Já vivemos em um futuro distópico

V de Vingança

“A distopia é um pensamento filosófico que caracteriza uma sociedade imaginária controlada pelo Estado ou por outros meios extremos de opressão, criando condições de vida insuportáveis aos indivíduos. Normalmente, tem como base a realidade da sociedade atual idealizada em condições extremas no futuro. Alguns traços característicos da sociedade distópica são: poder político totalitário, mantido por uma minoria, privação extrema e desespero de um povo que tende a se tornar corruptível.”

A ficção sempre criou futuros distópicos como forma de alertar e mostrar que o caminho da humanidade pode se tornar algo muito ruim, e estamos caminhando nessa direção. Mas será que já não estamos vivendo esse futuro distópico? Será que já não chegamos?

Se pegarmos exemplos da ficção como 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, V de Vingança, até mesmo futuros quase apocalípticos como o do primeiro Mad Max e distopias adolescentes atuais, vemos uma similaridade muito grande com a nossa sociedade atual.

Governos totalitários, censura, governos gerando conflitos internos entre a população, vários dos aspectos de um “futuro distópico” já estão presentes. V de Vingança está cada vez mais real, e não estamos longe de um 1984 ou de um Fahrenheit 451.

Black Mirror é outro exemplo de quão perto estamos disso. A série extrapola a tecnologia e mostra como ela pode ser corrompida e nos colocar cada vez mais dentro desse mundo; nos tornamos escravos da tecnologia, não vivemos sem ela. As mídias sociais estão cada vez mais influenciando nossas opiniões e acreditamos em quase tudo que nos é passado através dela.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a propaganda de guerra foi algo fortemente usada pelos dois lados. O que era verdade ou não? Elas eram usadas para minar as forças dos inimigos, fazer a população civil aceitar a invasão. Os dois lados criavam fake news para tentar mostrar como eles eram melhores do que seus adversários.

Hoje, com a tecnologia, a notícia e a falsa notícia chegam da mesma forma. Podemos não estar em uma guerra declarada, mas somos bombardeados por notícias diariamente. A propaganda está nas nossas timelines e não é jogada pelos inimigos, nem mesmo por desconhecidos; são enviadas por aqueles que são nossos “amigos”.

O controle das massas está mais fácil e os lados não estão tão definidos. O povo briga por ideologias, enquanto quem governa, na sua grande maioria, governa para si, e coloca os governados uns contra os outros, mantendo assim o seu status quo. O futuro distópico não é mais futuro, já estamos nele e nem percebemos – mas normalmente é assim que acontece.

Como um dos exemplos mais próximos, retomo a citação à V de Vingança, no qual o governo controla tudo pelo medo: medo da crise, da fome, da guerra… estamos tão longe disso? Nas palavras de V, acho que não.

“As palavras oferecem os meios ao povo e, para aqueles que escutaram, o anúncio da verdade. E a verdade é que há algo terrivelmente errado com este país, não há? Crueldade e injustiça, intolerância e depressão. E onde uma vez você teve a liberdade a objetar, pensar e falar, você tem agora os censores e os sistemas de escutas que exigem sua conformidade e que solicitam sua submissão. Como isto aconteceu? Quem é responsável? Certamente, há aqueles mais responsáveis do que outros, e serão repreendidos, mas a verdade seja dita outra vez, se você estiver procurando o culpado, você deve olhar somente em um espelho. Eu sei por que você o fez. Eu sei que você estava receoso. Quem não estaria? Guerra, terror, doença.”

Os futuros distópicos da ficção, que serviam de alerta ou sátira, estão se tornando reais. Estamos cada vez mais longe da utopia de Jornada nas Estrelas e cada vez mais perto de 1984. Estamos dando mais força para as nossas diferenças do que para aquilo que nos torna iguais – e pode ter certeza, sempre há alguém ganhando muito com isso. Agora, será que temos salvação, será que surgirá alguém para nos libertar dessa apatia, um V para nos mostrar o caminho? Ou seremos todos Winston Smith: podemos ver a verdade, mas o Big Brother é mais forte e vai sempre nos trazer de volta para a sua apatia?