Foto de Christiano Rubin.
Elysium é o segundo filme dirigido por Neill Blomkamp, uma ficção científica que além da ação e da estética cibernética suja, também aborda bastante questionamentos sócio-econômicos que se aproximam dos problemas enfrentados pela sociedade contemporânea.
O filme é estrelado por Matt Damon, Jodie Foster e Sharlto Copley, mas também é conhecido como o filme que tem o Wagner Moura. WAGNER. MOURA. Estreando em seu primeiro papel hollywoodiano, e atuando em inglês, ao lado de sua amiga, a também atriz brasileira Alice Braga — que é a pessoa mais adorável do universo!
Durante uma entrevista ao Nível Épico que aconteceu no Rio de Janeiro, os dois atores falaram sobre suas experiências com filmes internacionais, sobre os temas abordados por Neill Blomkamp, e sobre trazer o Lázaro Ramos com eles nos próximos filmes!
Qual a grande diferença de fazer um filme brasileiro e fazer um filme de Hollywood? O que é mais impactante nessa hora?
Alice: Com certeza é o dinheiro envolvido e o tamanho do filme. O cinema de lá é uma indústria muito forte; um filme de 100 milhões de dólares tem uma estrutura gigante, e é feito em seis meses, enquanto aqui no Brasil, normalmente a gente filma um projeto em seis semanas. Mas na maneira de fazer cinema, a relação diretor/ator/ equipe, a estrutura básica e como tudo é feito, é parecido, a única diferença mesmo é o orçamento.
Wagner: Eu me comportei lá da mesma forma que me comporto num filme brasileiro, tentei entender o diretor e fazer o filme da forma como ele queria, dando ideias e sugestões, o que era bastante tranquilo porque o Neill é um cara muito aberto, e incentivava muito o improviso.
Como é lidar com a pressão pelo trabalho num filme grandioso como Elysium, e esse orgulho por vocês serem brasileiros fazendo filmes lá fora?
Wagner: Eu sempre evito pensar que eu tenho uma pressão, pro meu próprio instinto de sobrevivência. Não penso na pressão, penso que o negócio tem que ser feito, da melhor forma possível. Por outro lado, as pessoas ficam felizes por vê-lo na TV ou no cinema, e você fica querendo corresponder esse sentimento bom e de carinho que as pessoas têm com você. Por isso, eu tento ser criterioso com as coisas que eu faço, tento fazer bem, e não fazer nada que manche a minha imagem ou a imagem do meu país. Mas na hora de fazer, dificilmente, paramos para pensar nessas coisas; temos que chegar lá, focar no trabalho e fazer. Talvez essa responsabilidade seja mais relativa à escolha do que você vai fazer do que propriamente na hora de fazer.
O mais difícil mesmo era na hora que a gente voltava para o Brasil. Pra mim, acho que o mais difícil era estar longe de casa. Acho que depois de Elysium, os convites para filmes internacionais vão aumentar, o que não quer dizer que vou aceitar tudo o que aparecer. Só vou fazer se eu gostar e achar que vale a pena.
Como RoboCop?
Wagner: Pois é, o José Padilha até me chamou pra fazer uma participação especial em RoboCop, mas não pude por causa do Serra Pelada — filme nacional que estreia em breve nos cinemas.
Muitas histórias de ficção científica normalmente mostram no futuro uma representação do presente da nossa sociedade. Vocês veem a temática do filme como um reflexo das nossas questões sociais, especialmente em relação aqui ao Brasil?
Wagner: O filme realmente mais propõe um paralelo com o mundo de hoje do que tenta prever um futuro; acho que ele tenta colocar uma lente de aumento em problemas evidentes na sociedade, como segurança, diferenças sociais, deficiências no sistema de saúde, que são coisas que são problemas para os Estados Unidos, mas pra nós brasileiros talvez sejam os maiores problemas, e são problemas históricos, que fazem parte da realidade do brasileiro há muito tempo.
O Neill é bastante politizado e crítico com relação a essas questões sociais e o que acho que ele quer dizer com o filme é que existem pessoas mais ricas do que outras, mas que o tamanho dessa diferença é uma coisa que seria possível equacionar de uma forma que pudéssemos ter uma sociedade mais igualitária, não exatamente como queria o Marxismo, com todas as pessoas vivendo em condições plenamente iguais, porque isso é utopia mesmo, mas de uma forma que as pessoas tenham condições dignas de vida.
