Um dos filmes da Marvel para 2014 será Guardiões da Galáxia, um grupo de super-heróis menos conhecido da editora. Isso é realmente uma surpresa. Até agora a Marvel Studios tinha feito filmes baseados em seus personagens mais conhecidos, que estão mais presentes em nosso imaginário, graças às várias mídias em que aparecem: quadrinhos, desenhos animados, entre outras. Guardiões da Galáxia é algo diferente. Até mesmo para o fã mais heavy reader de quadrinhos. Para aqueles que acompanham os heróis apenas pelo cinema, seria ainda mais diferenciado. Em geral, os filmes da Marvel são direcionados aos fãs, mas não é só por causa deles que fazem sucesso nas bilheterias. Podemos considerar que essa é uma jogada bastante ousada da Marvel.
Supondo-se que um filme seria baseado nos Guardiões contemporâneos, em vez de encarnação original do grupo – que teve alguma popularidade nos anos 70 –, vale a pena conhecê-los melhor. Sem a mesma representatividade que teve nos anos 70, os Guardiões da Galáxia começaram a ser reformulados e modernizados em 2006 – logo o grupo usado no filme provavelmente será o grupo mais recente, por isso, focarei nele.
Os atuais Guardiões da Galáxia surgiram na sequência da saga crossover Aniquilação: Conquista. Nesta saga, a raça tecnorgânica Falange – conhecida por suas aparições contra os X-Men – aproveita-se da tentativa frustrada do Aniquilador de dominar a galáxia – na saga anterior chamada Aniquilação – e conquista o Império Kree, isolando-o do resto da galáxia. Para enfrentar a Falange, resta apenas um pequeno grupo de heróis que fica preso dentro do isolamento.
São esses heróis que formam os Guardiões da Galáxia, reunidos sob a liderança do Senhor das Estrelas (Star-Lord), um astronauta humano que usa um traje especial e duas armas elementais. Junto com ele estão: Adam Warlock, um humano artificial geneticamente modificado que já teve grandes participações em sagas cósmicas da Marvel; Drax o Destruidor, um espírito humano que habita um corpo alienígena criado para caçar e matar Thanos; Gamora, uma alienígena superforte e filha adotiva de Thanos; Phyla-Vell, a nova Quasar, protetora do Universo e filha de Mar-Vell, o Capitão Marvel original e um dos maiores inimigos de Thanos; Groot, uma criatura-planta alienígena; Moondragon, uma humana telepata e telecinética que é membro não-oficial da equipe; e, por fim, Rocket Raccoon, um guaxinim humanoide inteligente que é um exímio estrategista militar, um excelente piloto de naves e um usuário assíduo de armamento pesado – mas, sim, ele é um guaxinim!
Como dá pra notar, trata-se de um grupo BASTANTE heterogêneo e peculiar; e vincular esses heróis aos heróis consagrados no cinema – Homem de Ferro, Capitão América, Thor – será algo complexo, tematicamente falando. Os heróis da Marvel apresentados no cinema recentemente têm o que, na falta de uma palavra melhor, eu definiria como uma atmosfera mais “aceitável” para o público que acompanha os personagens no cinema, mas não conhece muito dos quadrinhos.
Os Guardiões da Galáxia fogem do convencional, ou do que o público encararia como “aceitável”, afinal estamos falando de um filme estrelado por um guaxinim com foguetes (basicamente). Se a Marvel Studios já andava preocupada em liberar o filme do Homem-Formiga para ser produzido – e olha que é um herói um pouco mais conhecido –, imagina as preocupações que rondariam um filme tão diferente do que vem sendo mostrado nas telonas.
Não é que as sagas cósmicas da Marvel, que seguiram o sucesso dos tempos áureos de Stan Lee e Jack Kirby, fracassaram para seus personagens. Eles apenas não ganharam tanto destaque porque eram heróis com superpoderes mais genéricos e sem a mesma criatividade dos pesos pesados da editora, construídos basicamente dentro de uma mitologia interna da Marvel. Eles não eram como os heróis humanizados da época Lee e Kirby, mas seres superpoderosos e aventurescos, mais inspirados nas temáticas da ficção científica que eram muito populares na época. Nos anos 80, a venda destas histórias cósmicas caiu abruptamente e seus personagens acabaram passando para o segundo escalão da editora, tornando-se menos difundidos do que aqueles que vemos no cinema hoje em dia.
