O indestrutível (nem tanto) escudo do Capitão América

Capitão América

O Capitão América é um super-herói criado por Joe Simon e Jack Kirby nos anos 40 para as histórias em quadrinhos da Marvel Comics — que na época ainda se chamava Timely Comics. — Sua história acompanha um homem frágil chamado Steve Rogers, que aceita se submeter a um projeto experimental a fim de ajudar os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, recebendo o soro do super-soldado e se transformando no Capitão América. Seu traje é uma representação do ideal patriótico norte-americano que o herói representa e sua arma é um escudo indestrutível — ou quase —, que ele pode usar como defesa e também pode ser arremessado como uma arma. Inicialmente o escudo era triangular, mas depois assumiu a aparência circular que conhecemos hoje em dia.

Uma grande questão, no entanto, sempre esteve presente quando pensamos no herói e em seu escudo supostamente indestrutível.

Qual é o material usado na construção do escudo do Capitão América?

O escudo é construído com vibranium, um metal alienígena encontrado somente em Wakanda — nação de origem do Pantera Negra — e que possui propriedades únicas capazes de absorver vibrações. O escudo foi produzido pelo Dr. Myron MacLain, metalúrgico contratado pelo presidente Franklin D. Roosevelt para criar uma armadura indestrutível que pudesse ser útil durante a guerra. O experimento de MacLain foi realizado em conjunto com uma liga de ferro experimental — é aqui que entra a história do adamantium.

Durante muito tempo foi dito que o escudo indestrutível era composto por uma liga de vibranium com adamantium. Isso estabelecia uma contradição, já que o adamantium somente foi desenvolvido depois que o Capitão América reviveu de seu estado de animação suspensa, durante as experiências falhas do Dr. MacLain para duplicar o material do escudo.

Essa primeira aparição da composição vibranium-adamantium do escudo apareceu na descrição do Capitão América no Manual Oficial do Universo Marvel (1982), em que o adamantium era descrito como “ferro-vibranium”. Os dados do manual foram reproduzidos por vários autores que o utilizaram como referência ao longo dos anos, motivo pelo qual a confusão acabou se espalhando. Uma tentativa de corrigir essa controvérsia foi mostrada na revista Capitão América #303-304 (1985), que estabelecia que o escudo era feito de vibranium e uma “liga de ferro experimental”, mas isso não impediu a repetição da descrição “vibranium-adamantium” em várias histórias do herói.

Classificar o escudo como sendo de adamantium não está completamente errado, já que foi a própria Marvel que se enrolou na hora de descrever o item — algo que aliás é bastante comum nas histórias da editora —, mas é o vibranium que concede ao escudo suas capacidades incomuns. O material permite-lhe absorver praticamente todo o impacto cinético de quaisquer golpes que recebe sem ferir o Capitão América no processo.

O metal ainda teria uma leve influência na forma como o Capitão lança o escudo contra os inimigos, permitindo que o herói o faça ricochetear em objetos ou paredes próximas para atingir múltiplos inimigos sem que haja perda de velocidade da arma. Claro que isso desafia bastante as leis da Física em muitos aspectos. Mas estamos falando de histórias em quadrinhos de super-heróis. Da Marvel. O que você esperava? Certamente não é o lugar ideal para leis da física. E para falar a verdade, quem se importa? Eu quero mais é ver o escudo ricochetear insanamente e acabar com os caras maus.

Mas eu sei que você ainda pode estar sedento por alguns detalhes mais esclarecedores sobre o escudo. A Marvel sabe como essa questão de ricochete, energia cinética etc. é complicada. Afinal se o escudo absorve energia cinética, teoricamente, ele não deveria ricochetear. Deveria bater e cair. Talvez sim, talvez não, quem sabe. Ainda assim a editora tentou ao longo dos anos criar maneiras de tornar o ricochete mais (digamos) aceitável.

Em geral, o ricochete do escudo é atribuído à destreza aprimorada (pelos super-poderes) do Capitão América. É questão de jeito. Não de força ou do material do escudo. É o jeito como o Capitão atira o escudo que faz com que ele ricocheteie e volte para a mão do herói. O metal colabora com o ricochete, mas não totalmente. Além disso, apesar da destreza do Capitão América com seu escudo, também existe uma explicação na revista The Avengers 06 (1964), publicada recentemente no Brasil no especial Biblioteca Histórica Marvel: Os Vingadores nº 01, pela editora Panini (Os Poderosos Vingadores Encontram os Mestres do Terror). Nessa HQ, o Homem de Ferro cria um dispositivo com um poderoso magneto, que faz com que o escudo retorne após ser lançado. A explicação provavelmente foi uma tentativa de oferecer um pouco mais de credibilidade para essa habilidade de ricochete do escudo.

Quanto à indestrutibilidade do escudo… Isso é outra das confusões da Marvel que muitas vezes são solucionadas de formas esdrúxulas. Segundo consta, o escudo já foi danificado quatro vezes, mas em todas essas ocasiões, o escudo foi submetido a forças cósmicas poderosas capazes de modificar a matéria em escala massiva. Um desses casos foi quando Thor usou a força de Odin para golpear furiosamente o escudo durante um crossover que mostrou o embate entre o deus nórdico, o Homem de Ferro e os Vingadores. Em todas as vezes que foi destruído, o escudo foi restaurado por alguma força mística superior ou simplesmente reapareceu reconstruído sem qualquer explicação e como se nada tivesse acontecido.

Como tudo na Marvel, existem muitas razões para as características do escudo do Capitão América. Além das supracitadas, existem muitas outras histórias sobre o famoso item. Se eu fosse escrever sobre todas, esse texto ficaria gigantesco. Eu continuo com minha defesa: o escudo é feito de vibranium com adição de uma liga experimental de ferro — que não é necessariamente o adamantium. — Você deve ser sua própria forma de encarar o escudo. E o que importa mesmo é isso, a diversão das conversas que esses heróis nos proporcionam. Isso sim é um tremendo ricochete.