Vingadores: Era de Ultron

Vingadores: Era de Ultron

Vingadores: Era de Ultron

Vingadores: Era de Ultron (2015), Joss Whedon.

Quando o primeiro Vingadores estreou nos cinemas, com todo o seu ar de novidade e sua grandiosidade, Joss Whedon conseguiu desenvolver seus heróis com base naquilo que conhecíamos sobre eles no Universo Marvel dos quadrinhos, integrando-os ao cenário que foi criado anteriormente no cinema. Na época havia toda uma expectativa, e muita incerteza; agora há muito mais expectativa do que antes, simplesmente porque ao longo dos últimos três anos a Marvel se estabeleceu como uma potência cinematográfica que nos transmite segurança e certezas em seus projetos. O que vemos em Vingadores: Era de Ultron não tem aquele ar de novidade, mas tem certo grau de amadurecimento. De enredo, de teor, de emoção, de personagens.

Vingadores: Era de Ultron, assim como seu antecessor, é tudo aquilo que poderíamos esperar de uma história de super-heróis transposta dos quadrinhos para o cinema. A sensação que muitos de nós esperamos durante anos para experimentar, ansiosos para ver o universo dos quadrinhos adaptado para a tela grande de forma incrível e respeitável, nós começamos a degustar com a trajetória de Homem de Ferro até Vingadores. Essa foi a Fase Um. Era de Ultron fundamenta tudo isso, toda essa diversão, sem se esquecer (sequer por um instante) da importância que esses super-heróis têm para os quadrinhos, para os cinemas e, sobretudo, para a cultura pop atual. Essa é a Fase Dois. De filmes mais centrados e sóbrios, e divertidos como só a Marvel sabe ser. Aquilo que esperamos por anos para acontecer, está acontecendo, e eu adoro a sensação de participar disso, de todo o coração.

Foram precisos muitos anos e muitos filmes para chegarmos até aqui; Blade, X-Men, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma, a Marvel assumindo as rédeas de suas produções, Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Guardiões da Galáxia… a saga foi longa, e entre erros e acertos, e acertos cada vez mais acertados, a Marvel se consolida com Vingadores e fecha um ciclo, preparando-se para algo novo.

O que vemos em Era de Ultron vai afetar todo o Universo Cinemático da Marvel daqui para frente, assim como foi com Capitão América: O Soldado Invernal, em uma escala um pouco mais super-heroica.

Lembro que na época da estreia de Vingadores, em 2012, Whedon falou em várias entrevistas sobre como ele poderia tentar superar o espetáculo do primeiro filme se dirigisse a continuação. Como diretor, sua intenção era fazer algo menor, mais pessoal e doloroso.

Por isso mesmo esse é um filme que tem muito a mostrar, e não possui qualquer cerimônia em fazê-lo. Surpreendente é como ele faz, encaixando cada engrenagem com um misto de paciência e frenesi. Ora a ação comanda, ora a calmaria. Whedon coordena suas peças como um criador dedicado e consciente da grandiosidade (e responsabilidade) que tem nas mãos. Ele queria fazer algo menor. Mas esse é um filme grande, muito grande. Que expande vertiginosamente seu alcance. Essa poderia não ser a premissa inicial, mas se tornou a base da produção no meio do caminho. Ele tenta equilibrar a sobriedade e a grandiosidade, e assim como em Vingadores, o equilíbrio parece ser a palavra-chave para ele; mesmo com tantos personagens, tantos deuses e titãs juntos em uma mesma cena. A ideia de Vingadores sempre foi sobre como contar a história desses super-heróis, para onde levá-los, como evoluí-los.

Vingadores: Era de Ultron é bem-sucedido nesses desejos por uma história mais pessoal e dolorosa. Um exemplo é como a Feiticeira Escarlate usa sua habilidade de ler mentes para criar sonhos alucinógenos nos Vingadores, escavando a dor particular de cada um deles, trazendo à tona seus medos mais sombrios. Através desses medos é que toda a trama se constrói. Tudo é sobre o medo; que um homem tem de monstros (mesmo quando os monstros são seus amigos) ou que um robô tem do homem (mesmo quando ele próprio foi criado por um homem para proteger o planeta de monstros). O medo é a ferramenta que impede que os heróis avancem, e ao mesmo tempo, uma vez vencido, é o estímulo que leva os heróis a enfrentarem seus maiores inimigos (e demônios). O poder do medo é tão intenso aqui que nem mesmo os vilões estão imunes a ele; mesmo os vilões têm sua chance de encontrar coragem para mudar de postura, de posição, de lado na batalha por algo maior.

Olhando de longe, para o quadro maior, toda a Fase Dois foi sobre o medo e suas consequências, culminando em uma grande batalha contra o medo global (Vingadores: Era de Ultron) ou contra o medo em uma escala absurdamente mais íntima (Demolidor). A Fase Dois vasculhou a alma de seus heróis, revirando seus corações e suas mentes, revelando como cada um deles lida com seus males internos e por que eles são os Maiores Heróis da Terra.

O filme, na verdade, termina com um gancho para a Guerra Civil que veremos no próximo filme do Capitão América. Uma nova equipe é formada, com a designação de NOVOS Vingadores, trazendo Viúva Negra, Falcão, Feiticeira Escarlate, Visão e Máquina de Combate sob liderança do Capitão América. A verdade é que Capitão América: Guerra Civil poderia facilmente se chamar Vingadores 2.5… ou Novos Vingadores, porque ao que parece, será mesmo uma extensão dos desdobramentos e consequências da batalha contra Ultron. Antes disso ainda teremos Homem-Formiga, que será o verdadeiro encerramento da Fase Dois, mas que deve funcionar de forma mais autônoma dentro do Universo Cinemático da Marvel, pelo menos nesse primeiro momento.

Vingadores: Era de Ultron fecha muito bem seu ciclo, com uma mistura boa de diversão, ação e drama, contando exatamente a história que queria contar: os Vingadores tentando enfrentar os demônios que vêm de dentro da equipe. Isso se reflete não apenas pelo impacto que Ultron demonstra ter sobre o grupo, como também pelas batalhas desoladoras entre eles próprios. Mais do que isso, o filme é a concretização dos sonhos de qualquer fã dos quadrinhos para um filme de super-heróis no cinema. A emoção de ver o embate de grandes super-heróis unidos contra um terrível vilão. Isso é o que me faz ser apaixonado por Vingadores: eles aparecem juntos, todos juntos, lutando juntos, festejando juntos, chorando juntos. Nós choramos e rimos junto com eles. Porque nós também somos Vingadores.