Asa Quebrada

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Asa Quebrada (2016), Antonio Altarriba e Kim.

Em A Arte de Voar, o roteirista Antonio Altarriba, em parceria com o desenhista Kim, contou a história de seu pai, um anarquista que lutou pela República na Guerra Civil Espanhola e se juntou à resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, para depois voltar à Espanha e se envolver com o crime organizado. Já sua mãe, Petra, possuía um papel secundário na graphic novel, quase como se fosse de uma vida à parte do pai. Percebendo a injustiça com a figura materna de Altarriba, a dupla decidiu dedicar seu álbum seguinte a ela, o que resultou na HQ Asa Quebrada, publicada no Brasil pela Editora Veneta.

Petra teve a vida marcada por um acontecimento no dia em que nasceu. Sua mãe faleceu dando-lhe à luz e seu pai, furioso, tentou matar o bebê recém-nascido, sendo impedido pela filha mais velha. Ainda assim, Petra teve o braço esquerdo quebrado, o que resultou na perda da mobilidade do membro pelo resto de sua vida.

De personalidade introvertida, Petra tornou-se, desde criança, uma pessoa discreta e religiosa, tentando não chamar a atenção. Ainda assim, passou diversos infortúnios, aos quais aguentou calada, mas nunca sem fugir. Da juventude cuidando de um pai deficiente, trabalhando como empregada doméstica para figurões do regime franquista, até a velhice com dificuldades econômicas e um casamento fracassado, a cada problema sua reação era de altivez e perseverança, encontrando forças dentro de si mesma para encarar tudo sempre de frente e sempre de forma solitária.

Acompanhando a protagonista, temos vislumbres da História da Espanha do Século XX. A princípio, no vilarejo de sua juventude, com as consequências da guerra civil que assolou o país na década de 1930. Depois, nos bastidores das conspirações políticas tramadas dentro do regime de Franco, mostrando que, por trás da aparência de unidade, a ditadura franquista apresentava suas contradições. Desta forma, a HQ acaba jogando luz em episódios pouco conhecidos deste período histórico.

A arte de Kim, desta vez mais solta e mais dinâmica em comparação ao trabalho anterior, funciona muito bem para transmitir as emoções das personagens, ainda mais em se tratando de uma protagonista tão contida como Petra.

Asa Quebrada, portanto, deixa de ser uma simples biografia da mãe do autor para ser uma homenagem às mulheres que, anônimas, precisam lutar batalhas diárias, demostrando força para seguir em frente, ainda que não sejam reconhecidas. Ao mesmo tempo, serve ainda como uma espécie de registro do período histórico retratado, em grande parte obscurecido pela propaganda oficial do regime franquista. Por fim, funciona como uma poderosa história em quadrinhos, mostrando todas as possibilidades a serem exploradas pela chamada Nona Arte.