Podres de Ricos

Podres de Ricos

Podres de Ricos

Podres de Ricos (2018), Jon M. Chu.

Curioso como aqueles filmes dos quais pouco se espera, às vezes, são aqueles que mais surpreendem. No caso das comédias românticas, é ainda mais intrigante. O gênero teve seu momento de glamour e tragédia nas décadas passadas, quando filmes eram lançados aos montes, faziam sucesso e o que fazia sucesso se replicava de forma incontrolável e mecanizada em busca de mais sucesso, produzindo algumas grandes ideias… mas muita coisa ruim, o que acabou por desgastar o gênero e levá-lo para o limbo.

Agora, as comédias românticas estão ressurgindo, só que não mais numa “linha de produção”, e sim com o objetivo de contar boas histórias de forma despretensiosa e divertida.

No cinema, o gênero já não tem a mesma força ou apelo de anos atrás. O lado negativo é que bons filmes do gênero são, em geral, pouco divulgados, lançados de maneira tímida e acabam passando despercebidos. O lado bom? É que quando fazem uma comédia romântica, fazem com gosto, pra fazer direito! Basta ver o caso de filmes recentes como Será Que? ou Doentes de Amor.

É o caso do fantástico Podres de Ricos! O filme é simples e despretensioso, mas tem tanto a mostrar e contar que é IMPOSSÍVEL passar por ele sem se apaixonar. A história é clássica, com ares de conto de fadas – Cinderela manda lembranças –, sobre uma menina pobre que se apaixona por um príncipe encantado e precisa enfrentar todo o choque cultural que vem dessa diferença de classes e mundos.

O príncipe, no caso, vem de uma família realmente ~podre de rica. Com tudo o que tem direito! São excêntricos, exibidos, extravagantes, maliciosos (foi mal, acabaram meus adjetivos com a letra “e” e eu queria falar do lado “podre” desses ricos). Por isso mesmo, Nick Young foi para Nova York tentar descobrir um mundo diferente, ser alguém diferente, onde conheceu a bela professora de economia Rachel Chu, por quem se apaixonou e com quem deseja ficar o resto da vida – Um Príncipe em Nova York também mandou lembranças. – Só que Nick escondeu suas origens dela. Quando ele a leva para o casamento de seu melhor amigo, em Singapura, Rachel descobre sobre a família complicada e extremamente rica de seu príncipe e ainda precisa lidar com a mãe dele, que não aprova a relação dos dois.

Jon M. Chu dirige essa comédia divertida, adaptada do livro Asiáticos Podres de Ricos de Kevin Kwan. Com um elenco inteiramente formado por asiáticos (cujo processo envolveu encontrar e selecionar o máximo de atores e atrizes asiáticas que falassem inglês até chegarem ao elenco que desejavam) e um rol de realizadores também encabeçado por asiáticos, o filme não poupa esforços para mostrar que personagens asiáticos podem ser desenvolvidos de forma mais aprofundada na indústria do cinema norte-americana – um lugar onde, infelizmente, ainda predominam visões superficiais e estereotipadas. – E no meio disso tudo, Podres de Ricos ainda tenta mostrar que pessoas super ricas podem ser frias e mesquinhas, mas também podem ser bonitas em sua generosidade e compaixão. O filme faz um bom contraponto sobre todas as faces de sua história.

A subtrama da prima de Nick, Astrid, é a que mais me cativou, desenvolvida em paralelo com a trama principal. Gemma Chan interpreta uma “princesa” adorável e gentil, que vive um drama pessoal em sua casa por causa do complexo de inferioridade que o marido sente em relação a ela e à riqueza dela. Astrid comete seus próprios erros no relacionamento, mas lida com isso de maneira sóbria e adulta, e demonstra um amor sincero. Ela também é a única que se esforça para proteger Rachel, mesmo lindando com suas próprias questões. E junto com a protagonista, Astrid se revela uma das personagens mais fortes e emocionantes da história.

Rachel, por sua vez, é interpretada por Constance Wu de forma igualmente sóbria e cativante, com uma desenvoltura envolvente. Ela é elegante, despojada, iluminada até mesmo nos momentos mais difíceis de sua personagem. É sem dúvida o coração de Podres de Ricos. Henry Golding, conhecido astro da Malásia, é mais discreto com seu Nick, principalmente porque o foco acaba sendo o embate entre Rachel e a mãe dele, Eleanor. Michelle Yeoh é feroz e assustadora como a matriarca superprotetora que acredita que nenhuma mulher vai ser boa o bastante para seu filho.

E por fim, preciso falar da Peik Lin Goh, da atriz Awkwafina – que personagem SENSACIONAL! É engraçada, meio louca, MUITO LOUCA hahaha, uma nova rica extravagante que é a melhor amiga de Rachel nessa viagem. Peik Lin é aquela amiga inquestionável, que está ali para dar apoio e levantar o moral, genuína e sincera de uma maneira apaixonante… e meio louca, eu já disse isso, não disse?

O conto da menina comum que se apaixona por um descendente da realeza não é novidade: é uma ideia que desperta sonhos e paixões há gerações e que deu origem às várias histórias de Princesas da Disney e até às da vida real, é só ver a comoção que um casamento na família real britânica provoca no mundo hoje em dia. Podres de Ricos não tenta reinventar a roda, apenas a remonta com muita ostentação e um equilíbrio entre drama e humor de encher os olhos (talvez até de lágrimas). É um belo conto de fadas moderno ~um filme PHYNO, RYCOH e DIVOH.