A internet é, sem dúvida, um grande divisor de águas na História da Humanidade. Todos os nossos hábitos foram completamente mudados com a massificação do acesso à grande rede de computadores. Antes de grande parte da população ter acesso à web, as formas de entretenimento eram totalmente dependentes do que chamamos hoje de “mídia tradicional”. Se quiséssemos estar por dentro do que acontecia no mundo ou ter contato com a cultura pop, ficávamos “reféns” da programação das emissoras de TV e/ou das publicações da mídia impressa. Por conta disso, os canais sempre arrumavam espaço em sua grade para a exibição de séries, assim como, os programas de variedades sempre eram quem traziam as novidades para quem quisesse ficar antenado com o mundo do entretenimento.
A TV Globo, por exemplo, durante a década de 1980 até, mais ou menos, a primeira metade dos anos 1990, dedicava os finais de tarde durante a semana e as manhãs de domingo à exibição de séries. Por sua vez, o SBT reservava seu horário nobre da semana para o mesmo propósito. A quantidade de séries exibidas na TV aberta durante essa época é algo incontável, porém, algumas delas fizeram tanto sucesso por aqui que acabaram servindo de tema para linhas de brinquedos brasileiras lançadas por uma das maiores empresas do ramo na época que, infelizmente, encerrou suas atividades no início dos anos 2000: a Glasslite. Boa parte do sucesso de seus produtos se deve, não só à dependência exclusiva dos brasileiros ao que era exibido na TV aberta, como também, a dificuldade da maioria dos consumidores terem acesso a qualquer tipo de produto importado, ainda mais quando se trata de brinquedos. No fim, as linhas da Glasslite inspiradas em séries de TV eram uma grande salada que misturava figuras de ação e veículos movido à pilha ou à fricção que, quase nunca, interagiam entre si. Muitas vezes, os veículos lançados em linhas diferentes partilhavam do mesmo molde e apenas se diferenciavam pelo esquema de cores e pela programação visual criada pela empresa para cada série.
É claro que nem todas as séries exibidas por aqui nesta época foram capazes de inspirar uma linha de brinquedos da Glasslite, porém, falaremos das que conseguiram tal proeza logo abaixo:
As Aventuras de B.J. (B.J. and The Bear): Exibida de 1979 a 1981, a série tem um total de 48 episódios divididos entre 3 temporadas e narra as aventuras e confusões em que o caminhoneiro Billy Joe McKay (Greg Evigan) e seu chimpanzé chamado Urso se metem enquanto rodam pelas estradas norte-americanas a bordo de sua inconfundível carreta Kenworth K-100 vermelha com uma faixa branca. Vale destacar que, na terceira temporada, B.J. abre uma transportadora e contrata as caminhoneiras Cindy (Sherilyn Wolter), as gêmeas Teri e Geri (Candi e Randi Brough), Angie (Sheila Wills), Samantha (Amanda Horan Kennedy), Callie (Linda McCullough) e Stacks (Judy Landers) para ajudá-lo com seus fretes pelos Estados Unidos. No Brasil, a série foi inicialmente exibida pela TV Record, mas depois passou a ser transmitida pelo SBT nas noites de quinta-feira.
Águia de Fogo (Airwolf): Fazendo parte do pacote de séries exibidas nas manhãs de domingo da Globo, Águia de Fogo conta a história do Stringfellow Hawke (Jan-Michael Vincent) que é convocado por uma divisão da CIA para recuperar um helicóptero militar supersônico chamado de “Águia de Fogo” desaparecido na Líbia. Após o resgate, em vez de devolver o helicóptero para a CIA, Hawke junto com seu amigo Dominic (Ernest Borgnine) passam a usar a aeronave para combater o crime e fazer justiça e para localizar o irmão desaparecido de Stringfellow. A série foi produzida de 1984 a 1987 com 4 temporadas com um total de 80 episódios. Em 10 de fevereiro deste ano, Jan-Michael Vincent, já com uma perna amputada por conta de problemas de saúde, faleceu devido a uma doença cardíaca.
