Tomorrowland (2015), Brad Bird.
Durante muito tempo nós pensamos em ter carros voadores quando o futuro chegasse. Eu confesso que pensava em carros voadores E MOCHILAS A JATO. Porque o Rocketeer tinha uma mochila a jato. Hoje, temos um futuro um pouco diferente do que imaginávamos décadas atrás. Nossos smartphones são legais e tudo mais, claro que são!, e eu não viveria mais sem eles. Mas quando eu era garoto, eu não pensava que hoje teria algo que cabe na mão e me permite navegar na internet, fornece orientações de espaço e tempo, me permite jogar games para me distrair, escutar música e (de vez em quando) fazer ligações para meus amigos. Eu adoro esse futuro, de verdade, mas ainda falta alguma coisa. Ainda não temos carros voadores; mais importante, ainda não temos mochilas a jato!
Será que essas fantasias infantis eram grandes demais para o futuro? Ou será que nós crescemos e deixamos nossa imaginação ficar menor, absorvida pela realidade de um futuro mais pé no chão? Essa é uma das perguntas que Tomorrowland nos faz, e que seus adoráveis personagens tentam se fazer. Ficção distópica e histórias de apocalipse se tornaram grande ferramentas do mundo do entretenimento hoje em dia. Dos livros aos filmes, passando pelas séries de televisão, nossa visão de possíveis futuros sombrios se tornou parte inerente ao cotidiano da cultura pop, ao nosso cotidiano. E estamos tão imersos nas certezas pessimistas de futuros apocalípticos, que às vezes esquecemos que o futuro também poderia ser mais limpo, brilhante, otimista. Tomorrowland escolhe seguir rumo a esse futuro, e nos leva a uma jornada mágica de volta aos sonhos de futuro que tínhamos na infância.
O roteiro é de Damon Lindelof (Star Trek: Além da Escuridão e Guerra Mundial Z) e Brad Bird (Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille). Bird tem um olho bom para histórias comoventes, e como diretor, conduz o filme com leveza cativante.
Assim como a área nos parques da Disney no qual é inspirado, o negócio principal aqui é a diversão, leve e despretensiosa, infantil, e não tão infantil às vezes, com boas doses de ciência maluca. A ciência aqui é a do inventor engenhoqueiro. A ciência dos sonhos e do tempo.
Como impulso para essa diversão, o filme se cerca de jovens atores, e com performances envolventes desde o princípio. A característica de Casey Newton é sua falta de vontade de desistir do futuro e seu desejo de mudar as coisas para melhor; Britt Robertson a constrói com vitalidade apaixonante, demonstrando um sentimento de admiração pelo futuro capaz de contagiar até mesmo os mais céticos. E embora seja interessante ver George Clooney assumir um papel de apoio – e ele o faz muito bem —, quem rouba todos os holofotes de verdade é Raffey Cassidy. Não só sua personagem, Athena, é minuciosamente desenvolvida com o que há de mais belo na criatividade, como ela é construída com um toque quase mágico (ou deveria dizer científico?) de humanidade. Ela não é exatamente humana, e é incrível ver Cassidy (que é adorável) interpretando alguém que parece uma criança, mas tem o intelecto de um adulto.
Tomorrowland em alguns aspectos me faz lembrar de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, um filme de 2004 que eu adoro, que podia ser melhor, e ainda assim é interessante o bastante com suas ideias e conceitos para me fazer gostar dele; mas que até hoje é duramente criticado e preterido por muita gente. Tomorrowland não podia ser melhor; o filme JÁ É MELHOR. E até nesse ponto ele toca de leve, contando uma história que fala sobre como todos estão sempre mais preocupados em apontar defeitos e problemas ao invés de tentar olhar para o que pode ser bom. O que há de mal em ser otimista? Ou ter um pouco de esperança de que tudo vai dar certo no fim das contas?
Uma coisa que reparei é que os filmes com um aspecto mais pulp, com aquele clima de ficção científica simples e aventuresca das revistas feitas em papel barato de antigamente, são mais difíceis de serem apreciados. Furos de roteiro, história confusa, etc, etc (o que é etc?) são normalmente os motivos apontados, quando na verdade, esses filmes, na maioria das vezes, querem apenas contar uma história de aventura sem muitas aspirações. As pessoas sempre esperam demais, querem demais, para tudo, o tempo todo. Não se permite mais que uma aventura seja leve, porque tudo tem que ter o peso da grandiosidade, sempre tem que ser surpreendente, devastador, apocalíptico, épico ao extremo.
Tomorrowland, com seu aspecto pulp, nos remete a uma época quando as coisas eram mais simples, quando não se levava tudo tão a sério e nós nos permitíamos, simplesmente, sonhar com um futuro de aventuras, robôs, mochilas a jato, pistolas de raios, inventores e monumentos históricos que se tornam foguetes. Talvez seja essa a terra do futuro que devíamos buscar, um lugar mais simples, mais bonito e, acima de tudo, mais tolerante. Um lugar onde filmes como esse (e o próprio sentimento de aventura despretensiosa) seja mais facilmente aceito e contemplado. As pessoas de hoje exigem mais e mais (demais) da vida, quando na verdade as coisas na maioria das vezes são mais simples do que parecem.
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