Moonrise Kingdom (2012), Wes Anderson
Um filme sagaz e divertido sobre a juventude, com todas as suas descobertas, controvérsias e seus momentos de transição para a vida adulta. Mais do que isso, com tantas histórias recentes voltadas para nos levar de volta aos arroubos juvenis, é interessante ver um filme que nos lembra de como era ser jovem e almejar a vida adulta.
Hoje, os adultos se esforçam para prolongar sua juventude, e os jovens se esforçam para prolongar sua juventude, ninguém quer assumir as responsabilidades de amadurecer. Não há tanto daquele sonho inocente de ser um adulto e ser independente e ser dono de suas próprias escolhas, o velho “o que quero ser quando crescer”. O longa mostra o quão diferente pode ser um jovem com esses anseios adultos em meio a um bando de adultos que teimam em permanecer jovens. E, mesmo assim, o faz sem perder a inocência.
Moonrise Kingdom se passa em 1965, numa ilha que parece saída de uma bela pintura, onde um menino e uma menina se apaixonam à primeira vista. Por causa desse amor, Sam (Jared Gilman), um órfão, foge do acampamento de escoteiros para encontrar Suzy (Kara Hayward), com seus olhos delineados e suas meias até os joelhos. Os dois partem numa idílica viagem romântica, perseguidos por um bando de adultos com sérios problemas morais.
O diretor Wes Anderson retorna ao live-action depois de sua empreitada com a divertida e excêntrica animação O Fantástico Sr. Raposo. Moonrise Kingdom é tão excêntrico quanto, porém de uma forma mais sincera, com uma inexpressividade engraçada e uma melancolia adorável. É quase como assistir a um filme de verão da década de 60 através de um mundo gigantesco entremeado por um universo paralelo de conto de fadas.
Todavia, Anderson, com seus enquadramentos perspicazes e sua estilização meticulosa da época, ainda permite que o ambiente transborde com sua história singela de amor pintada a aquarela. Tudo é pura fantasia, algo que se torna ainda mais claro quando Suzy decide revelar seus pertences a Sam — sua mala está repleta de livros de fantasia, que ela lê para seu amado numa exaltação dos sonhos juvenis de um amor genuinamente adulto.
Essa ternura, reforçada pelas performances apaixonantes de Jared Gilman e Kara Hayward, movimenta a história e está entre os grandes méritos do filme. Porém, os adultos que não parecem tão adultos assim, são igualmente excelentes.
Frances McDormand e Bill Murray interpretam os pais de Suzy, que suportam um casamento em ruínas enquanto se preocupam com seus filhos. McDormand e Murray são hilariantes dentro da tragédia pessoal de seus personagens, especialmente Murray, que aqui é a maior representação do adulto que não deseja amadurecer e, por isso mesmo, não consegue enfrentar as consequências negativas de suas escolhas.
Edward Norton aparece absurdamente engraçado como o chefe do acampamento de escoteiros de onde Sam escapa. Ao contrário de Murray, o personagem de Norton é mais uma caricatura em meio àquele conto de fadas, uma caricatura bem-vinda e divertida. Norton tem uma atuação excepcional, com um pânico contido por sua postura de escoteiro veterano que não pode se abalar com o que está acontecendo. Isso sem falar nas caras que ele faz quando alguma coisa importante no filme acontece. Fantástico.
Há também o policial local interpretado por Bruce Willis, ótimo como sempre. Incrível como Willis consegue se sair bem não importa o papel que coloquem na mão dele. Os momentos em que contracena com o jovem Gilman são realmente tocantes. Somam-se ao ilustre elenco: Tilda Swinton como uma assistente social que parece saída de um campo de concentração nazista; Harvey Keitel como o chefe dos chefes dos escoteiros; e Jason Schwartzman como um escoteiro de índole duvidosa que rende momentos impagáveis.
Todos esses elementos resultam num filme discreto e dotado de uma magia que desperta paixão pelos sonhos da juventude e pelas possibilidades da vida adulta — e por tudo isso junto. Ainda que jovens e adultos sejam diferentes e pensem diferentes, no fim, o que se mostra mais forte em todo o conceito surreal dessa narrativa é que o equilíbrio entre a criança e o adulto é o verdadeiro propulsor da maturidade, capaz de promover os maiores acertos de contas, as grandes demonstrações de amizade e os atos mais heroicos. Seja você jovem ou adulto ou ambos, esse é o tipo de filme capaz de tocar fundo em seu espírito e te fazer perceber, mesmo que por um instante, como pode ser bonito o Reino Onde Nasce a Lua.
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