Os anos 80 foram uma época de ouro para as animações japonesas aqui no Brasil, muitas tendo sido exibidas pela extinta Rede Manchete ou lançadas por aqui em VHS. Se você acompanhou essa época, talvez você conheça Capitão Harlock, que foi exibido em cinco partes pela Manchete, e também foi lançado em VHS.
Space Pirate Captain Harlock (2013) é uma adaptação cinematográfica do popular mangá criado por Leiji Matsumoto em 1978, que gerou também uma série em anime para TV e alguns filmes. O longa-metragem animado Waga Seishun no Arcadia (Minha Juventude em Arcádia), produzido em 1982, na verdade, é o material que foi trazido aqui pelo Brasil, exibido na Rede Manchete como uma minissérie de 5 episódios, e depois lançado em VHS.
A história tem como protagonista o Capitão Harlock, um pirata espacial no melhor estilo herói capa-e-espada, nobre, soturno, rebelde e decidido a lutar contra governos opressores em civilizações por todo o universo, o que inclui a Terra. Harlock é o capitão da Arcádia, uma nave espacial de guerra conduzida por uma tripulação de aproximadamente 40 membros, e é conhecido pela cicatriz em seu rosto e pelas roupas negras com marca de caveira.
Capitão Harlock é o personagem que fez a fama do mangaká Leiji Matsumoto, que também é conhecido por animes como Patrulha Estelar (que ganhou um filme live-action em 2010) e Gun Frontier (exibido aqui pelo Animax), e pela sua colaboração no design de vários videoclipes do Daft Punk. O roteiro de Space Pirate Captain Harlock foi escrito por Harutoshi Fukui (autor do romance Mobile Suit Gundam Unicorn) e foi desenvolvido para refletir temas mais aproximados à sociedade contemporânea. A direção ficou a cargo de Shinji Aramaki (Appleseed e Starship Troopers: Invasion).
O diretor Shinji Aramaki é um vanguardista no que diz respeito às animações de computação gráfica no Japão, e isso se reflete na qualidade visual de Space Pirate Captain Harlock, que em termos de animação por computador representa uma conquista significativa para o diretor. Em termos visuais, é um dos mais impressionantes filmes entre seus pares. Possui uma imagem bonita, movimentos fluidos, expressões faciais e detalhes bem delineados. Cada vez que vemos a Arcádia — a nave de Harlock — singrando o espaço através de suas nuvens negras experimentamos a sensação de grandiosidade que o filme quer passar.
O visual é bem diferente do desajeitado Starship Troopers: Invasion (2012) e uma prova de que com um bom orçamento — o filme custou cerca de 30 milhões de dólares para ser produzido — Aramaki consegue resultados fascinantes. Em termos de beleza semirrealista, Space Pirate Captain Harlock tem um dos melhores trabalhos de computação gráfica desde Final Fantasy VII: Advent Children. O filme consegue criar suas próprias características estéticas, com um estilo diferente da arte de Leiji Matsumoto, mas com personagens facilmente reconhecíveis. O projeto minucioso do figurino, com uniformes cheios de indumentárias, e a atmosfera vitoriana do interior da Arcádia, sempre cinzenta e soturna, concedem mais força aos aspectos de capa-e-espada — no espaço — do cenário.
No futuro, os seres humanos se espalharam por toda a galáxia, porém não há mais para onde prosperar, e a humanidade deseja de voltar para casa. Percebendo que a Terra nunca poderia suportar um enorme afluxo populacional, seus defensores, reunidos na Coligação Gaia, lutam para manter os navios que retornam afastados em um brutal conflito chamado Guerra do Regresso Para Casa. A Coligação Gaia sai vitoriosa, estabelecendo a Terra como uma zona sagrada que não pode ser tocada, mas um homem continua a lutar pelo direito de retorno: o misterioso e imortal Capitão Harlock, que comanda uma equipe leal a bordo da nave pirata Arcádia.
A premissa é sólida. A execução às vezes é truncada, com muitos momentos de espera que travam o andamento da história, mas o filme vai fluindo aos poucos, e no geral, flui bem. E as reviravoltas causam impacto. É uma boa história, envolvente graças ao carisma de seu personagem principal. O Capitão Harlock, como não podia deixar de ser, é a alma do filme. E é sempre gratificante vê-lo em ação.
Space Pirate Captain Harlock é um bom filme de ação e ficção científica. Harlock é um personagem que muda a cada adaptação. São ossos do ofício quando se é um personagem tão icônico e imortal. Mais do que um personagem tridimensional e humanizado, Harlock atua como um símbolo maior que a vida, que pode ser usado para contar uma variedade de histórias. O filme olha para seu personagem principal dessa forma, como um símbolo, explorando os ideais de esperança e liberdade que sempre estiveram presentes nas histórias do personagem. Harlock, sempre altivo e estoico, é inspirador.
Redes Sociais