Além de vocês dois, existem outros atores estrangeiros no filme. Como vocês acham que isso influência no filme e no trabalho de vocês durante as gravações?
Alice: Eu sinto que o mercado estrangeiro hoje em dia está mais aberto, e cheio de possibilidades para atores latino-americanos, não só em Hollywood, mas em outros lugares também. Alguns personagens que são escritos para atores de língua inglesa, mas às vezes, dependendo das possibilidades e dos testes de atores, eles gostam e acham que vale a pena serem interpretados por atores de outras nacionalidades. Além disso, os realizadores hoje estão visando muito o público internacional do que só o mercado norte-americano, por isso, o espaço está abrindo cada vez mais.
O Wagner e eu, logicamente, temos sotaque, não somos americanos. Só se mudássemos pra lá e trabalhássemos o tempo todo em inglês que poderíamos perder o sotaque, como a Charlize Theron, que se mudou para os EUA e perdeu o sotaque africano que ela tinha.
Mas o Elysium, de qualquer forma, ele busca o sotaque. Foi uma opção do Neill Blomkamp, que chamou atores de várias nacionalidades; tanto que quando ele chamou o Wagner, ele queria o Wagner, porque ele virou fã de Tropa de Elite, e já tinha essa noção de que não queria um ator norte-americano. Ele queria montar o elenco dessa forma mesmo.
Wagner: Ele tinha essa intenção de reforçar a questão da exclusão social global através desse elenco variado, com vários sotaques diferentes e muitos atores de países que enfrentam esse tipo de problema, como México, África do Sul e Brasil.
No meu caso, eu já tinha assistido ao Distrito 9 (primeiro filme de Neill Blomkamp) e tinha gostado muito, e ele assistiu e adorou Tropa de Elite. Então, ele me fez o convite, e eu entendo por que ele gostou tanto do Tropa de Elite. Acho que Distrito 9 tem muito em comum com o Tropa de Elite: são filmes que atingem um público grande, mas com um conteúdo político muito forte. Ele me mandou o roteiro, eu achei o personagem incrível e aceitei.
Alice: Já eu entrei porque o Wagner indicou, e agora eu tenho que pagar pra ele. [risos]
Wagner: Sabe como é, a gente entra e bota a galera junto. [risos] Vamos dominar tudo. Mas eu fiz isso em benefício próprio também, porque quando a Alice entrou no filme mudou completamente pra mim. Ela estar lá era outra coisa, era muito mais confortável. Sem ela, minha vida lá não teria sido a mesma coisa. Nós somos muito amigos, desde o filme Cidade Baixa, e com essa experiência que ela tem, me senti mais seguro com ela.
Vocês tentaram em algum momento forçar uma barra, de leve, para os personagens de vocês aparecerem numa cena juntos?
Wagner: Eu acho que meu personagem é pai daquela menina filha da Alice. [risos] — e só por eu falar isso, acho que as pessoas vão ficar loucas! [mais risos]
Como vocês disseram antes, você dois são muito amigos, e numa das cenas o Wagner grita o nome — “Lázaro!” — Vocês acham que no próximo filme vocês vão trazer o Lázaro Ramos também?
Alice: Isso é uma máfia! [risos] Mas eu admito que não percebi de primeira, só percebi na segunda vez que vi o filme.
Wagner: Eu já botei o nome dele lá, é um começo! [mais risos] O Lázaro viu e disse: ‘eu queria sair falando pra todo mundo que era pra mim!’ — e pior que na cena tem um cara meio largado num sofá com uma mulher que é igualzinho ao Lázaro Ramos! [um pouco mais de risos]
No fim, Alice Braga ainda revelou que tem alguns projetos em andamento, um deles com o ator britânico Simon Pegg (Todo Mundo Quase Morto), chamado provisoriamente de Kill Me Three Times (Mate-Me Três Vezes), que será filmado na Austrália e deve estrear em 2014. Wagner Moura em breve estará nas telas de novo com o filme Serra Pelada, que tem estreia prevista para 18 de outubro.
Elysium estreia dia 20 de setembro.
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