Halloween (2018), David Gordon Green.
Antes de qualquer coisa, é preciso falar que Halloween é o décimo primeiro filme da franquia e uma CONTINUAÇÃO DIRETA do original de 1978, o que significa que ele desconsidera todos os nove filmes anteriores (as sete sequências e os dois remakes de Rod Zombie) e traz a horrenda história de Michael Myers e Laurie Strode de volta ao básico. É a melhor decisão que seus realizadores poderiam ter tomado. O primeiro Halloween, de John Carpenter (um dos meus diretores favoritos), impulsionou toda uma geração de filmes de terror nos anos 1980 e popularizou muitos dos elementos usados no gênero slasher – se obras como Massacre da Serra Elétrica (1974) começaram a explorar as ideias do gênero, foi Halloween que as consolidou enquanto criava as suas próprias, depois usadas em Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Pânico e outros.
Além disso, Halloween popularizou a ideia da “garota final” (final girl) e, agora, 40 anos depois, retorna com a mais famosa garota final do cinema para um confronto decisivo contra seu algoz. Não apenas isso. O filme a eleva a um novo patamar ao levantar um questionamento interessante: “seria possível um monstro criar outro monstro?”
Após os eventos de 1978, Laurie Strode se preparou para o retorno de Michael Myers, sabendo que um dia o assassino escaparia do sanatório e viria atrás dela. Vale ressaltar que Myers não é mais irmão de Laurie Strode (fato inserido em Halloween II e agora desconsiderado na franquia). Em vez disso, numa jogada inteligente do roteiro, Laurie é mostrada como uma mulher obcecada, vingativa, moldada pelo instinto de matar Myers, que obviamente escapa do sanatório e volta à matança desenfreada.
O diretor David Gordon Green, que escreveu o roteiro com Danny McBride e Jeff Fradley, deixa claro desde o início que esta é uma obra feita por e para fãs do clássico de John Carpenter. O filme é cheio de referências e ideias trazidas do original, mas habilmente construído para captar novos fãs para a franquia. Há as longas tomadas que constroem tensão, as pobres babás no lugar errado na hora errada, o medo do bicho-papão atrás do armário (uma analogia que sempre foi feita em relação à Myers) e a trilha sonora sinistra, composta (claro!) pelo próprio John Carpenter (que adora compor as músicas de seus filmes, além de atuar aqui como produtor e consultor criativo). A própria presença de Jamie Lee Curtis é uma tremenda referência! Ela é poderosa e assustadora, repleta de camadas que às vezes nos fazem até mesmo questionar a personagem, apesar de ela ser a protagonista. Como eu disse, não é uma garota final comum. Ela é transformada em algo mais. E não está sozinha, porque recebe o apoio fundamental de Judy Greer e Andi Matichak.
A razão é porque Myers está mais assustador do que nunca. Ele mata sem piedade qualquer um que atravesse seu caminho, e acredite, a contagem de corpos e litros de sangue é maior do que no Halloween original. Nick Castle reprisa seu papel Michael Myers, com o dublê James Jude Courtney também assumindo a máscara do assassino.
As mortes são criadas em prol da história, que é desenvolvida com segurança e um bom ritmo. Pouco a pouco, morte após morte, o clima vai sendo construído para o esperado confronto entre Myers e Strode. O filme não é criado apenas para causar meia dúzia de sustos gratuitos ou levá-lo ao próximo massacre. É tudo bem pensado e bem conduzido. E isso é realmente um alento para quem gosta de um bom filme de terror.
Halloween ainda tem ares de filme antigo, cult, quase como se tivesse sido produzido logo depois do original. É acima tudo muito consciente de sua mitologia, daquilo que fez o original de 1978 funcionar em primeiro lugar, por isso não se priva de reproduzir o que deu certo anteriormente. John Carpenter deve estar orgulhoso de ver sua obra ressuscitada com tanta paixão. O novo Halloween é uma reverência ao gênero slasher e é facilmente um dos melhores filmes de terror dos últimos anos.
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