A pergunta, feita há mais de trinta anos numa revista em quadrinhos americana (O Monstro do Pântano #47, Alan Moore e Rick Veitch), obteve como resposta uma poesia fragmentada, ditada em ecos pela própria natureza.
A terra se alimenta do que a natureza produz, os cadáveres de animais mortos se transformam em nutrientes capazes de fornecer energia para incontáveis espécies em desenvolvimento. As árvores são capazes de fornecer alimentos, que no final de seu ciclo vital, acabam por voltar, transformados mais uma vez, na força motriz que ajudará essas árvores a se manterem vivas, proliferarem.
Einstein disse que não podia acreditar que Deus jogava dados com o universo e, ao que tudo indica, estava certo. O equilíbrio natural, a simetria cósmica (e assustadora, apesar de bela), se mantém próxima da lógica racional aos quais os homens tanto tentam se adaptar.
A mesma lógica que conduz tratores e planta bombas com o objetivo de proteger, perseverar, recriar (mas, sem nunca compreender, é verdade), o mundo em que vivemos.
Não há lugar para o homem que não seja o seu. Pelo menos, é assim que temos nos condicionado a pensar nos últimos milênios.
Se amamos algo, esperamos prendê-lo numa caixa e guardá-lo só para nós mesmos. Nos achamos únicos, porque podemos sorrir, gritar, andar sobre duas patas e ainda podemos carregar para todos os lados pequenos troféus, símbolos da destruição eminente. Somos únicos, sim, mas não porque somos capazes disso tudo. Somos únicos, porque nos orgulhamos de cada pequeno átomo que somos capazes de desestabilizar e batizar, indo de encontro ao Big Crunch, ainda dispostos a tomar a dose diária de cerveja/café/novela/igreja, que nos ajuda a poder colocar as cabeças nos travesseiros, mesmo que sem dignidade alguma.
Não importa se a matança de baleias foi feita uma vez para impedir que um determinado povo de uma determinada região não morresse de fome. Hoje, ela é banalizada e se transformou num evento turístico, uma desculpa para que os frouxos e bem casados homens de negócios saciem sua inconcebível sede de sangue e curtam um maravilhoso pôr do sol, com o mar tingido de vermelho bem à sua frente.
O mesmo vale para cidades mortas, à beira da ruína, que se sujeitam a fábricas e monopólios destruidores, limitando-se a dar de ombros, aceitando que, pelo menos, podem levar comida para suas mesas. Por quanto tempo?
Aceitando que não se pode mais parar esse processo covarde e nada silencioso que o homem, com tanto prazer, executa, temos de nos perguntar como retardá-lo, como torná-lo útil.
A reforma deve acontecer em que níveis? Em que estágios? Como deve ser executada?
Talvez, ao fecharmos os olhos e percebermos que não mais ouvimos o canto dos pássaros, despertemos.
De qualquer forma, vale lembrar as palavras de Raul Seixas em As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor:
Buliram muito com o planeta
E o planeta como um cachorro eu vejo
Se ele já não aguenta mais as pulgas
Se livra delas num sacolejo
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