Evil Dead: A Morte do Demônio

Evil Dead A Morte do Demônio

Evil Dead A Morte do Demônio

Evil Dead: A Morte do Demônio (2013), Fede Alvarez.

Jovens protagonistas numa cabana na floresta, descobrem uma porta de uma adega manchada de sangue, um deles começa a ler o livro dos mortos, e então, dá merda. Mia, a protagonista, aparece horripilante e sombria, acontecem monstruosidades sinistras, e muito gore, incluindo uma das meninas serrando o braço quando ele começa a ser possuído por alguma coisa, e outra, grotescamente possuída, rasgando a língua com uma navalha. Este remake homenagem da série Evil Dead é uma carnificina fenomenal.

Ainda que tenha várias diferenças em relação à obra original, o novo Evil Dead apresenta um reinício em cima das raízes criadas por Sam Raimi anteriormente. A história segue um grupo de amigos que se refugiam numa cabana isolada, descobrem o Livro dos Mortos e acidentalmente libertam uma horda de demônios que começa a persegui-los e possuí-los um por um.

Evil Dead, o primeiro, ajudou a configurar o tema dos filmes de terror em cabanas na floresta, um subgênero antigo, mas ainda bastante familiar aos fãs de terror contemporâneo. É um filme que começou violento e pesado, e aos poucos foi ganhando ares mais de galhofa em suas continuações: Evil Dead II e Army of Darkness. A galhofa, até certo ponto, também se tornou parte do subgênero, tanto que recentemente produziu o maravilhoso terror-galhofa O Segredo da Cabana.

Evil Dead: A Morte do Demônio é fortemente inspirado pela atmosfera sombria do original, mas sabe construir sua própria identidade. É um filme pesado, macabro e aterrorizante. Os amigos Sam Raimi e Bruce Campbell, criadores da série, têm participação ativa na produção, o que é muito bom.

O roteiro foi escrito pelos uruguaios Fede Alvarez e Rodo Sayagues, revisado para se adaptar melhor ao inglês por Diablo Cody, já que inglês não era o idioma nativo dos escritores. Alvarez assumiu a direção do filme por causa de seu curta-metragem Ataque de Pánico!, que foi lançado no YouTube, e se tornou tremendamente popular em pouco tempo.

Na história, Mia (Jane Levy) é uma viciada em drogas que viaja para uma cabana antiga de sua família para tentar se livrar do vício, acompanhada por seu irmão David (Shiloh Fernandez), sua enfermeira Olivia (Jessica Lucas), e seus amigos de infância Eric (Lou Taylor Pucci) e Natalie (Elizabeth Blackmore). Sem as drogas e sofrendo com a crise de abstinência, Mia se torna imprevisível e incontrolável. É quando eles encontram o Necronomicon, o Livro dos Mortos, também conhecido como Naturon Demonto. Intrigado, Eric lê o livro e desperta forças malignas na cabana. Mia é a única que sente alguma coisa estranha no lugar, mas por sua condição, acaba sendo ignorada. Em meio à situação de terror, seus amigos não conseguem distinguir se ela está possuída por alguma coisa ou não.

O roteiro aprofunda razoavelmente as relações entre os personagens e desenvolve habilmente essa premissa de dúvida entre garota drogada e garota possuída. Essa é uma atualização interessante, que cria um arco convincente para o enredo e até para as motivações dos personagens estarem ali e permanecerem ali. O primeiro Evil Dead era, em menor grau, sobre enfrentar seus demônios internos. Lutar contra a dependência de drogas é enfrentar seus demônios internos. Lutar contra a dependência de drogas e contra forças malignas que querem possuir sua alma é enfrentar seus demônios. Ponto.

Dito isso, A Morte do Demônio é pura matança e demônios. Alvarez dirige com o mesmo vigor maníaco de Raimi, com câmeras rasantes através da floresta, enquadramentos milimetricamente planejados, ângulos inclinados, closes intensos, erros de continuidade que parecem propositais, e sequências desenfreadas de violência extrema.

O terror é alegremente ensandecido, e isso é o que torna o filme sensacional, com sangue cuspido em jatos, membros decepados, eletrodomésticos sendo usados como armas, e toda sorte de imagens repugnantes e gratuitas despejadas e repetidas à exaustão, desde uma agulha encravada no olho até uma língua sendo rasgada por um estilete. Terror à moda antiga. Totalmente insano. É um filme sobre a maldade pura e simples.

E curiosamente, é divertido. O humor sacana e maquiavélico do Sam Raimi está no filme e funciona como em Arraste-me para o Inferno. É engraçado quando os personagens começam a gritar coisas como “o que aconteceu com seus olhos?” para uma pessoa visivelmente transformada num monstro possuído. Isso sem falar na síndrome de Ash do sujeito que é arrebentado com porradas, pregos, tiros, agulhas etc., e não morre por nada!

Aliás, por falar em Arraste-me para o Inferno, este último filme de terror feito pelo Sam Raimi também tem suas influências em Evil Dead: A Morte do Demônio, com o demônio que aparece ilustrado no Necronomicon quando os jovens encontram e abrem o livro. O demônio é o Lamia, aquele mesmo cabeça-de-bode que azucrina a vida da protagonista de Arraste-me para o Inferno. Sempre tive a impressão de que o cenário de Arraste-me para o Inferno se situava no mesmo universo ficcional de Evil Dead, e depois desse filme, tenho certeza. Se um dia colocarem todos esses universos, Evil Dead, Arraste-me para o Inferno e Evil Dead: A Morte do Demônio, juntos, num filme só, vai ser lindo!

A Morte do Demônio também é uma grande homenagem a toda a iconografia da série Evil Dead, não só pelos elementos da série que aparecem no filme, mas pela forma como são usados, desde a mulher possuída forçando passagem pela escotilha acorrentada no soalho até o livro proibido com capa de pele humana e páginas cheias de rabiscos profanos, passando por mãos possuídas e braços arrancados na serra. O filme é dividido em três atos, e o mais legal é ver que cada ato contempla um pedaço da trilogia original de Sam Raimi: o primeiro ato começa com elementos Evil Dead, o segundo aproveita Evil Dead II, e o terceiro (e melhor de todos) é um festival solene de horror macabro inspirado em Army of Darkness.

Evil Dead: A Morte do Demônio não é apenas remake de um único filme. É um remake para a série inteira. Com direito a cena pós-créditos instigante. Não é igual às versões originais, mas funciona maravilhosamente bem como um potencial novo caminho a ser seguido pela franquia clássica. É uma coisa totalmente nova com jeitão antigo.