A gente tem que parar de romantizar boy lixo

Boy Lixo

O título que eu queria aqui era “A gente tem que parar de romantizar o que não deve de ser romantizado”, mas acho que não surtiria o mesmo efeito.

Eu comecei a minha paixão pelo cinema muito cedo. Amava quando chegava o fim de semana e eu podia assistir aos meus filmes. Esperava meu pai ou minha mãe chegarem do trabalho na sexta à noite pra poder ir até à locadora perto de casa e alugar dois filmes que eu só devolveria na segunda. E quase sempre era o mesmo tipo de filme: romances do tipo adolescente.

Romance do tipo adolescente é aquele que a menina fora do padrão “popular na escola” chama atenção do “cara mais gato” e eles ficam juntos no final. Quantos filmes a gente já não viu assim?

Só que depois de um tempo, apesar de amar filme “de mulherzinha”, passei a ficar incomodada com esse nome. Todo “filme de mulherzinha” apresentava sempre uma mesma fórmula de um cara popular que tem desculpa para ser babaca e depois muda porque conhece a menina não popular.

O filme mais recente que posso colocar aqui (e foi o que me deu vontade de escrever sobre isso) é A Barraca do Beijo. Eu posso enumerar os problemas dentro desse filme enquanto vi muita gente suspirando por ele. O carinha é mais velho, machista, possessivo, agressivo com a protagonista, e por um segundo, por ele ser “””bonito””” a gente pensa que isso é ok e ele faz isso porque gosta dela. Em determinado momento, um outro menino dá um tapa no bumbum dela por ela estar usando saia curta e isso é colocado como algo que se torna engraçado. E adivinha? Não tem a menor graça.

Em Orgulho e Preconceito, o Darcy é um idiota boa parte da história e no final a gente aceita e acha bonito porque, afinal, ele tinha os sentimentos reprimidos e por isso podia tratar Elizabeth como ele a tratava. Jane Austen escreveu esse livro em 1800 e tal, e o que mudou de lá pra cá?

O Flynn de A Barraca do Beijo, o Darcy de Orgulho e Preconceito, o Mr. Big de Sex and the City, o Chuck e o Dan de Gossip Girl, o Sutter de O Maravilhoso Agora, o Gale de Jogos Vorazes, o Derek de Grey’s Anatomy e muitos outros que podemos citar (e se quiserem me ajudar, só comentar aqui!). Sabe o que todos eles têm em comum? São a definição de “boy lixo” em gêneros e graus diferentes. E a gente suspirou e romantizou com o relacionamento deles em vários momentos. Ou vai falar que não?

Nós mulheres somos criadas para isso. Temos que aceitar que precisamos nos transformar para caber. Caber na escola, no trabalho, na sociedade e até no amor. Trago aqui outro filme recente e que eu, particularmente, achei ruim de doer: Sierra Burgess é uma Loser. Eu gosto também de ver filmes ruins para valorizar os bons, mas esse me trouxe tanta coisa errada que nem sei.

Para quem não sabe, Sierra é uma menina tímida, excluída dos grupos sociais da escola, fora do padrão de beleza. A história se desenrola de forma que ela finge ser outra pessoa, finge ser surda, divulga nudes de uma menina, e tudo porque se apaixona por um menino bonito, quem ela acha que nunca ficaria com ela por ela ser quem ela é.

E sério, a gente tem que parar de achar coisas como essas fofinhas e bonitinhas. Urgentemente.

A gente tem que parar de romantizar comportamento possessivo e ciumento achando que é cuidado. A gente tem que parar de aceitar um cara ser babaca porque “ele é homem e homem é assim mesmo”. A gente precisa parar de achar que uma mulher que toma atitude é “dada” porque isso não “pega bem”. A gente tem que parar de perpetuar isso.

Um dos filmes que eu mais gosto é Ele Não Está Tão Afim de Você. Que hino de filme. Ele começa exatamente com uma explicação do porquê os homens agem como agem e como as mulheres têm que entender isso. E também como nós crescemos e passamos a justificar qualquer sinal de desinteresse e falta de atenção como um sentimento reprimido porque “homem é homem né”.

O tipo de filme que eu amava nos meus 12-13 anos é o tipo de filme que me faz escrever isso hoje. Porque a gente aprende desde criança que a gente tem que ser passiva.

Precisamos parar de romantizar o que não deve ser romantizado. Se um cara te trata mal e depois vem com flores pedindo desculpa… isso é romântico? A gente aprende a valorizar o bonitão lixo e a menosprezar aquele bonitinho que tá do seu lado disposto a dividir o mundo com você. Preste atenção no dividir o mundo e não a te dar o mundo. Porque no final das contas, ninguém pode dar mais daquilo do tem ou do que é.