Existe, contudo, um ser cósmico que aparece vinculado às histórias de grande parte destes personagens: Thanos, o grande vilão que aparece na cena pós-créditos de Vingadores. Se lembrarmos da presença do vilão na saga que a Marvel está construindo nos cinemas, torna-se compreensível um filme envolvendo os Guardiões da Galáxia – especialmente porque a maioria dos heróis do grupo tem alguma ligação com Thanos.
Levemos em consideração o Loki, que ganhou bastante destaque em Vingadores. Loki foi um inimigo tão sensacional de acompanhar na tela quanto os heróis que o enfrentavam. Mas ele não apareceu do nada; foi apresentado anteriormente no filme do Thor e desenvolvido para ser o vilão de Vingadores.
A aparição de Thanos na cena pós-créditos do filme certamente deixou os fãs enlouquecidos – e satisfeitos com as possibilidades futuras. – Mas muitas pessoas que não acompanham os quadrinhos ficaram confusas com a referência – muitos até mesmo pensaram que ele era o Caveira Vermelha de Capitão América. – Isso é porque Thanos é pouco conhecido do grande público também. É mais conhecido pelos fãs. Sendo assim, usá-lo sem uma introdução prévia poderia deixar um monte de gente confusa. Ou não. Nunca se sabe. Apresentar Thanos melhor em um filme dos Guardiões da Galáxia poderia dar ao vilão o reconhecimento necessário para torná-lo o grande algoz dos heróis principais da Marvel em Vingadores 2 ou Vingadores 3, dependendo do que o estúdio esteja planejando para sua maior franquia.
Da mesma forma, não podemos nos esquecer da famigerada Manopla do Infinito, que já apareceu rapidamente no Arsenal de Odin no filme Thor. Nos quadrinhos, Thanos é conhecido por ser um tirano que tenta a todo custo destruir o universo em nome de sua veneração à morte. A Manopla do Infinito é a arma que lhe concede o poder de um deus e com a qual Thanos quase apagou o universo. Durante a Saga do Inifinto, o vilão é combatido por vários heróis, incluindo os Vingadores.
A Manopla do Infinito é motivo para vários confrontos cósmicos do Universo Marvel – mais do que qualquer outro artefato – e na maioria das vezes colocou o vilão Thanos contra os heróis Adam Warlock ou Mar-Vell, nomes que estão vinculados de alguma forma aos Guardiões da Galáxia.
Isso sem falar em outros possíveis heróis cósmicos que podem ser aproveitados pela Marvel no cinema. O personagem Nova, por exemplo, tem recebido bastante atenção nos quadrinhos atualmente, especialmente por sua aparição na saga Vingadores vs. X-Men. Ele se tornará inclusive membro dos Vingadores.
Claro que para a Marvel Studios usar grande parte de seus heróis cósmicos seria complicado, pois personagens mais proeminentes como o Surfista Prateado e Galactus estão sob direitos da Fox, junto com o Quarteto Fantástico – e não acho que rolaria uma parceria entre os dois estúdios nesse sentido. – A própria Falange, os vilões alienígenas que dão origem aos Guardiões nos quadrinhos, também não seriam usados, pois estão com a Fox, junto com os X-Men.
Ainda não dá para imaginar ao certo o que vai ser feito desse filme Guardiões da Galáxia. Tudo o que podemos fazer no momento é especular e esperar. Mas é um fato que a Marvel tem nas mãos uma ideia que pode expandir de forma inusitada seu universo nos cinemas e ainda trazer algo digno de ficção científica para suas histórias. Seria um universo completamente diferente e ainda poderia estabelecer uma grande ligação com os Vingadores. Sagas de super-heróis no espaço normalmente têm potencial para o sucesso. Pode sair um bom filme deste grupo de super-heróis. O que eu posso dizer é: QUE FODA a ideia de um filme com os Guardiões da Galáxia!
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