O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009), Terry Gilliam.
Um belo filme sobre sonhos e imaginação. Até certo ponto, lembra bastante Alice No País das Maravilhas. E de fato é... maravilhoso! Uma verdadeira viagem pela imaginação do personagem-título e de seu próprio criador. Terry Gilliam foi o único americano a integrar o magnífico grupo cômico Monty Python e é mais conhecido por sua tendência para produções surreais ou psicodélicas. Em sua trajetória estão filmes como: Os 12 Macacos, Os Irmãos Grimm, As Aventuras do Barão Munchausen e o clássico dos clássicos Monty Python e o Cálice Sagrado. Só por esta filmografia, já é possível ter uma noção do que esperar em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus. E Terry Gilliam surpreende.
Ouça o podcast sobre o filme aqui.
Na trama, o Dr. Parnassus (interpretado por Christopher Plummer), um homem com mais de 3.000 anos de idade, tem o dom de inspirar a imaginação das pessoas. Dono de uma companhia de teatro itinerante, ele conta com a ajuda de seu anão assistente Percy (o engraçadíssimo Verne Troyer) e do mágico Anton (Andrew Garfield) para oferecer ao público a chance de transcender a realidade e entrar no mundo ilimitado de suas próprias imaginações. No meio de sua jornada, a trupe encontra Tony (Heath Ledger, excepcional em seu último papel) pendurado em uma ponte, à beira da morte. Após ser salvo, ele passa a integrar a equipe, como forma de escapar de seu passado. O grande desafio de Parnassus, no entanto, é ganhar uma aposta feita há muito tempo com o Diabo em troca da liberdade de sua preciosa filha Valentina (a bela Lily Cole). O cantor Tom Waits, aliás, dá um show a parte na pele do Diabo, com um humor ácido e uma dualidade tamanha que é impossível você não simpatizar com aquela criatura vil que no fundo deveria ser o grande vilão da história.
Os personagens e a interação entre eles por si só já conseguem prender o telespectador. Porém, Terry Gilliam ainda nos brinda com a concretização em cena dos seus mais insanos devaneios, contrastados com toda uma realidade triste e decadente. A Londres onde se passa a história é sempre suja e escura, enquanto que o mundo imaginário é sempre permeado por momentos coloridos e brilhantes, roupas exóticas e situações bizarras. É um filme em que qualquer espectador precisa se desprender de seus preceitos de realidade e lógica para assimilar; algo que poucas pessoas são capazes de fazer atualmente e motivo pelo qual a produção certamente não agradará a todos. Gilliam mostra o quanto, mesmo que sutilmente, o quanto é difícil para as pessoas darem asas à imaginação nos dias de hoje.
Enfim, devo ressaltar que este é o último filme de Heath Ledger, que morreu durante as filmagens do longa, em janeiro de 2008. Para substituí-lo no papel de Tony, entram em cena Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. As mudanças entre os atores acontecem naturalmente dentro do mundo imaginário, de forma plausível para a história, e ainda fazem uma alusão às muitas faces que o personagem Tony apresenta. Uma solução perfeita; se o roteiro fosse inicialmente pensado dessa forma, talvez não tivesse ficado tão bom.
O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus é um filme que, com certeza, merece ser lembrado, não somente pelo rótulo de “último filme de Heath Ledger”, mas também pelo resultado magnífico proporcionado pela capacidade imaginativa de Terry Gilliam.
Redes Sociais