Guardiões da Galáxia (2014), James Gunn.
O primeiro título original da Marvel para a Fase Dois, que também inclui Homem de Ferro 3, Thor: O Mundo Sombrio, Capitão América: O Soldado Invernal e Os Vingadores: A Era de Ultron, e sem dúvida o mais exótico e divertido de todos. Logo nos primeiros minutos de filme fica claro que a Marvel resolveu mesmo abraçar a estranheza de seus personagens, apresentando-os com bastante humor e ação intergaláctica.
A aposta da Marvel Studios era alta, uma vez que até esse momento seus filmes eram baseados em personagens mais conhecidos de seu universo — Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Hulk —, que tinham destaque na cultura pop graças à própria importância desses personagens nos quadrinhos. Os Guardiões da Galáxia, contudo, eram pouco conhecidos quando o estúdio decidiu levá-los para o cinema. Eles eram provenientes das sagas cósmicas da Marvel, construídos basicamente dentro de uma mitologia interna da editora, e não possuíam o mesmo destaque porque eram heróis com super-poderes mais genéricos e sem a mesma criatividade dos heróis principais. Faziam parte de aventuras inspiradas em temáticas da ficção científica que eram populares nos anos 70. Após sofrerem uma grande queda de vendas nos anos 80, acabaram sendo relegados ao segundo escalão da editora. Apenas em 2006, com a saga Aniquilação, e sua sequência em 2008, Aniquilação: Conquista, que os Guardiões se tornaram novamente parte importante do Universo Marvel, aparecendo inclusive com uma nova formação.
Essa nova formação é a que vemos no filme, composta por Peter Quill/Star-Lord, Drax o Destruidor, Gamora, Rocket Raccoon e Groot — com as devidas adaptações para o universo cinemático. — Alguns integrantes importantes dos quadrinhos, como Adam Warlock e Phyla-Vell, não aparecem no filme, mas podem ser utilizados futuramente, já que Guardiões da Galáxia terá uma continuação.
Que bom que a Marvel apostou alto. Guardiões da Galáxia é sensacional! Muito sensacional! Um dos filmes mais divertidos da Marvel e uma space opera que empolga e mostra como assistir a perseguições de naves e combates alienígenas pode ser a coisa mais legal do universo. I am Groot.
O filme é exatamente o que prometia nos trailers: uma aventura especial meio espalhafatosa cheia de cenas de ação espetaculares, personagens bizarros e muito bom humor. Estamos falando de uma equipe liderada por um cara abduzido da Terra, que cresceu entre mercenários mal-encarados que queriam na verdade devorá-lo, e que literalmente dança na frente do perigo. Essa é uma história em que o destino de bilhões de vidas inocentes está nas mãos de indivíduos que mal conseguem conversar sem se insultar — que na verdade preferem atirar ao invés de conversar. — Eles são foras da lei que precisam aprender a ser heróis. Há algo de musical nisso. A música de um MIX INCRÍVEL. Volume 1.
James Gunn impõe sua marca e seu ritmo ao filme de forma surpreendente, especialmente no quesito trilha sonora. São cenas e mais cenas de conflitos e perseguições aéreas conduzidas por grandes clássicos da música dos anos 60/70, indo desde “I’m Not in Love” do 10cc até “I Want You Back” do The Jackson 5. As canções combinam tanto com as situações que dá vontade de bater palma e cantar e dançar junto. No meio do filme. Depois do filme. DIAS depois do filme. Não consigo parar de cantarolar “Hooked On A Feeling”. A música toca na abertura da cena da prisão de Klyn e não sai mais da cabeça.
