Clube da Luta

Clube da Luta

Clube da Luta

Clube da Luta (1996), Chuck Palahniuk.

A Primeira Regra do Clube da Luta é que você não fala do Clube da Luta.

OU

O narrador tem sua vidinha perfeita, com um bom emprego e apartamento mobiliado. Até que conhece Tyler Durden, um cara charmoso e rebelde. Juntos, eles criam um clube onde homens podem brigar. É quando as coisas começam a sair do controle.

Todos conhecem o filme, mas quantos leram o livro? Embora o filme seja bastante fiel, o livro é melhor. Talvez pela narrativa seca e desesperançada de Chuck Palahniuk. Quem sabe pelo final dúbio e irônico. Ou até mesmo por possibilitar entrar na mente do narrador. Ou tudo isso junto.

Uma das grandes vantagens do livro é poder saborear a prosa de Palahniuk. Ela tem o gosto amargo de um bom café, bem forte, que deixa até suas papilas gustativas meio dormentes depois, mas que você sabe que vale a pena. Curioso que cada palavra parece ter sido muito bem pensada antes de ser escrita. E as pistas que ele vai deixando sobre a identidade de Tyler Durden são bastante criativas. Por exemplo, o Narrador Anônimo, sempre em primeira pessoa, nunca abre um parágrafo com travessão para reproduzir suas próprias falas – a não ser em alguns momentos bem específicos. Isto vai mostrando que Durden vai aos poucos tomando o controle sobre sua mente.

Para quem viu o filme, fica difícil não imaginar os personagens como os atores que os interpretaram. E Hollywood, mesmo bem-intencionada, ainda tem que mostrar os rostos bonitos dos atores pelo quais pagou um alto cachê. No livro, não, todos podem se dar ao luxo de serem feios e estarem sempre quebrados, até mesmo com um buraco no rosto.

Em compensação, é legal que a música “Where Is my Mind”, dos Pixies, está sempre vindo à sua cabeça.

O niilismo aqui é ainda mais cortante. E perigoso. A violência do Clube da Luta é sedutora, e apela àquela nossa vontade constante de mandar tudo à merda. Porque todos, no íntimo, sabemos que algo está errado com nossa sociedade de vazio espiritual compensado por consumismo. No entanto, o anseio de destruição pode levar a um fascismo incontrolável, onde a coletividade apenas segue ordens, sem questionar, sendo facilmente manipulável.

E mesmo a insinuação final do livro, de que Durden poderá voltar como um novo Jesus Cristo, serve para nos deixarmos atentos a refletir antes de seguirmos palavras de ordem.

Palahniuk não tem rodeios para enfiar o dedo na ferida. Sem floreios, sem academicismo, sem falsas ilusões sobre a natureza humana.

Sou o olho roxo de Joe. A dor não me incomoda, porque me torna mais forte.

E se esta é a sua primeira noite no Clube da Luta, você terá de lutar.