Entrevista com Freddie Highmore sobre a série Bates Motel

Bates Motel

Foto de Christiano Rubin.

A cena é icônica: uma mulher entra no chuveiro, num banheiro branco. Ela lava seu corpo despreocupadamente e, de repente, surge uma sombra por trás da cortina, empunhando uma faca de cozinha. A mulher grita, e o homem a esfaqueia, uma, duas, três, várias vezes. A mulher cai, sem vida, no chão do banheiro, puxando a cortinha para baixo, enquanto o sangue escorre com a água pelo ralo.

A vítima era Marion Crane, e o assassino, Norman Bates. Essa é a cena que tornou o filme Psicose um marco na carreira de Alfred Hitchcock e na história do suspense no cinema. Não era apenas a protagonista sendo assassinada brutalmente, era uma junção perfeita de técnicas de câmera, trilha sonora, sensualidade e tensão que provocavam um horror legítimo.

A série Bates Motel, produzida pelo A&E, leva sua história para a época contemporânea enquanto mergulha na mente de um Norman Bates adolescente. Mais do que isso, explora a complexa relação de Norman com sua mãe, Norma Bates. Se você conhece o filme Psicose, ou o livro no qual foi inspirado, escrito por Robert Bloch, você sabe como a história termina.

O show tem um grande elenco de atores que inclui também Vera Farmiga, Max Thieriot, Olivia Cooke, Nicola Peltz, Nestor Carbonell e Mike Vogel.

O ator Freddie Highmore, que interpreta o Norman Bates adolescente, esteve no Brasil para divulgar a série, que estreia em breve por aqui. Numa entrevista coletiva que aconteceu no Rio de Janeiro, ele falou sobre sua experiência com o show, sobre a relação de Norman com a mãe, e sobre até que ponto a série pode se tornar sombria e psicologicamente tensa.

A cena do chuveiro, no entanto, não deve ser refeita, já que Norman ainda é um adolescente, e seu instinto homicida ainda está aflorando. Apesar disso, o ator falou rápido sobre a cena, que ele considera importante — “Uma coisa interessante para mim é que na época que o filme estreou a coisa mais chocante era aquela cena do chuveiro e a sensação de medo que provocava e ainda provoca.”

Highmore disse ter assistido a Psicose pela primeira vez quando tinha uns 13 ou 14 anos, e ficou impressionado, e a série pode ser tão sombria quanto o filme — “Eu acho que isso é por causa da tensão psicológica por trás de Bates Motel. De mesma forma que o filme Psicose é particularmente explícito de diversas formas.”

Na trama, após a trágica morte de seu marido, Norma Bates (Farmiga) compra um motel na periferia da idílica cidade costeira White Pine Bay, em busca de um novo começo com seu filho Norman (Highmore). Em sua nova casa, os dois percebem que a cidade não é exatamente o que parece, e os moradores não parecem tão dispostos a deixá-los em paz com seus segredos. Os Bates, no entanto, vão fazer o que for preciso para sobreviver — e vão fazer o que for preciso para proteger seus segredos.

O Norman Bates de agora parece mais uma vítima das circunstâncias e da tragédia da família dele do que um assassino cruel. Sobre isso, Highmore disse o seguinte — “Acho que a série é sobre a natureza humana, e nós podemos vê-lo como vítima, porque ele começa como uma vítima graças à relação complexa que ele tem com a mãe, mas isso é sobre o que Norman Bates está destinado a se tornar por causa disso. Por um lado, podemos nos identificar com ele, podemos apoiá-lo, mas por outro lado, ele não tem força para se controlar e isso faz dele mais e mais perigoso com o passar do tempo.”

De fato, a dinâmica entre Highmore e a atriz Vera Farmiga é realmente horripilante, e ele falou sobre isso — “Acho que há uma tentação óbvia ali, que nós resistimos porque achamos que é muita coisa e cedo demais. Falando sobre Vera, ela é fantástica, nós trabalhamos sobre essa pressão da mentalidade de Bates e as pessoas perguntam sobre ela, e eu digo que ela é brilhante e fantástica. Eu espero que não soe falso por causa dessa forma que uso para descrevê-la, mas ela é maravilhosa, e como atriz, ela sempre está te colocando para cima. Ela chega com ideias novas todos os dias para gravar, e ao mesmo tempo é receptiva com suas ideias já que ambos estão colaborando, e ela é sempre viva em cada cena, sempre mudando o modo como ela interpreta algo de acordo com o momento, e ela sempre está aberta para novas ideias. Por isso, pra mim, é emocionante trabalhar com ela.”

Aproveitando a deixa, o ator contou sobre como sua mãe se sente ao vê-lo com Farmiga na série e sobre como sua família apoiou sua carreira desde o início — “Acho que minha mãe considera as cenas estranhas, mas existem outras coisas. Outro dia, ela disse que deveria acontecer uma cena de beijo em algum momento, não necessariamente entre Norman e a mãe, mas entre Norman e alguém. Mas não é o tipo de coisa que ela gosta de assistir. Falando sério, minha família sempre me apoiou, e estar aqui se deve em grande parte ao apoio que me deram. Meu pai costumava me acompanhar nas filmagens que eram no exterior, e quando você cresce é que você vê o grande compromisso que sua família teve. Viajar é fantástico, mas ao mesmo tempo, você reconhece que ter parte da família em um lugar e parte em outro pode ser complicado. Por isso, eu sou realmente agradecido por tudo que fizeram, e claro, a minha mãe por ter que aturar esse relacionamento.”

Highmore também revelou suas inspirações para compor seu personagem, o que inclui o trabalho de Anthony Perkins, ator que interpretou Norman Bates no filme — “Max (Thieriot), que interpreta Dylan (irmão mais velho de Norman na série), e eu já conversamos algumas vezes sobre Ed Gein, que foi originalmente a inspiração para o livro Psicose, no qual Hitchcock baseou o filme, e pesquisar a vida dele foi uma fonte de inspiração. A interpretação de Anthony Perkins foi realmente icônica, mas nós nos sentimos livres para reinventar o universo em que Norman Bates cresceu, especialmente trazendo para um cenário contemporâneo. Nunca tive a intenção de imitar o trabalho de Perkins, mas eu usei alguns de seus trejeitos para as pessoas que gostam do filme. Pegar alguma parte disso e tornar crível, mas sem me sentir preso ao que veio antes.”

Freddie Highmore é bastante reconhecido por ser o garotinho Peter no filme Em Busca da Terra do Nunca, e por ser o Charlie no novo A Fantástica Fábrica de Chocolate, papéis em que aparece como um menino legal, bonzinho e meigo. Perguntado se isso ajudava a fazer um Norman Bates que consegue ser assassino e adorável ao mesmo tempo, a ponto de cativar as pessoas, o ator respondeu — “Acho que essa é parte da razão pela qual eu fui convidado para o papel. Você tem um Norman Bates em quem você pode acreditar e por quem você torce mesmo sabendo quem ele será no futuro. Foi um desafio interessante pra mim, uma grande transição entre esses tipos de personagens. Fica um pouco chato pra mim e para as pessoas que assistem se eu interpretar o mesmo personagem várias vezes. Então, é bem legal ser um assassino.” [Risos]

Bates Motel está sendo considerado um dos melhores lançamentos do ano, e estreia dia 04 de julho aqui no Brasil, no canal pago Universal Channel. Graças ao sucesso alcançado, a série já foi renovada para a segunda temporada.