O que será do amanhã?

Amanhã

Eu escrevi uma centena de textos antes de você ler este. Começava, me perdia em pensamentos e não sentia prazer em finalizar um parágrafo. Durante a pandemia os meus pensamentos estão se perdendo como vento e sinto que nem os dias de semana fazem sentido. Já me peguei tentando lembrar qual dia era, e às vezes nem me importava se era hoje ou amanhã.

Quando eu era pequeno imaginava como seria foda fazer parte de algo histórico como guerras e revoluções políticas. Fui alimentado durante anos por livros, filmes e documentários sobre como um evento dessa magnitude era transformador na vida dos envolvidos. Mas a pandemia mudou totalmente essa percepção. Não é magnifico, é aterrorizante. Como viver quando todos estão sofrendo no mesmo barco?

Me fiz essa pergunta nesse tempo de pausa. Quantas coisas não aproveitei? Quantas deixei para um outro dia? Olhar para o céu e apenas aproveitar. O ritmo louco, mecânico e sem emoção em nossas vidas me impedia de enxergar o que realmente importava. A covid-19 nos mostrou como somos frágeis. Achamos que as pessoas que amamos vão estar sempre presentes, mas quando a morte bate à porta não há como impedir e a dor da perda brusca é devastador.

“Tudo vai voltar ao normal” é o que todos dizem, mas será? Eu não acredito que tudo voltará ao normal porque as pessoas não voltarão ao normal. Durante esse período de ruptura pudemos observar como somos egoístas e cegos, impedidos de ver o que realmente importa. As falas do presidente espelham um comportamento tóxico e são exemplo de algo muito presente na nossa sociedade, sem se importar com as palavras que podem machucar os atingidos pela pandemia. A falta de empatia é também vista em Copacabana, um dos bairros cariocas mais atingidos. Pessoas são vistas sem máscara e o comércio não essencial continua aberto. É como se as pessoas acreditassem que se ignorar a doença, ela sumirá e então tudo voltará ao normal.

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro, quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você” – Nietzsche.

Nós somos os nossos próprios monstros. Somos mortais, mas vivemos como imortais. Você está feliz com sua vida? Com seu emprego? Tem algo que te incomoda há anos e não resolve? Vale a pena carregar esse fardo até seus momentos finais? E os seus sonhos, onde eles foram parar?

Eu acredito que a imortalidade é conquistada através das lembranças deixadas em vida. Quando tudo isso passar, vou mudar meu foco e aproveitar mais os momentos com a minha família. Não vou gastar minha energia com causas perdidas e não me prenderei a críticas ou serei refém novamente dos meus medos. Na verdade, meu medo atual é ser esquecido quando morrer. Não quero o mundo de antes. Está na hora de um novo mundo pra mim. Quero sorrir para a morte e pensar que valeu cada segundo da minha existência aqui.

E você, como será o seu eu de amanhã?