É engraçado como a gente fica com a cabeça imergida em um hobby ou tema do qual gosta muito a ponto de não ver o tempo passar. Em recente conversa com um amigo, me dei conta de que a franquia Transformers já está no Brasil há 30 anos. É ainda mais engraçado ver que o tempo de uma vida razoavelmente bem vivida se passou, mas a avidez e a inocência com as quais eu curtia as aventuras dos robôs vindos de Cybertron continua mais forte do que nunca.
A forma com a qual a cultura pop era disseminada na década de 1980 era totalmente diferente da que temos hoje. Nos anos 80, ninguém sequer sonhava que 30 anos mais tarde os smartphones, as mídias sociais e a internet estariam tão presentes em nossa vida. Naquela época, tínhamos que nos contentar com as publicações impressas e as mídias, digamos, mais tradicionais, como cinema, rádio e TV. O mais diferente que tínhamos disso eram aquelas informações passadas como na famosa brincadeira do “telefone sem fio”. Era sempre o tio de um amigo de um amigo que ouviu falar de não sei quem alguma coisa sobre determinado tema. As programações das manhãs de domingo na TV, por exemplo, dividiam-se entre seriados americanos e desenhos animados, e foi exatamente há 30 anos, numa dessas manhãs, que estreava na TV Globo o episódio Transporte Para A Destruição (Transport To Oblivion), quarto episódio da primeira temporada da série animada recém-lançada Transformers.
De fato, a exibição deste episódio não foi o primeiro contato que as crianças brasileiras tiveram com a franquia. A linha de brinquedos lançada pela Estrela já ocupava a prateleira das lojas desde maio de 1985 e as revistas em quadrinhos da Marvel já estavam sendo publicadas aqui desde novembro do mesmo ano pela Editora Rio Gráfica. Porém, a exibição deste episódio da série foi o que sacramentou de vez a inclusão dos Transformers na cultura pop brasileira, pois, naquela época, a televisão tinha um poder bem mais massificador do que tem hoje.
Transformers virou uma febre nacional rapidamente e rendeu não só uma linha de brinquedos e uma série em quadrinhos, como também rendeu outros produtos do tema, como um jogo de tabuleiro lançado pela própria Estrela, linha de jogos de lençóis e cortinas lançadas pela Karsten, álbum de figurinhas, livros de história e livros de atividades publicados pela Editora Cedibra, lancheiras licenciadas pela Aladdin e por aí vai. O sucesso foi tanto que as empresas Glasslite e Mimo, trouxeram para o Brasil os robozinhos da linha GoBots e lançaram aqui como Mutantes e Converts, respectivamente, para concorrer com os Transformers.
A inserção dos Transformers na cultura pop brasileira teve várias particularidades, principalmente, quando falamos de publicações. Na época, a legislação vigente obrigava às publicações de fora traduzidas para a nossa língua a estenderem a tradução para os nomes dos personagens também, como por exemplo, Optimus Prime passou a ser chamado de Supremus Absolutus, Bumblebee atendia pelo nome de Furão e o Decepticon Starscream era conhecido como Cometa. Megatron, por sua vez, teve seu nome original mantido. Os Autobots passariam a se chamar Optimus e os Decepticons agora eram os Malignus. Aliás, a capa da primeira edição da revista em quadrinhos lançada aqui teve suas cores alteradas para uma paleta com cores mais, digamos, abrasileiradas. Outra coisa interessante é que o acordo feito com a Hasbro na ocasião não incluía o uso do logo original dos Transformers, assim como o uso dos símbolos das facções. Em compensação, os nomes originais foram mantidos na dublagem da série animada, exceto Optimus Prime, que passou a se chamar Líder Optimus.
Apesar da última temporada de Transformers ter sido exibida nos Estados Unidos em 1987, os episódios da série animada foram exibidos pela Globo até o início de 1989. A franquia no Brasil apresentava sinais de desgaste nessa época, não pelo excesso, mas pela falta de renovação da mesma ao longo dos anos em que esteve no auge. A linha de brinquedos lançada aqui ficou restrita a menos de dez modelos de personagens comparados com as dezenas de robôs diferentes lançados no exterior, e só teve duas levas lançadas que, na verdade, se tratavam exatamente dos mesmos robozinhos com esquemas de cores diferentes. Os quadrinhos tiveram a publicação interrompida em 1987, pois acabaram tirando a defasagem que tinham em relação à Marvel e, por conta disso, a Editora Globo, responsável pela publicação dos quadrinhos na ocasião, seria forçada a esperar as HQs serem lançadas lá fora para, então, poder publicar aqui, o que geraria um intervalo de meses entre uma publicação e outra (lembrem-se que, na época, não tínhamos internet). E assim sem os quadrinhos e nem os brinquedos, aos poucos, o hype foi morrendo.
A franquia foi reavivada em meados dos anos 1990 com o lançamento da série Beast Wars e, a partir do ano 2000, passou-se a produzir séries animadas e consequentemente brinquedos e produtos licenciados dos Transformers com uma certa regularidade. Ela voltou a ter força total com o lançamento do filme live-action dos Transformers em 2007, mas, não é a mesma coisa que era na década de 1980, por mais argumento de velho que isso possa parecer. Mesmo assim, o importante é que a chama dos Transformers permaneça acesa e que continue encantando as gerações seguintes como encantou a minha.
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