O lançamento da mais nova linha de brinquedos dos Transformers chamada Titans Return, baseada na segunda parte da saga batizada de Prime Wars nos quadrinhos da editora IDW, fez com que a Hasbro ressuscitasse o conceito dos Headmasters. Mas, aí, caro leitor, você deve estar se perguntando: “tá, mas o que são Headmasters?” Os Headmasters são um tipo de variação simbiótica dos Transformers nos quais um ser vivo menor, geralmente orgânico, se transforma na cabeça de um robô maior. A “união” Headmaster costuma ocorrer entre dois seres conscientes, mas existem casos onde a cabeça ou o corpo não possuem consciência e são construídos exclusivamente para servir à parte consciente. Ou seja, a grosso modo, são robôs cujas cabeças se transformam em robôs menores.
Assim que os dois seres se unem, o que virou a cabeça ganha controle de um corpo maior e mais poderoso e o Transformer tem suas habilidades aumentadas por conta deste, digamos, elo psíquico binário que os permite utilizar em conjunto as ideias, táticas e instintos de ambos como se fossem um ser só. Agilidade, velocidade de reação e precisão de mira geralmente acabam melhorando no processo. A única desvantagem no processo é que, quando separados de seus parceiros, o Transformer fica sem cabeça, ou seja, boa parte deles continua a funcionar no modo veículo sem seus parceiros, mas pouco podem fazer na forma de robô além de ficarem estáticos.
A introdução dos Headmasters na mitologia dos Transformers teve diversas versões, mas aqui vamos destacar as três principais delas: a versão dos quadrinhos publicados pela Marvel, a versão da série animada lançada nos Estados Unidos e a versão da série animada lançada no Japão. Todas elas contemporâneas da década de 1980, diga-se de passagem.
Nos quadrinhos da Marvel, a tecnologia Headmaster foi criada pelo cientista chamado Arcana, do planeta Nebulos, como uma forma de utilizar os corpos dos Autobots para defender seu planeta, pois os nebulanos não confiavam nos cybertronianos o suficiente para deixar a segurança de seu planeta nas mãos dos Transformers. Os nebulanos de seus pares Headmaster eram capazes de se transformar usando um traje especial que é uma “armadura de reestruturação interna” e um “capacete cibernético com link mental” com o respectivo Transformer. Ou seja, no caso, não se tratavam de robôs menores que se transformavam nas cabeças dos robôs maiores, mas sim, seres orgânicos que sofreram uma radical intervenção cirúrgica para poderem usar o traje que se transformaria na cabeça do robô maior, lembrando que o ser orgânico e o Transformer eram seres distintos e se comunicavam através do tal “capacete” do traje. Aliás, tal processo permitia que os Autobots (ainda separados das cabeças) controlassem via rádio seus velhos corpos, enquanto os parceiros Nebulanos observavam e planejavam a estratégia. Esta cooperação em conjunto de duas mentes gerava um grande aumento em agilidade e precisão de tiros. Obviamente, após serem derrotados pelos Autobots Headmasters, os Decepticons acabaram incorporando esta tecnologia para lutarem de igual para igual. Um detalhe interessante é que o processo Headmaster acabou tendo dois tipos de reações: com o passar do tempo, ou as duas mentes envolvida no processo se fundiam em uma, como o caso do Decepticon Scorponok e seu Headmaster Lord Zarak, ou entravam em conflito, por assim dizer, em todos os níveis, como o caso do Autobot Fortress Maximus e o terráqueo Spike Witwicky, que passou a ser o Headmaster do robô, após a morte do nebulano Galen, ocupante anterior do posto.
Já na série animada, temos duas situações distintas. Isto porque, após o término da terceira temporada do desenho, a continuidade se dividiu em duas linhas temporais: enquanto nos Estados Unidos a quarta temporada se resume a um episódio dividido em três partes chamado The Rebirth, no Japão foi lançada a série Transformers: Headmasters que, por sua vez, foi sucedida pelas séries Transformers: Masterforce e Transformers: Victory, além de um OVA (original video animation) chamado Transformers: Zone. Por conta disso, o conceito dos Headmasters possui duas origens distintas quando se trata da série animada.
Na continuidade americana, a tecnologia Headmaster foi ideia do Autobot Brainstorm, que defendeu a tese de que ter um parceiro orgânico seria uma boa estratégia de combate contra os Decepticons. Ao contrário da versão dos quadrinhos da Marvel, o organismo humanoide, seja terráqueo ou nebulano, que se submetesse ao processo não sofreria nenhum tipo de intervenção cirúrgica. Basicamente, o humanoide veste um exotraje que se transforma na cabeça do robô e, quando nesta forma, seu interior vira uma espécie cabine de comando onde o humanoide fica sentado diante de uma tela grande e uma mesa de controle muito parecida com a que os Power Rangers ficam para operar o Megazord. No caso, não há nenhum tipo de conexão psíquica entre ambos, apenas uma declaração tanto do humanoide como do robô de que se sentiam mais próximos um do outro. Antes de remover sua cabeça, o Transformer baixa sua memória e personalidade para seus circuitos auxiliares em seus peitos.
Por último, existe a versão da continuidade japonesa da série animada que, por sinal, é a que mais me agrada. Numa tentativa de fugir da guerra em Cybertron, um grupo de pequenos cybertronianos, cuja estatura é mais ou menos a de um ser humano, foi embora do planeta e acabou caindo com sua nave no inóspito planeta Master. A necessidade de sobrevivência foi o que fez com que eles se desenvolvessem e fizessem vários avanços tecnológicos a ponto de criar os chamados Transtectors, que são grandes corpos robóticos sem vida aos quais estes pequenos cybertronianos se conectavam e controlavam. Entretanto, para o dominarem a operação dos Transtectors, estes cybertronianos foram submetidos a um rigoroso treinamento físico e mental e, assim, se tornando os Headmasters. Na sequência, eles saíram do planeta Master e alguns se juntaram aos Autobots e outros se juntaram aos Decepticons, combate esse que fez com que os Transformers ficassem afastados da Terra por um bom tempo, deixando o nosso planeta completamente desprotegido. Por conta disso, os Autobots criaram os chamados Braceletes Masters, uma tecnologia que aproveitava um misterioso poder chamado Chokon que transformava os humanos e os permitia que se conectassem aos Transtectors se tornando Headmasters. Ao contrário das outras continuidades, os humanos Headmasters desta continuidade não eram submetidos a qualquer tipo de alteração permanente; eles viravam as cabeças dos robôs através de um tipo de transformação holística. Um fato bem curioso desta linha do tempo japonesa é que os Headmasters cybertronianos podiam trocar livremente de Transtectors, ou seja, os robôs podiam tranquilamente trocar as cabeças, o que gerava diversas combinações de poderes e habilidades, coisa que não acontece com os Headmasters humanos.
A proposta da linha de brinquedos Titan Returns foi fazer com que todos os personagens do universo Transformers fossem Headmasters. Apesar da editora IDW já ter explorado este conceito nas primeiras HQs publicadas da franquia, seja como uma raça completamente dizimada por Galvatron durante a Primeira Guerra Civil Cybertroniana (lembrando que na cronologia da IDW, Galvatron e Megatron são personagens distintos), seja como um experimento tecnológico de uma misteriosa organização na Terra, há muito não se fala neles nas histórias em quadrinhos e paira a dúvida de como será a reintrodução deste conceito no momento atual da mitologia.
(Deixo aqui meus agradecimentos ao amigo Ricardo Mariano de Oliveira pela ajuda na pesquisa para este post. Valeu, meu camarada!)
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