Tudo o que conhecemos sobre nosso passado, sobre o passado da humanidade é baseado em histórias. Passando de uma pessoa para outra, de uma geração para outra. É assim que vamos conhecendo nosso passado e entendendo o nosso presente. É assim que baseamos nosso futuro. Parece clichê, mas é verdade. Tudo o que eu sou é feito de tudo que eu já vivi e de todas as histórias que eu tenho para contar.
Mas e quando pensamos no mundo pop? No cinema, nos livros… É exatamente igual! Ou não? Crescemos ouvindo histórias sobretudo. Sobre o que devemos fazer, o que não podemos fazer de jeito nenhum porque já aconteceu algo com alguém que conhecia alguém. Todo final é baseado numa história. Já parou para pensar nisso?
E quem nunca ouviu a expressão “Isso só acontece em filme” que atire a primeira pedra. Mas o que é essa “coisa” que só acontece nos filmes e livros? Isso de tudo sempre dar certo no final de alguma maneira? Por que a gente se incomoda tanto quando não tem um final incrivelmente feliz?
A resposta é: toda história tem um protagonista que no final é o herói, seja nos filmes baseados em quadrinhos ou nas comédias românticas água com açúcar. E é fato que quando sentamos duas horas para assistir a um filme, queremos ser teletransportados para um universo que não é o nosso, para uma história que não é nossa, mas que vamos acabar nos identificando de alguma maneira.
Mas a questão que quero trazer aqui é sobre o porquê de toda história que assistimos em filmes ou séries, por mais simples ou boba que seja, é nada mais que uma fórmula. E nem vem dizer que você gosta de finais que não sejam clichês… que não tem final feliz porque a vida não é assim… Pelo menos a resolução do problema tem que ser mostrada, não concorda?
Foi exatamente sobre essa fórmula que Joseph Campbell dissertou em O Herói de Mil Faces em 1949. Baseando-se em mitos e contos milenares como A Odisseia do Homero, ele foi destrinchando e chegou no que hoje é chamada de A JORNADA DO HERÓI. Mas o que é isso?!?!?!?!
A jornada do herói apresenta todo o caminho percorrido por um protagonista e que dá aquela sensação que a gente tem de “isso é coisa de filme” e “já vi isso antes”. Todo personagem principal enfrenta a mesma saga:
– Está na sua zona de conforto;
– É tirado dela;
– Tem que lutar para reverter a situação que foi colocado;
– Fica triste e acha que não vai conseguir;
– Triunfa.
Quantos filmes vocês não conseguem lembrar numa fração de segundos que seguem exatamente esse percurso?
E foi assim que Campbell apresentou a jornada do herói. Essa jornada é dividida em 3 atos que estão subdividos em 12 estágios. Vamos considerar o percurso de um protagonista para tentar explicar como a jornada funciona:
ATO I
1. Mundo Comum: onde o protagonista vive, como é sua realidade.
2. O chamado à aventura: quando acontece algo e o protagonista recebe uma missão.
3. Recusa do chamado: ele tem dúvidas se aceita ou não essa missão ou se é capaz de realizá-la.
4. Encontro com o mentor: ele conhece alguém com expertise para ajudá-lo ou se depara com uma experiência que o faz voltar para a missão.
ATO II:
5. Travessia do Limiar: o protagonista sai do seu mundo comum e vai além da sua zona de conforto para adentrar nessa missão. #partiu
6. Testes, aliados e inimigos: é aqui que ele passa a se aventurar, onde a história começa a se desenvolver.
7. Aproximação do objetivo: aqui, o herói está quase próximo do seu objetivo.
8. Provação: clímax! Aqui é onde tudo que ele viveu é colocado em risco e parece que vai dar tudo errado.
9. Conquista da recompensa: chegada ao objetivo e recebimento de possíveis recompensas.
ATO III:
10. O caminho de volta: quando ele começa a voltar para seu mundo comum.
11. Ressurreição: um novo problema aparece e ele tem que enfrentá-lo.
12. Retorno transformado: depois que a batalha acabou, ele pode voltar para o lugar de onde saiu. Contudo, não retorna como a mesma pessoa porque sua zona de conforto, seu mundo comum, não é mais o mesmo.
Ok. Mas como isso é colocado em prática nos roteiros?
Vamos começar pensando no meu queridinho Jogos Vorazes:
1- Mundo comum: Katniss é uma adolescente que vive em um distrito muito carente que é subordinado a Capital, que manda em todos os 12 distritos. Ela mora com sua mãe e sua irmã mais nova. Caça com o amigo Gale para poder sobreviver no meio de tanta miséria.
2- O chamado à aventura: Todo ano um casal de cada distrito é sorteado para ir aos Jogos Vorazes, uma competição que só o vencedor sai vivo. Então, Prim, a irmã mais nova de Katniss, é sorteada. Katniss se voluntaria para ir no lugar dela.
Já deu para entender, né?
Seja a Katniss ou Harry Potter ou Percy Jackson ou Batman ou Luke Skywalker… Todos eles passam por esse ciclo até o ápice quando eles tem que lutar contra tudo e todos para vencer o mal que pode ser um vilão como o Coringa ou Aquele que não pode ser nomeado… Pode ser vencer um revolução rebelde contra a Capital ou o Império.
A questão sobre a jornada do herói é que mesmo com todas as provações, o nosso protagonista não desiste e vence no final. Mas por que isso tem que ser coisa de filme?
A sua vida também é baseada nessa jornada. Quando mesmo com muitas dificuldades e obstáculos, você alcança seu objetivo, você também é um herói. Você não precisa lutar com o bruxo mais temido de todos os tempos para se tornar um herói. Às vezes é muito complicado, mas o último estágio proposto por Campbell, o retorno transformado, já diz que depois de toda sua batalha, o mais importante é que você nunca mais será o mesmo. São todas as suas batalhas, todas as suas vitórias que te fazem ser um herói. Muitas vezes ninguém vê o que vem antes do seu sucesso, mas você sabe de onde veio e como se tornou o que você é: um herói ou uma heroína. Não esquece disso, tá?
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