Nenhum super-herói virá nos salvar

Contágio

A tortura à procura da essência

O barulho aterroriza, tranca, lacra o peito

Sinal da paranoia, Sinal da paranoia, Sinal da paranoia

Vinte e dois anos, bicho. Entre março e abril de 1998, nas edições 17 e 18 de Batman Vigilantes de Gotham e Batman, a paranoia conspiracionista da vez batia no ventilador com força. No auge das epidemias de Ebola, Gotham City é atingida pelo vírus Apocalipse, parte de um plano secreto da Ordem de São Dumas (e Ra’s Al Ghul) para purificar o planeta, começando, como sempre, pela metrópole onde nunca é dia.

Logo, a cidade toda está contaminada e cabe ao grupo de heróis comandados pelo Homem-Morcego, a missão de encontrar uma cura para a doença. Como num filme do 007 ou Missão: Impossível que os roteiristas não conseguem fazer tudo se passar num só lugar, logo esse bando de gente fantasiada tá correndo o mundo atrás de sobreviventes do vírus, que passa a ser chamado pela população de “O Esmagador”.

Hera Venenosa, a vilã que é portadora de diversas toxinas, invade um condomínio de ricaços e passa a leiloar uma suposta cura entre a nata da sociedade. Trancados e isolados do resto da população, a princípio eles se creem a salvo do vírus, mas logo percebem que o mesmo está entre eles e passam a se entregar à barbárie, uma mistura de Anjo Exterminador com festa de Natal com aquele tio reaça em que todo mundo entra no modo “salve-se quem puder”.

É claro que cabe aos super-heróis e a incansável (e desprotegida) força policial comandada pelo Comissário Gordon, a missão de manter a cidade segura até que a cura chegue. E, sim, você também já viu essa trama, com pequenas variáveis, em Batman Begins (2005), O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) e, por que não, em Batman (1989). Os vilões não são tão criativos.

Contágio

Contágio

Mas o tempo também não é. Em 1918, pouco mais de cem anos atrás, a Gripe Espanhola chegou com tudo por aqui. Trazida por marinheiros americanos, a doença matou quinze mil pessoas em apenas um mês no Rio de Janeiro. As famílias começaram a jogar os corpos nas ruas para serem recolhidos por caminhões do governo e serem enterrados em lugares comuns.

Eeeei! Isso aqui é um site de cultura pop, cara. Não quero ficar apavorado enquanto ando com meu celular sebento, usando Havaianas e pisando na poça, dá licença!

Ah, desculpaí. É que caso você não tenha percebido, o Batman não tá aqui pra te salvar, meu amigo. E se você não assistiu a filmes o suficiente pra ficar meio pirado, paranoico, neurótico, com mania de limpeza e um leve nojinho de quem espirra do seu lado, vai aí uma listinha para aprendermos, nos unirmos e mudarmos. Porque, de que adiantará sobreviver a essa crise, se vamos continuar nos permitindo mergulhar em outra e outra…?

O Exército do Extermínio (1973)

George A. Romero já tinha ensinado ao mundo que devemos temer contaminações que deixam todos fora do estado normal em sua obra máxima, A Noite dos Mortos-Vivos, mas aqui ele deixa claro o que pensa do tratamento que o governo dá em casos de crises. Um casal vê a pequena cidade em que vivem ir pras cucuias enquanto um vírus experimental do governo se espalha, deixando todo mundo… bem, loucos. E, não bastasse isso, para impedir que tudo se espalhe, o governo manda bala nos contaminados. E em qualquer um que fique pela frente pra não contar a história.

Epidemia (1995)

Um grupo de cientistas luta para salvar uma cidadezinha americana depois que um vírus, trazido por um macaquinho traficado da África, se espalha. Sangue saindo pelos olhos, Dustin Hoffman e medo de agulhas. Precisa dizer mais?

Maggie: a Transformação (2015)

Arnold Scwharzenegger e Abigail Breslin interpretam pai e filha numa história dramática sobre zumbis, onde o governo recolhe todos aqueles que apresentam os primeiros sinais de transformação. Mas como um pai deixaria que levassem sua única filha, mesmo isso representando grande perigo, inclusive para a própria humanidade? Talvez a interpretação mais dramática da carreira do Exterminador do Futuro. A não ser que você conte Batman & Robin…

Flu: A Gripe (2013)

Filme sul-coreano sobre um vírus desconhecido que mata em 36 horas e é transmitido pelo ar. De todos, é o que dá mais nervoso. Recomendável pra quem quer colocar terror na família e mostrar a importância de lavar as mãos.

Há vários filmes do tipo que você pode ver, tipo Contágio em que o puto do Steven Soderbergh toca o terror de uma maneira que você nunca mais vai sair de casa sem luvas, álcool em gel e, talvez, um maçarico. Mas vamos com calma, escutem os cientistas (como disse o Arnold aqui) e tentem ser gentis e pacientes (mas só com vocês e os outros – cobrem do governo, cacete!) porque não sabemos o que acontecerá a seguir.

Ah, e pelamor de Deus, tapa a boca pra espirrar e tossir, moçada! E fiquem atentos aos sintomas. E se a parada ficar muito grave e os mortos se levantarem… ah, não, pera…