Curtindo a Vida Adoidado

Curtindo a Vida Adoidado

Curtindo a Vida Adoidado

Curtindo a Vida Adoidado (1986), John Hughes.

Curtindo a Vida Adoidado mudou os anos 80 ao apresentar o divertidamente otimista Ferris Bueller quebrando a quarta parede e nos convidando a acompanhá-lo em um dia de folga que marcou história e toda uma geração. Ele faltou a um dia de aula para se divertir, porque, como ele diz, “A vida se move muito rápido. Se você não parar e olhar em volta de vez em quando, você pode perdê-la.”

O filme de comédia de baixo orçamento lançado em 1986 passeou por um dia na vida de um adolescente para fazer uma reflexão sobre a juventude perdida e a incerteza do futuro. É facilmente uma das melhores comédias de todos os tempos, caracterizada pela esperteza inocente ao contar sua história sem parecer forçado e por ser mais atemporal do que qualquer um poderia ter imaginado.

Curtindo a Vida Adoidado foi, antes de tudo, um divisor de águas para John Hughes, que o escreveu e dirigiu. Hughes é tanto um marco na cultura pop oitentista quanto sua obra, e com o dia de folga de Bueller, quase podemos perceber a linha divisória que levou o cineasta ao amadurecimento das temáticas que ele próprio gostava de abordar. Bastante conhecido pelas comédias adolescentes, como Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco, Mulher Nota Mil, depois de Curtindo a Vida Adoidado, ele começou a investir um pouco mais em situações da vida adulta com Antes Só do Que Mal Acompanhado, Ela Vai Ter um Bebê, Quem Vê Cara Não Vê Coração, algo que fizera antes com Férias Frustradas. Em todos as suas fases, Hughes sempre tratou seus personagens com respeito e inteligência, tornando-os representações carismáticas e agradáveis dos dramas da vida. Curtindo a Vida Adoidado é um meio termo nesse sentido: nem uma comédia adolescente típica, nem um filme para adultos que lida com situações adultas.

O filme simplesmente celebra a juventude, o momento de transição em que a importância de viver a vida não deveria ser esquecida, ainda que muitas vezes o seja. Por isso, talvez, que Curtindo a Vida Adoidado agrade a todas as idades até hoje. Os mais jovens querem crescer e ser como Ferris Bueller; os mais velhos relembram seus dias de juventude.

Muitas das outras comédias de Hughes tratavam de questionamentos daquela época, dos quais alguns permanecem relevantes ainda hoje, e o diretor sabia fazê-lo de forma afiada e bem alinhada com a realidade dos anos 80 e 90. Clube dos Cinco é um exemplo perfeito disso, mostrando os problemas dos adolescentes, os estereótipos, a pressão dos pais e assim por diante. Bueller, porém, é muito mais leve e alegre. Há momentos de reflexão, drama e profundidade emocional, todos bem equilibrados com as peripécias cômicas dos personagens pela cidade de Chicago. Curtindo a Vida Adoidado faz sua abordagem de forma mais sutil e menos direta do que as outras comédias adolescentes, e é isso que torna o filme absolutamente incrível.

Ferris Bueller traz o melhor e o pior das pessoas, mostrando que todos nós temos aspectos bons e ruins em nossas índoles, e é inspirador para aqueles que, sem alguém como ele, nunca diriam ou fariam o que realmente sentem (Cameron e seu relacionamento com o pai é um exemplo óbvio, e os questionamentos pessoais de sua irmã, Jeanie Bueller, é outro). Ele é uma inspiração, e obviamente, as pessoas gostam dele. Ferris é, para todas as causas e efeitos, uma inspiração para todo mundo, porque ele faz com que as pessoas, especialmente os mais jovens, percebam como a vida pode ser. Você tem mais em si mesmo do que aquilo que as outras pessoas dizem ou veem.

Curtindo a Vida Adoidado é facilmente um dos melhores filmes de sua época. Hughes conseguiu não tratar seus personagens como crianças, e também não os tratava como adultos. Ele compreendia a juventude como ninguém. Entendia no que os jovens estavam interessados, o que eles falavam e gostavam de fazer, e fugia do convencional para mostrar isso em seus filmes. Ele sabia como construir indivíduos consistentes em tramas bem arredondadas, não apenas adolescentes com problemas de angústia ou com os pais. E para roteiros inteligentes, Hughes escalava um elenco inspirado.

O filme também se tornou um fenômeno por isso: seus atores e personagens convincentes e visualmente expressivos refletiam tudo o que sempre amamos e sempre tememos na juventude. Não importa de que época você é, se dos anos 80, 90 ou atuais, Curtindo a Vida Adoidado, assim como outras crias de John Hughes, está para sempre marcado na memória e no coração. Porque através do que aprendemos com esses personagens é que encontramos a nós mesmos todos os dias. Você é o único responsável por como sua vida será vivida.

Algumas Curiosidades

O dia 05 de junho de 1985 foi provavelmente o verdadeiro dia de folga de Ferris Bueller. Especialistas apontaram que o dia real em que Ferris, Cameron e Sloane curtiram a vida em Chicago seria 05 de junho por causa do jogo de beisebol Braves vs. Cubs que eles assistem.

Curtindo a Vida Adoidado estreou nos Estados Unidos em 11 de junho de 1986, e no dia 11 de junho de 2016, completa 30 anos.

Muitos cortes foram feitos no filme até chegar a edição final, incluindo os irmãos mais novos de Bueller, que foram completamente removidos da história.

Matthew Broderick e Jennifer Grey, que interpretaram os irmãos Ferris e Jeanie Bueller, na época, eram namorados na vida real. Os atores que interpretaram Sr. e Sra Bueller também eram um casal na vida real; os dois se apaixonaram durante as filmagens e se casaram em 1986, quando o filme estreou nos cinemas.

Preste atenção nas placas dos veículos em cena. São referências abreviadas a outros filmes de John Hughes. Katie = VCTN (National Lampoon’s Vacation / Férias Frustradas); Jeanie = TBC (The Breakfast Club / Clube dos Cinco); Tom = MMOM (Mr. Mom / Dona de Casa por Acaso); Rooney = 4FBDO (Ferris Bueller’s Day Off / Curtindo a Vida Adoidado). A exceção ao tema é a Ferrari de Cameron cuja placa vem escrito NRVOUS, em referência ao próprio Cameron.