Sombra e Ossos (2021), Leigh Bardugo e Eric Heisserer.
O Grishaverso, construído por Leigh Bardugo com influências da cultura russa, é um universo fantástico envolvente. E com seus oito episódios, a série explora isso muito bem. É um mundo em guerra onde existem pessoas com poderes mágicos especiais chamados Grishas, e eles são ora temidos ora ostracizados por sua condição. O reino principal da história, Ravka, os usa como poderosos soldados em seu exército.
Ravka é dividido por uma faixa de escuridão chamada Dobra das Sombras, uma região habitada por monstros terríveis. Durante uma viagem pela Dobra, a jovem cartógrafa Alina Starkov descobre que tem o poder de invocar a luz do sol. É um poder mítico que, de acordo com as lendas, seria capaz de desfazer a Dobra das Sombras. Por isso, muitos são aqueles que estão interessados em obter este poder e usá-lo para seus próprios interesses.
Ouça o podcast sobre a série aqui.
Sombra e Ossos melhora os livros, especialmente ao juntar duas sagas do Grishaverso em um único arco de história. A série adapta o primeiro livro, Sombra e Ossos, e a duologia Six of Crows. E integra habilmente estas duas narrativas. Embora seja fiel ao material de origem, faz mudanças que funcionam maravilhosamente. Os efeitos visuais são excelentes, a construção de mundo é sucinta e ainda assim perfeitamente compreensível à medida que a história avança, e os personagens são cativantes e bem desenvolvidos. Um destaque para Inej e Alina, as melhores personagens.
Inej é por seu estilo de assassina misteriosa e sombria, que aos poucos vamos descobrindo que não é tão assassina e tão sombria assim, embora ainda seja misteriosa. E esse mistério que torna a personagem charmosa.
Já Alina é a personagem principal, então é a que mais recebe atenção da história. Ela é agradável e vai mostrando que vale a pena acompanhar seu crescimento. Acertaram bonito na escolha da atriz, Jessie Mei Li. Aliás, acertaram bonito também em tornar Alina uma personagem com duas etnias. Ela é parte Ravka (russa), mas também é parte Shu (chinesa). Isso é algo que não ficava claro nos livros, mas a série transforma em algo explícito e essencial dentro do cenário, porque o reino de Shu Han é inimigo de Ravka, e por isso Alina muitas vezes é vista como inimiga por aqueles que deveriam ser seus aliados. Cria um conflito valioso para a trama.
E ainda melhor é que Alina não é tratada nem como a típica heroína de fantasia para jovens adultos, nem como o típico “protagonista escolhido”.
Há algum foco no romance e nos personagens masculinos por quem Alina se interessa romanticamente, mas isso não se torna o centro da história, o que é muito bom. O romance funciona para impulsioná-la, e proporciona algumas boas reviravoltas. E o aspecto “escolhida” gera situações desconfortáveis para ela (como ser venerada, o que é um bocado bizarro!) e ela própria não se deixa levar por essa coisa de “escolhida”, mesmo quando aceita seu poder e decide aprimorá-lo.
Apesar de ser a escolhida, ela permanece como uma estranha solitária nesse universo, mesmo entre outros Grishas. E aprende rápido a se virar sozinha para sobreviver. É uma personagem poderosa e que vai crescendo naturalmente. Eu gostei muito dela. E gostei bastante da série por causa dela.
Redes Sociais