Doll desprovida de emoções. Yin tem dificuldades de lidar com suas novas emoções e, por isso, seus poderes desestabilizam, tornando-a algo próximo de uma arma viva.
Darker Than Black: Ryuusei No Gemini desenvolve seu enredo basicamente em cima do desfecho de Yin na série OAV, e a própria Yin se torna um elemento importante para a história. Infelizmente, esse acaba se tornando um dos problemas do anime, porque enquanto os elementos antigos fundamentam a trama, o autor tenta trabalhar e aprofundar algo novo, e tenta ligar tudo no final, mas como são poucos episódios, pouca coisa realmente avança ou é resolvida.
A primeira temporada de Darker Than Black tinha deixado muitas questões em aberto, muitas oportunidades para expandir a história numa temporada que parecia essencial. Aquele mundo fantástico de Portões, céu e estrelas falsas, e pessoas com superpoderes envolvidas em intrigas entre governos, cartéis e grandes corporações precisava de um final digno de sua premissa complexa, e no qual, as pontas soltas encontrassem uma resolução. E mesmo sendo complexo, também sabia lidar com o humor. Podia ter terminado com uma temporada, mas quis continuar, e o OAV, de fato, é muito bom, mas a série se estendeu demais. A segunda temporada é boa, mas não tanto. A qualidade infelizmente cai.
A trama acontece pouco tempo depois dos acontecimentos da primeira temporada, e começa com um flashback envolvendo os gêmeos Suou e Shion Pavlichenko, os “gêmeos do meteoro” que dão nome à temporada (Ryuusei No Gemini), filhos de pai russo e mãe japonesa. Os dois estão num momento de lazer com o pai quando um meteoro cai nas proximidades e provoca uma verdadeira devastação, deixando um dos gêmeos gravemente ferido. De volta ao tempo presente da história, Suou é uma menina normal de 13 anos, mas carrega um fragmento do meteoro preso a um colar. De repente, Suou acaba envolvida numa conspiração e começa a ser perseguida. Sob essas circunstâncias de tensão, ela se descobre uma Contratante, e desperta um poder capaz de manifestar um rifle gigante a partir do fragmento de meteoro. Porém, ao contrário do habitual, Suou consegue manter suas emoções, pelo menos parcialmente, não se tornando uma Contratante fria ou cruel (embora tenha lapsos de crueldade às vezes). No geral, ela se mostra como uma adolescente confusa com os problemas que está enfrentando e certos sentimentos que estão surgindo.
Hei, o infame BK-201, ou Shinigami Negro, decaiu bastante após os acontecimentos do OAV, desolado pelo desaparecimento de Yin. Ele se tornou um alcoólatra, que vaga de um lugar para o outro tentando encontrá-la. Aos poucos, o paradeiro de Yin é descoberto, e descobrimos que ela se tornou uma espécie de arma Anti-Contratante. Durante sua busca, Hei acaba esbarrando com Suou e se torna um mentor para ele, ensinando-a a controlar seus novos poderes, junto com Mao, que deixou de ser um gato e agora é um esquilo voador (meio bizarro, mas divertido), e Julho, ex-agente do MI6 que desenvolve uma relação mais afetuosa com Suou.
Noutro lado, Misaki Kiriha, agente da inteligência japonesa (na primeira temporada), foi transferida para uma nova e misteriosa seção de inteligência que está tentando encontrar Hei e obter informações sobre os gêmeos Pavlichenko. Em sua busca, Misaki se depara novamente com Hei, por quem possui sentimentos não correspondidos, e descobre que Yin e Shion (a quem Suou está procurando desesperadamente) são, na verdade, figuras importantes num documento profético sobre um desastre que se abateria no mundo caso essas duas pessoas se encontrassem. Hei, por sua vez, acaba perdendo seus poderes e precisa resgatar Yin como um humano normal.
A trama é razoavelmente complexa, seguindo a vibe da primeira temporada, porém, nessa segunda temporada, Darker Than Black já perdeu um elemento importante que ajudava a primeira: a novidade. Aqui, você já conhece os Contratantes, seu universo, seus poderes e grande parte dos personagens.
As cenas de ação continuam o ponto alto, em grande parte, graças à arte primorosa e à fluidez dos movimentos. Nesse sentido, uma das essências da série se mantém, já que é sempre divertido assistir aos diferentes tipos de Contratantes se enfrentando com os poderes mais variados e os pagamentos mais absurdos. Os poderes, aliás, ganharam um teor mais impressionante. Como a primeira temporada era mais suspense e intimista, os poderes eram mais contidos. Mas, nessa segunda temporada mais fantasia/ficção científica, os poderes se tornaram maiores, alguns são até um pouco exagerados. A criatividade dos poderes continua sendo a melhor coisa da série.
O final do anime é um misto de emoções, principalmente em relação à história de Yin, que termina em aberto demais, com muitas, MUITAS, coisas indefinidas. A impressão é que o autor quis desenvolver vários arcos para expandir e aprofundar a história, se enrolou e se perdeu no caminho. Ainda assim, o final tem bons momentos. A reviravolta no mistério entre Shion e Suou é fantástica!
Darker Than Black: Ryuusei No Gemini é uma boa continuação, não tão forte quanto o primeiro, mas ainda envolvente e divertido. Vale a pena. E fica um destaque também para a música de abertura (Tsukiakari no Michishirube, da banda Stereopony), que tem muito a ver com a Suou e é adorável.
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