Anima (2016), Fran Briggs e Anna Giovanni.
Anima é um projeto assinado pela roteirista Fran Briggs e a ilustradora Anna Giovanni, que também assinam como Pumpkin Hour Comics, e publicado pela Jambô Editora. O mangá conta a história de Amadeus, uma cortesã que ama contos de fadas e romances, e Damaran, um príncipe impiedoso que perdeu tudo por conta de seus atos e passa sua vida se remoendo isolado em um castelo.
Amadeus divide a casa com a crossdresser Cleo, que resolve roubar artefatos do castelo do príncipe para quitar o aluguel atrasado. Cleo, por sua vez, acaba sendo capturada por Damaran e, para salvar a amiga, Amadeus faz um acordo com o príncipe se oferecendo para ficar no lugar de Cleo em troca de liberdade de sua roomate. E é a partir daí que a relação entre Amadeus e Damaran se desenrola ao longo da história.
Uma coisa muito interessante apresentada nesta narrativa da dupla Briggs e Giovanni é o trabalho no background dos personagens, especialmente, dos protagonistas. Tanto Amadeus como Damaran tentam lidar com seu passado, cada um com sua forma particular. Além disso, outro ponto muito positivo nesta versão é justamente a ausência de um personagem que seja a personificação do vilão. Toda a história gira em torno do aprendizado de cada um dos personagens a lidar com seus “monstros internos”. Fran e Anna fogem totalmente dos clichês dos contos de fadas como a corrida contra o tempo e as adversidades para se quebrar algum tipo de feitiço para serem felizes para sempre num mundo cor de rosa, utilizando uma abordagem bem mais, digamos, pé no chão nesse sentido, focando no “aprender a se aceitar” e melhor: sem cair nos tediosos e desgastados discursos de lacração que tanto assolam as formas de expressão artística ultimamente.
A arte da Anna Giovanni é simplesmente irretocável. O traço leve, limpo e, ao mesmo tempo, altamente expressivo, combinado com o ótimo roteiro, faz com que a leitura flua de tal maneira a ponto de prender nossa atenção sem que nos demos conta e, por isso, acabamos lendo as mais de duzentas páginas sem perceber.
Anima não se trata apenas de uma releitura do clássico A Bela e A Fera. É muito mais que isso. Desmistifica a ideia de que o amor resolve tudo. Ao contrário, mostra que somos o que somos por conta de nossos erros e acertos ao longo da vida, que precisamos aceitar isto para podermos seguir em frente e, assim, permitir que este amor possa florescer e render frutos no futuro.
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