Bleach

Bleach

Bleach é o tipo de anime que trilha um caminho para sucesso já amplamente explorado por outros animes, como: Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco e YuYu Hakusho. Com este último, inclusive, as comparações são inevitáveis, já que ambos trabalham com a ideia de mundos espirituais e criaturas sobrenaturais. YuYu Hakusho é ótimo e possui uma história mais básica e linear (não que isto seja ruim); mas Bleach foge do lugar comum ao contar uma história repleta de intrigas e reviravoltas permeada por uma mitologia admirável. E isto é sensacional!

Ouça o podcast sobre o anime aqui.

O anime, como quase todo desenho japonês, é baseado numa série de mangás (quadrinhos japoneses) criada por Tite Kubo e lançada no Japão em 2002. No início, porém, Bleach foi rejeitado pela Weekly Shonen Jump, da editora Shueisha, por suas similaridades com o supracitado YuYu Hakusho e somente com o apoio de Akira Toriyama (autor de Dragon Ball) que Kubo conseguiu seguir em frente. Somente na segunda tentativa que seu trabalho foi aceito e, com isso, tornou-se uma das séries de maior audiência no Japão. Hoje, Bleach conta com mais de 400 capítulos no mangá, enquanto na TV já superou a marca dos 280 episódios.

Mas por que Bleach é tão bom?

Por causa da história e do carisma de seus personagens. Além disso, ao contrário do ocorre com muitos desenhos japoneses, o traço do anime é agradável e se mantém consistente ao longo dos episódios; poucas vezes, a animação decai.

Na trama, Ichigo Kurosaki é um garoto de 15 anos com capacidades sobrenaturais para perceber espíritos, mas que leva uma vida normal até que se depara com Rukia Kuchiki, uma Shinigami (que significa “Deus da Morte”) cuja responsabilidade é mandar as almas dos mortos para o outro mundo e purificar os espíritos caídos, chamados de Hollows. Ichigo acaba recebendo os poderes de Rukia e se torna um Shinigami honorário, realizando o trabalho no lugar da jovem Deusa da Morte. O problema é que Rukia acaba condenada à morte por seus superiores devido a transferência de seus poderes para o humano. Ichigo invade a Soul Society atrás de Rukia, junto com seus aliados Inoue Orihime, Uryuu Ishida e Sado Yasutora (também humanos com poderes especiais), e dá início a uma das sagas mais legais que já assisti num anime. No decorrer da saga, Ichigo torna-se um Shinigami completo e começa a descobrir poderes sobrenaturais estranhos até mesmo entre os Deuses da Morte. Mais tarde, outros personagens interessantes surgem para enriquecer a série; o verdadeiro vilão é revelado e, com ele, somos apresentados aos misteriosos Vaizards, Shinigamis que conseguem usar poderes de Hollows, e aos terríveis Arrankars, Hollows que conseguiram arrancar suas máscaras e desenvolveram poderes similares aos de um Shinigami.

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A narrativa é muito boa e recheada de: porradaria, mistérios, humor, seres sobrenaturais e disputas políticas. Os arcos, embora alguns mais fracos que outros, são bem amarrados e cumprem bem o seu papel de conduzir a história ao clímax que está por vir. Merece destaque a segunda temporada do anime, que engloba a Saga da Soul Society, local para onde os Shinigamis encaminham as almas dos mortos. A reviravolta que história dá durante esta saga define o rumo de todo o restante da série e é simplesmente sensacional. Não obstante, a temporada ainda é conduzida por uma das melhores músicas japonesas que já escutei: D-tecnoLife, da banda UVERworld.

Falando em música, a trilha sonora de Bleach é uma das melhores… simplesmente maravilhosa! Todas as músicas de abertura são ótimas e passam bem o clima do anime na respectiva temporada. Além da D-tecnoLife, cabe citar também a terceira abertura, Ichirin No Hana; a sétima, After Dark; e a mais recente, Change.

Com este enredo intrincado, a vasta gama de personagens e uma trilha sonora soberba, a série não tinha como ser ruim.

