Todo fandom que se preze existe uma rixa entre a galera das antigas, que acompanha há muito tempo, e a turma que teve seu primeiro contato mais recentemente com a franquia, seja ela qual for. Essa distância entre uma geração e outra chegou até a gerar uma infinidade de memes em cima do conceito “Raiz versus Nutella”, fazendo uma alusão comparativa com o que era antigamente e o que é hoje, com um tom deveras pejorativo ressaltando que “o que era antigo é que era bom”. Creio que muitos de vocês já cansaram de ouvir declarações deste tipo saídas das bocas de seus pais e avós, por exemplo.
No caso do fandom de Transformers, a peculiaridade é que a franquia teve seu boom inicial no Brasil no seu lançamento na década de 1980, depois, um pequeno fôlego na década de 1990 com a série Beast Wars e, depois, trouxe novos aficionados pelos robôs só com o lançamento do primeiro filme live-action em 2007, trinta anos depois. É claro que, neste intervalo, sempre tinha uma série nova de Transformers sendo exibida, porém, nenhuma delas trouxe uma nova leva de fãs até que o primeiro longa da franquia dirigido por Michael Bay chegasse às telonas.
A particularidade no meio de Transformers é justamente essa lacuna de 30 anos entre uma geração e outra. Muita coisa aconteceu nesse período, muitos valores foram mudados, assim como hábitos culturais e sociais, a começar que a saga dos robôs surgiu em uma época em que não havia internet. O contato que as crianças da época tinham era através da TV, dos brinquedos, da mídia impressa e só. As coisas, de certa forma, tinham um caráter mais lúdico por conta desse acesso restrito à informação. Se quiséssemos ter os episódios da série animada, por exemplo, tínhamos que ter um vídeo-cassete, gravá-los em fitas VHS e armazená-las o melhor possível para que não estragassem com o tempo. O máximo que se tinha de informação e acesso fora desse eixo era através de um parente ou conhecido que viajou para o exterior e trouxe um brinquedo diferente da linha do qual nunca sonhávamos que existiria. Com o passar dos anos, as crianças foram crescendo e o interesse e contato com a franquia se diminuía gradativamente a ponto de Transformers ser reduzido a uma mera lembrança de uma época boa que foi a infância.
Com a massificação da internet no Brasil, em meados da década de 1990, é que esse quadro começou a mudar e as crianças da época, agora adolescentes, mas que mantiveram acesa a paixão pelos robozinhos, começaram a ter acesso ao que sequer chegou a ser divulgado aqui. Os fãs começaram a estabelecer contatos e se reunir mantendo o amor pela franquia viva. O tempo foi passando e, em 2007, uma nova geração de fãs descobriu o que eram os Transformers, porém, com uma visão totalmente diferente da franquia que os antigos tinham.
A nova geração de fãs teve seu primeiro contato com a franquia com os filmes do Michael Bay, da mesma forma que os antigos tiveram com a série animada. Entretanto, o grande problema é que, para os fãs mais velhos, os filmes não fazem jus ao que os Transformers representam para eles, principalmente, por conta da qualidade da história contada no cinema. E é justamente nessa fragilidade da mitologia cinematográfica que surgem inúmeras desavenças. A dificuldade que a geração mais nova tem de aceitar as coisas como elas são a faz desenvolver inúmeras teorias malucas para justificar os grotescos furos de roteiro em todos os filmes da franquia. Não só isso, mas também há uma certa resistência em aceitar que outras séries além do universo dos filmes possam coexistir, até porque o imediatismo das informações chega a causar até uma certa preguiça para se informar sobre o vasto universo da franquia em si. Por sua vez, também há uma certa resistência da parte da galera mais antiga, em aceitar que, bem ou mal, as coisas evoluíram, que o mundo mudou e que há coisas novas por aí.
O mais importante de tudo é, para ambos os “lados”, se chegar a um meio termo. Por mais que os antigos torçam o nariz, são os filmes do Michael Bay que estão mantendo a franquia viva e trazendo novos fãs. Assim como, mesmo que os novos não gostem, existe um “mundo muito maior” além do chamado Bayverse. Porém, para chegar ao equilíbrio é preciso uma boa dose de humildade. Para os dois lados.
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