O Cavaleiro dos Sete Reinos

O Cavaleiro dos Sete Reinos

O Cavaleiro dos Sete Reinos

O Cavaleiro dos Sete Reinos (1998), George R.R. Martin.

Na Literatura Fantástica, uma das coisas que mais fascina o público é a criação de novos universos, com seus próprios costumes, línguas e história. Muitas vezes a construção desses cenários é tão fascinante que chama a atenção do leitor tanto quanto a trama em si ou seus personagens. E para os fãs, saber mais sobre estes detalhes é um prazer imenso.

Um dos grandes exemplos do acima descrito ocorre na obra de George R.R. Martin. Em As Crônicas de Gelo e Fogo, o passado de Westeros é tão bem descrito que nos faz imaginar que suas histórias podem ser tão interessantes quanto as do presente da narração. E o autor nos dá agora um gostinho desse passado com O Cavaleiro dos Sete Reinos: Histórias do Mundo de Gelo e Fogo (Tales of Dunk and Egg, EUA, 416 páginas, 1998).

Publicado no Brasil em 2014, pela Editora Leya, o livro contém três novelas escritas para diversas coletâneas nos anos de 1998, 2003 e 2010. O curioso é que a compilação delas em uma única obra sai primeiro em terras tupiniquins, com seu equivalente em língua inglesa tendo a previsão de publicação em agosto de 2015.

No livro são mostradas as aventuras de Dunk e Egg– ou Sor Duncan, o Alto e seu escudeiro – e se passam cerca de 90 anos antes dos eventos de A Guerra dos Tronos. Embora “peixes pequenos” no momento das aventuras, ambos são personagens de grande importância para a História dos Sete Reinos, já tendo sido mencionados tanto nos livros quanto na série de TV (e se você não sabe quem são, vamos deixar o gostinho de descobri-los durante a leitura).

Na primeira novela, O Cavaleiro Andante, conhecemos Dunk, um jovem escudeiro que resolve se tornar cavaleiro após o falecimento de seu senhor. Sem dinheiro, resolve participar de um torneio que contará com a presença do rei. No caminho, para em uma estalagem e conhece o garoto Egg, que resolve segui-lo e se torna seu escudeiro, ainda que Dunk relute em aceitá-lo. No torneio, o cavaleiro age de forma nobre para proteger uma garota indefesa e acaba envolvido numa batalha entre nobres e a própria família real. Esta é a melhor das três narrativas. Os protagonistas são interessantes e possuem uma boa dinâmica, e como é comum nas obras do autor, o desfecho é surpreendente e empolgante.

A seguir temos A Espada Juramentada, onde a dupla de heróis oferece seus serviços a um decadente senhor de terras e se envolvem numa disputa sobre a barragem de um riacho em plena época de seca. Como sempre em se tratando de George R. R. Martin, as coisas são mais do que parecem, e logo há uma briga em torno de uma guerra civil ocorrida anos antes, quando dois membros da família Targaryen brigaram pelo trono.

Essa guerra civil é também a premissa da última novela, O Cavaleiro Misterioso. Um torneio para comemorar um casamento entre casas aparentemente menores acaba por se revelar uma conspiração contra o trono – e Dunk e Egg podem estar do lado errado da batalha.

O interessante é que, com estas aventuras, o autor faz diversos questionamentos sobre o que é ser cavaleiro e manter sua ética mesmo diante da adversidade, bem como sobre o que é realmente lealdade. Afinal, numa disputa pelo trono, traidor é apenas quem sai derrotado. Mas isso significa que só havia gente valorosa de um dos lados?

Como aspecto negativo, pode-se citar que em alguns momentos Martin parece estar mais interessado em falar da História de Westeros do que avançar a trama. Se num romance isto funciona, aqui se trata de narrativas mais curtas, e essas intervenções, principalmente na segunda aventura, acabam atrapalhando o ritmo da leitura.

Em compensação, para quem está acostumado aos calhamaços sem fim dos romances, aqui temos as conclusões das tramas em pouco mais de 100 páginas. E sim, o autor é bom também em finais. O que nos dá esperança de que As Crônicas de Gelo e Fogo tenham um final sensacional.

Martin já declarou que possui planos para mais contos destes personagens. Até diria que dá vontade de saber o destino deles (embora já tenha sido revelado, de passagem, nos romances). Mas com tantos pressionando o escritor para terminar os volumes 6 e 7 das Crônicas, o encerramento das aventuras de Dunk e Egg deixaram de ser uma prioridade. O que não significa que sua leitura não o seja. E para os fãs, serve ainda para matar as saudades de Westeros enquanto o próximo livro não vem.