Suspiria (1977), Dario Argento.
Considerado por muitos como a principal obra do diretor Dario Argento, Suspiria conta a história de Suzy Bannion (Jessica Harper), uma estudante de balé norte-americana que se muda para Frankfurt visando aprimorar sua arte. A escola de balé também é uma espécie de internato, pois suas alunas ficam, em sua maioria, hospedadas por lá. Na noite em que chega ao seu novo lar, Suzy vê uma das alunas ser expulsa do local, vindo a descobrir, mais tarde, que ela foi assassinada.
Aos poucos, Suzy vai se adequando à nova rotina, e ao mesmo tempo percebendo que a escola é muito mais do que aparenta: a cada pequeno detalhe, o ambiente vai se mostrando mais sinistro, com Suzy percebendo que há algo de errado, e que o local pode abrigar mais coisas do que uma mera escola de dança. A academia é um lugar doentio, de podridão, um ambiente de mistério agressivo e alienante para Suzy, em certo ponto, até mesmo tornando-se infestada de vermes.
O que nas mãos de alguém sem talento poderia ser apenas um filme trash com uma trama banal, nas mãos de Dario Argento transforma-se em obra-prima. Com seu estilo próprio, o diretor nos transporta a um pesadelo surrealista, onde o Diabo está sempre próximo, deixando-nos ouvir sua respiração. A viagem de Suzy rumo ao desconhecido é também a nossa viagem para as trevas, por meio de sugestões visuais que, permeadas de referências esotéricas, remetem ao Inferno, aos demônios e ao próprio Lorde das Trevas.
Argento fez sua primeira investida no sobrenatural com Suspiria, depois de trabalhar seu giallo sob aspectos mais técnicos, já que o giallo deriva dos suspenses policiais italianos. Com um olhar psicodélico, seu estilo de sobrenatural é repleto de cores vibrantes, vermelhos, verdes, azuis, de um jeito completamente alucinógeno. É impressionante estar na academia com Suzy. E apesar dos efeitos criados, Suspiria é surpreendentemente simples.
O filme é parcialmente baseado na obra Suspiria de Profundis, do escritor Thomas De Quincey, publicado em 1845. O diretor, porém, deixa transparecer outras influências, como no clima soturno, inspirado em escritores como Edgar Allan Poe, que transborda para a tela uma espécie de sinestesia do mal. O jogo de luz e sombras, a trilha sonora da banda Goblin, efeitos especiais, tudo isso provoca no espectador sensações fortes, trazendo-lhe as emoções que sentia quando era uma criança com medo do escuro. E aqui o escuro é realmente motivo de se ter medo!
Um dos filmes de maior sucesso do diretor, Suspiria é o primeiro de uma trilogia conceitual que Argento intitulou de “As Três Mães”. Os outros dois filmes são Inferno (1980) e O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas (2007).
Quanto à paleta de cores, Argento assume a influência do clássico da Disney Branca de Neve e os Sete Anões, tentando recriar a fotografia de cores vívidas da primeira animação longa-metragem dirigida pelo pai do Mickey Mouse. No mesmo sentido, segue o design de produção e o próprio roteiro, que tenta contar uma história de terror com clima de conto de fadas. A ideia original, inclusive, era que Suzy e as demais alunas fossem realmente interpretadas por crianças, mas o produtor Salvatore Argento (pai de Dario) o demoveu dessa ideia, uma vez que um filme tão violento estrelado por crianças teria dificuldades de ser exibido nos cinemas.
Obrigatório para qualquer fã do sobrenatural, Suspiria é uma verdadeira aula de cinema. Se você ainda não conhece o filme, faça um favor a si mesmo e o assista. E de preferência numa sala escura. Se você é fã de cinema, olhe mais fundo e veja as camadas por trás deste pesadelo desorientador e emocionalmente desconcertante.
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