Foi numa tarde de terça-feira sem compromisso que eu descobri os Beatles. Um terça-feira de setembro, no ano de 2019. Veja bem que eu não disse que conheci. Conhecer, eu já conhecia. Claro que eu sabia desde sempre quem eram os Beatles. Mas descobrir mesmo, só me ocorreu agora e eu devo esse momento ao Danny Boyle.
Depois de me deixar assustada com Trainspotting e Extermínio, morrendo de nojinho com o corte do braço e o lance de beber urina em 127 horas, sofrer com Quem Quer Ser um Milionário? e ficar completamente perdida com Em Transe, o cara finalmente me fez chorar e morrer de amor com Yesterday.
O filme é de uma poesia que só uma música dos Beatles consegue explicar. Tem romance, tem fantasia, tem humor e tem música, que pra mim é uma das coisas mais incríveis desse mundo. Se você acha que não conhece Beatles, acredite, essa hipótese só seria real se você tivesse passado os últimos 50 anos em Marte e mesmo assim você deve ter escutado por lá algum acorde de “Come Together” via satélite. Veja bem, você não precisa ser roqueiro pra ouvir a banda. Até o Mc Kevin o Chris colocou os acordes iniciais de “Day Tripper” no funk 150 bpm. Duvida? Procura lá no teu Spotify por “Dentro do carro” e divirta-se.
Mas a questão do filme é bem mais complexa que as obras de John, Paul, George e Ringo. É a história de um músico frustrado que um belo dia acorda em um mundo sem Beatles. Não há nenhum registro da existência da banda e então ele tem a ideia de apresentar as músicas como se fossem dele. Sucesso, claro. Tudo isso poderia facilmente ser uma sessão da tarde dessas bem água com açúcar, com final feliz do casal, etc etc. O que se vê é uma análise de um universo em que coisas populares simplesmente desapareceram e você passa a questionar como isso poderia ser lógico. Pra Danny Boyle, essa lógica não existe e ele simplesmente sumiu com tudo e inventou esse universo fantástico em que a maior banda do mundo nunca pisou na Terra.
Imagina viver sem cigarro ou coca-cola? Perfeitamente possível, certo? O que não é possível é um mundo sem a genialidade de John Lennon, a melodia de Paul McCartney, os acordes de George Harrison e a levada de Ringo Starr. Imaginar um mundo sem Beatles é imaginar um mundo com menos leveza, menos amor e menos poesia.
Yesterday te faz sair do cinema cantarolando, rindo, chorando e refletindo o quanto a música é potente e transformadora e a importância de preservar a arte, seja qual for a forma de expressão. Porque, afinal de contas: all you need is love.
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