A Dança dos Dragões (2011), George R. R. Martin.
Depois da polêmica decisão de dividir a trama de Westeros em dois livros, deixando alguns dos personagens mais queridos de fora do volume quatro, no livro A Dança dos Dragões finalmente descobrimos o destino de Tyrion, Daenerys, Jon Snow, dentre outros. Embora apresente problemas, este quinto volume cria estímulo o suficiente para que nós continuemos a desbravar suas mais de 800 páginas sem grande esforço.
Continua a disputa pelo trono de Westeros, com os personagens tomando rumos cada vez mais distantes em relação ao início de As Crônicas de Gelo e Fogo. A história acontece simultaneamente com os eventos do livro anterior, O Festim dos Corvos, dando seguimento ao terceiro livro, A Tormenta de Espadas. A Guerra dos Cinco Reis parece ter terminado. Jon Snow se tornou Senhor Comandante da Patrulha da Noite e precisa lidar com a presença do Rei Stannis Baratheon, que tenta obter o apoio de Snow e dos habitantes do Norte para continuar com sua luta pelo Trono de Ferro. Tyrion Lannister atravessou o Mar Estreito até Pentos, mas vaga de um lugar para o outro sem saber direito que caminho deve tomar. Na Baía dos Escravos, Daenerys Targaryen conquistou a cidade de Meereen, e decidiu governá-la, mas começa a enfrentar problemas com os povos da região e com seus dragões. Por se tornar amplamente conhecida, emissários de outras terras chegam para visitá-la, muitos com o objetivo de usar a causa da Mãe dos Dragões para seus próprios objetivos.
Os favoritos dos fãs ganham bastante destaque. Sem a fortuna de sua família, Tyrion precisa usar de toda sua lábia para sobreviver. Entre encontros e desencontros com figuras já conhecidas dos outros livros, seu destino parece cada vez mais incerto. Jon Snow se vê obrigado a tomar decisões cada vez mais difíceis como Comandante da Patrulha da Noite. Seu coração ainda está dividido entre os deveres de seu juramento e sua ligação com o sangue Stark.
Daenerys, sem seus dragões, se vê cada vez mais fraca e impotente diante dos acontecimentos políticos à sua volta.
Todos eles, claro, possuem destinos inesperados ao final do livro. E nem poderia ser diferente em se tratando de George R. R. Martin.
Mas nenhum deles passa por uma privação maior do que Cersei. A Rainha-Mãe finalmente vê toda a sua inabilidade política voltar-se contra ela. Apesar da humilhação, ainda ficamos na expectativa para saber como sua situação ficará no próximo volume.
Outros personagens aparecem menos, mas em situações importantes, como nos casos de Brienne e Arya.
Mesmo a esta altura da série, o autor ainda tem espaço para a apresentação de novos personagens. A dúvida é o quanto eles são necessários para o desenrolar da trama. Se ao menos um aparenta ter grande importância, há outros, como os dorneses (nativos de Dorne) que se apresentam à Daenerys e ganham um destaque desnecessário. Mesmo figuras como Jaime Lannister parecem meio apagadas neste momento. À medida que vamos chegando ao fim da série, era de se esperar que os diversos plots abertos começassem a se fechar, mas parece que Martin sempre arranja espaço para novos acontecimentos, abrindo ainda mais o leque de possibilidades — e isso pode ser bom ou ruim. — O que todos devem se perguntar é se, nos dois livros finais, teremos um desfecho unindo tudo o que vimos, ou as pontas vão acabar ficando soltas?
De qualquer maneira, os acertos ainda compensam com folga os erros. Martin continua habilidoso na caracterização dos personagens, e muitos deles saem de sua zona de conforto. As mortes inesperadas continuam e isso dá uma sensação muito boa de não saber como tudo isso vai terminar. De certa forma, é o próprio leitor que sai da zona de conforto, pois é obrigado a abandonar os clichês e certezas da literatura de gênero numa série onde literalmente tudo pode acontecer.
Desculpem o pequeno spoiler, mas o Inverno finalmente chega. E a única certeza que ele traz é a de que teremos tempos duros pela frente, e não há garantia de que os personagens que amamos ou odiamos chegarão vivos ao final.
Uma curiosidade é que A Dança dos Dragões seria o título do segundo volume da série, quando Martin ainda planejava que a série de livros fosse uma trilogia. Algumas antigas edições americanas de A Guerra dos Tronos ainda listam A Dança dos Dragões como sequência que seria publicada do livro. Com o aumento da expectativa de livros para sete, o título foi atribuído ao quarto romance, até que Martin decidiu colocá-lo definitivamente no quinto livro. “Dança dos Dragões” é o nome dado a uma guerra civil na história antiga de Westeros, e faz uma referência direta ao desenvolvimento da história de Daenerys. Isso faz pensar na própria situação da Daenerys, que caminha rumo a uma guerra, de uma forma ou de outra; além da invasão a Westeros que ela planeja, há ainda os problemas que ela enfrenta com a sociedade de Meeren, o que poderia levar a uma terrível guerra civil.
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