Os elementos que movem Bleach, contudo, são um espetáculo a parte. A começar pelos próprios Shinigamis. Cada um deles possui uma arma especial chamada Zanpakutou (que significa “espada cortadora de almas”). Esta arma normalmente se camufla sob a forma de uma espada japonesa (katana), mas, de acordo com as capacidades do usuário, pode assumir outras duas formas, ainda mais poderosas. Para tanto, o Shinigami precisa descobrir o nome de sua Zanpakutou e quando isso acontece, eles conseguem invocar a técnica conhecida como Shikai, que modifica a arma e libera seus poderes. Os Shinigamis mais avançados são capazes de proferir o nome completo de suas Zanpakutous através da técnica Bankai — que além de tornar as armas (e seus portadores) overpowers, também é sempre muito estilosa.

As Zanpakutous dão charme à série e, geralmente, são uma força que impulsiona o interesse dos espectadores. Afinal, uma vez que as formas das Shikais e Bankais são sempre diferentes, o público acaba sempre interessado em saber como é a forma e o poder das Zanpakutous que aparecem, principalmente quando o Shinigami que a empunha é maneiro. Alguns personagens ainda conservam este mistério e despertam muita curiosidade. A Tenente Yachiru Kusajichi, do 11º esquadrão do Gotei 13, por exemplo, é um caso claro; a Shinigami é infantil, despreocupada e brincalhona, mas já mostrou que tem bastante força e agilidade, por isso é inevitável não imaginar o quão foda deve ser sua Zanpakutou, principalmente com todo o mistério que fazem para mostrá-la.

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Aliás, se tem uma coisa que agrada na série, são os personagens, que estão entre as figuras mais carismáticas já criadas. Bleach nos apresenta uma quantidade absurda de personagens, todos com personalidades bem desenvolvidas, mesmo que às vezes de forma meio estereotipada. Dentre eles, alguns conseguem se destacar mais do que outros, como é o caso do Capitão Toshirou Hitsugaya, eleito por uma revista japonesa como um dos mais excepcionais personagens de animes da atualidade. Entre os que eu particularmente gosto, posso incluir ainda o Capitão Byakuya Kuchiki e sua irmã postiça Rukia Kuchiki (que tem um bizarro hábito de descrever suas ações com desenhos toscos). Os dois capitães supracitados (ou seja, excetuando a Rukia) estão entre os treze guerreiros supremos que compõem o Gotei 13, a divisão de elite especial da Soul Society. Estes 13 capitães abrilhantam o anime com sua presença. Somam-se a eles alguns personagens secundários que muitas vezes servem com alívio cômico na série, com destaque para Kon, o espírito tarado preso num ursinho de pelúcia, e Don Kan’onji, o louquíssimo apresentador de TV que exorciza espíritos e tem frases de efeito engraçadíssimas — Spirits are always with you! Bwahahahaha!!!

A série, mesmo com toda sua qualidade, não é perfeita.

O maior trunfo de Bleach, também é seu maior problema. O excesso de personagens muitas vezes incomoda, pois a história fica extremamente ramificada, com inúmeras subtramas acontecendo ao mesmo tempo. Esta falha afeta o dinamismo da história, que demora muito para ser resolvida e se estende exaustivamente ao longo de uma quantidade desnecessária de episódios.

Além disso, existem os fillers, que são os episódios criados para “encher linguiça” com o objetivo de “pausar” a história do anime para distanciá-lo dos eventos do mangá. É uma técnica comum no Japão, mas que NUNCA apresentam conteúdos relevantes e geralmente só servem para torrar a paciência do espectador. Bleach, no auge dos seus mais de 280 episódios, não foge desta regra. Os fillers são comuns, mas, ao contrário do que acontece em muitos animes, muitos destes episódios são até satisfatórios. Inclusive, o hilário Don Kan’onji que citei anteriormente é fruto de fillers, assim como vários outros personagens. Porém, quando uma série começa a se estender muito, a embromação começa a dar nos nervos e os fillers começam a ficar insuportáveis, como é o caso da última saga de fillers exibida — A Rebelião das Zanpakutous —, que foi chatíssima, mesmo apresentando personagens novos legais. Se alguém aí assiste animes e também não tem mais saco para fillers, sabe do que estou falando!

Enfim, Bleach é maravilhoso!

Se você nunca viu, você DEVE assistir.

Se você (como eu) já é fã, continue acompanhando firme e forte, porque o final está próximo (ou não…) e o que vem por aí promete ser arrasador.