A Lenda de Tarzan

A Lenda de Tarzan

A Lenda de Tarzan

A Lenda de Tarzan (2016), David Yates.

Quem nunca ouviu falar da história do bebê que após a família sofrer um naufrágio, os pais morrem e o menino órfão é criado por gorilas, crescendo na selva? A história de Tarzan foi retratada em diversas adaptações, sendo a mais famosa a da Disney – que deixou a voz de Ed Motta cantando “Tenha fé em tudo que acredita/Dois mundos distintos são/Deixe o seu destino agir/Guiar seu coraaaação” na cabeça de muitos.

A Lenda de Tarzan traz a história depois da história. Já no início do filme, vemos John Clayton III/Tarzan, vivido por Alexander Skarsgård, agora um lorde inglês, em uma sala e bebendo chá com outros lordes europeus. A conversa deles é sobre um convite feito pelo rei belga para que John faça uma visita ao Congo, lugar onde ele cresceu e se tornou o Tarzan, uma famosa lenda que todos já tinham ouvido falar. De início, lorde Clayton recusa o convite, mas é convencido por George Washington Williams, que foi um soldado americano que lutou na guerra civil e é interpretado no filme por ninguém menos que Samuel L. Jackson.

Assim começa o enredo que todo mundo já esperava: o Tarzan na selva. Só que dessa vez tudo aquilo que já conhecemos sobre o personagem é apresentado através de flashes do passado que aparecem ao longo do filme. Desde o momento que os pais deles morrem e a gorila Kala passa a protegê-lo e respeitá-lo como se fosse realmente um filho, como ele conheceu Jane, interpretada por Margot Robbie (que já já chega como a Arlequina em Esquadrão Suicida #ansiosos), além de outros momentos significativos para a narrativa do protagonista.

John/Tarzan chega ao Congo acompanhado de Jane e Sir. Williams, e o primeiro contato com a natureza já nos mostra como a conexão dele com a natureza é algo extraordinário: ele é saudado por leoas. John retoma seu lugar de herói como Tarzan ao descobrir que a missão diplomática era, na verdade, uma emboscada planejada por Leon Rom, personagem de Christoph Waltz – que convenhamos, de uns tempos para cá tem curtido essa parada de dar vida a personagens malvados e ambiciosos, né?

O vilão Rom pretende entregar Tarzan a Mbonga, chefe de uma outra tribo local e interpretado por Djimon Hounsou, em troca de pedras preciosas a fim de ficar rico. Vendo que sua esposa e seu povo estão em perigo, John volta a ser Tarzan, o herói. O modo como o diretor David Yates trabalha a relação de Tarzan com a natureza, mostra o porquê de o personagem ter se tornado um mito para todos que já ouviram sobre ele. O enredo do filme demonstra que mesmo tendo ficado oito anos na civilização, usando terno e gravata, Tarzan não deixa para trás os instintos do que verdadeiramente ele é. A forma como ele interage e se comunica com a natureza é algo que foi entregue sem deixar buracos. Ele entende os animais, as árvores e tudo que está a sua volta, fazendo com que a gente sinta que ele não deixou seu passado na selva para trás. Em duas cenas distintas, ele encontra animais e os cumprimenta, explicando que são velhos amigos. Sério! Muito amor pelo elefantinho!

A construção de Yates em A Lenda de Tarzan entende qual é o equilíbrio entre o real e o fantasioso, mesmo que os efeitos visuais fiquem um pouco medianos em alguns momentos do filme por soarem extremamente-fake-demais. Apesar disso, a fotografia do filme surpreende, ela não parece pecar. A técnica visual que utilizam para mostrar o Congo, deixa o sentimento de “uauu, que lugar é esse!”

Apresentar Tarzan como “um espírito da floresta”, assim como na canção que a tribo Kupa canta sobre lenda dele, é fazer com que os espectadores tenham a sensação que o protagonista é praticamente um super-humano. O ator Alexander Skarsgård atua sem exageros, o que auxilia para que a atmosfera do filme seja bem encaixadinha. Margot Robbie, por sua vez, traz uma Jane como uma donzela não tão donzela, uma mulher forte e inteligente que mesmo em perigo e esperando ser salva por Tarzan, luta para se defender.

Além de dar um novo rumo nessa história-depois-da-história, A Lenda de Tarzan ainda traz uma questão a ser pensada: o movimento de retirada dos negros da terra mãe para serem escravizados. E personificar George Washington Williams, que esteve presente nesse processo e lutou contra isso, é trazer um processo histórico muito marcante para a narrativa.

A Lenda de Tarzan se arrisca em contar pela milésima vez uma história que praticamente todos já conhecem, seja pela versão Disney, pela versão de Greystoke (1984) ou pela mais recente Tarzan: A Evolução da Lenda (2013). Mas ao mesmo tempo, arriscar é bom, certo? Ainda mais quando o resultado é um filme com aventura, ironia e um pouquinho de “ih, será que ele vai se dar mal agora? Não pode! Ele é o Tarzan!” David Yates traz de novo o mito do Tarzan com a mesma emoção de Ed Motta cantando que “dois mundos distintos são”.