Além da trilha sonora bem escolhida, Gunn tem bom timing para inserir as piadas. Ele explora qualquer brecha para colocar uma tirada cômica, aproveitando inclusive seus personagens secundários para isso. Ainda assim o diretor consegue estabelecer um bom equilíbrio entre a comédia e a aventura na história, inserindo o humor com sabedoria o bastante para fazer rir sem deixar que seu mundo pareça uma piada. Sua galáxia é exagerada e extravagante, mas nunca subestimada. A estranheza ajuda na construção do cenário de acordo com as necessidades narrativas. Knowhere, por exemplo, é um lugar bizarro e sujo, com bares para jogatina desenfreada e espaço para brigas e desentendimentos épicos. Xandar é o contrário, organizado e limpo, protegido pela Tropa Nova. Se por um lado é cômico para suprir os personagens em suas interações; por outro, expressa a urgência de uma galáxia em perigo por causa de um item superpoderoso.
Quando se trata do elenco principal, a comédia também ajuda a revelar as personalidades meio deturpadas dos personagens. O diretor prefere nos mostrar como eles são ao invés de apenas dizer, tanto pelas sequências de ação quanto pelos diálogos absurdamente bem elaborados e cheios de referências criativas. Isso favorece o ritmo do filme, que se move rápido e com leveza, mesmo nos momentos mais densos. Como único ser humano (ou quase isso) da equipe, Peter Quill serve para estabelecer ligação com o público, transportando-nos para dentro da história. Chris Pratt mostra-se um incrível líder: firme e heroico, sem deixar de ser carismático, tudo na medida certa. Só assim mesmo para conseguir lidar com um grupo de heróis e anti-heróis problemáticos. Gamora é o lado mais nobre, ora feroz, ora compassiva. Zoë Saldaña é forte e charmosa e adorável como só ela sabe ser. O Drax de Dave Bautista é muito mais do que uma pilha de músculos, e além de chutar muitas bundas, ele tem momentos impagáveis com seus comentários exageradamente literais.
Rocket Raccoon e ~ I am Groot ~ são os que elevam o teor cômico do filme ao nível do insano. Nem parece que são criados através de computação gráfica e captura de movimentos. Rocket Raccoon é facilmente um personagem para ser adorado pelas próximas vidas. Ele é rabugento de um jeito cômico, sempre atrás de dinheiro fácil; tem mania de acrescentar detalhes inúteis aos seus planos apenas por diversão e gosta de construir coisas com sucatas quando não está atirando em alguém. Ele é tão engraçado e mordaz quanto é confuso, e com uma história de vida terrivelmente dolorosa. Groot, pelo contrário, é todo bonzinho e generoso, e tão apegado a dinheiro quanto seu parceiro guaxinim. Ainda que se limite a um vocabulário de três palavras — ‘Eu’ e ‘Sou’ e ‘Groot’, necessariamente nessa ordem —, ele rouba as cenas apenas por sua aparência bizarra e por ser mais expressivo emocionalmente do que esperaríamos de uma árvore. Também é um personagem para ser adorado pelas próximas vidas, especialmente no final. Groot é amor. I am Groot.
Cada personagem é desajustado a sua maneira e absurdamente engraçados por isso. James Gunn lida habilmente com os cinco “heróis”. Todos têm seus momentos para brilhar na história. Esse senso de equilíbrio entre o hilário e o dramático fornece uma profundidade a cada um dos heróis principais, apresentando-nos pessoas perdidas, aventureiros que experimentaram grandes perdas em suas vidas e tornaram-se mais duros por isso, mas que juntos descobrem uma maneira de reparar o que esteve por tanto tempo danificado em seus corações solitários.
Guardiões da Galáxia conta uma história emocionante e insanamente divertida, feito com o mesmo tipo de entusiasmo enérgico e criativo de clássicos como Star Wars ou De Volta Para o Futuro — ou Footloose? —, nos transportando para novos mundos do outro lado do universo, com as mais diversas paisagens, alienígenas coloridos física e psicologicamente, batalhas épicas em naves espaciais e sequências de luta que não apenas focam em combates corpo-a-corpo e com armas, mas também com toda a sorte de dispositivos bizarros de efeitos aleatórios. Esse é um filme construído para ser extravagante e engraçado. Feito para ser lendário. Feito para ser ~Kevin Bacon.
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