Carro Comando (T.J. Hooker): Para quem estava acostumado a ver William Shatner com o uniforme da Frota Estelar no comando da Enterprise, vai estranhar um pouco ao vê-lo trajando uniforme policial treinando cadetes na academia de polícia e resolvendo crimes nas ruas de Los Angeles. É exatamente disto que se trata com Shatner na pele do Sargento T.J. Hooker, protagonista que dá nome à série. Produzida de 1982 a 1986, teve um total de 92 episódios e tendo, inicialmente, suas duas primeiras temporadas exibidas pela Globo para depois ter o restante exibido pelo SBT. Na década de 1990, a série foi exibida novamente, agora, pela TV Record.
Trovão Azul (Blue Thunder): Inspirada no filme de mesmo nome lançado em 1983 e estrelado por Roy Scheider, a série tem uma premissa muito parecida com “Águia de Fogo” e foi justamente por isso que só teve 11 episódios produzidos antes de seu cancelamento em 1984. A série conta com o policial e piloto Frank Cheney (James Farentino) que, com a ajuda do seu engenheiro de voo Clinton “JAFO” Wonderlove (Dana Carvey) e sua equipe de terra usam um helicóptero militar de alta tecnologia para combater o crime e fazer justiça. A série foi exibida durante a semana na TV Globo e, de 1986 a 1987, passou a ser exibida pela TV Record.
Duro Na Queda (The Fall Guy): Colt Seavers (Lee “Homem de Seis Milhões de Dólares” Majors) junto com seu primo Howard Munson (Douglas Barr) prestam serviços de dublê para os estúdios de Hollywood. Para complementar a renda, ambos nas horas vagas auxiliados por Jody Banks (Heather Thomas), trabalham como caçadores de recompensas. Produzida de 1981 a 1986 totalizando 113 episódios, foi exibida inicialmente pela TV Globo nas manhãs de domingo até 1989, quando passou a ser exibida pela TV Record até 1991. Uma das grandes características dessa série era, sem dúvida, as inúmeras cenas da pick GMC Sierra K-2500 Grande Wideside 1982 marrom com as laterais douradas e uma águia pintada no capô (logo da empresa “Fall Guy” de Seavers na série) pulando de um lado para o outro. Haja conjunto de suspensão, hein! Outra curiosidade interessante sobre a série é que o tema de abertura “The Unknown Stuntman” é cantado pelo próprio Lee Majors.
Miami Vice: Uma das séries mais icônicas dos anos 1980, ela gira em torno dos policiais Sonny Crockett (Don Johnson) e Ricardo Tubbs (Philip Michael Thomas), que investigam o submundo dos cartéis de drogas na cidade de Miami. A série foi produzida de 1984 a 1989 e chegou a render um filme inspirado na mesma em 2006, agora com os atores Colin Farrell e Jamie Foxx na pele de Sonny e Tubbs, respectivamente. Teve um total de 112 episódios produzidos, sendo que o penúltimo episódio da última temporada nunca foi exibido pela TV americana por conta do excesso de violência. No Brasil, foi exibida inicialmente pelo SBT, mas depois passou a ser transmitida pela TV Globo até os últimos episódios.
Profissão: Perigo (MacGyver): Eis uma série que dispensa apresentações de tão popular que foi aqui no Brasil como no mundo. Produzida de 1985 a 1992, com 139 episódios em 7 temporadas e dois filmes para TV, conta as aventuras de Angus MacGyver (Richard Dean Anderson) em missões para o Governo dos Estados Unidos e, depois para a Fundação Phoenix. O grande diferencial desta série é a grande engenhosidade do protagonista em sair de situações impossíveis criando dispositivos incríveis com objetos comuns como palitos de fósforos, clipes de papel e por aí vai. Profissão: Perigo foi tão icônica que acabou rendendo um reboot em 2016 que, inclusive, compartilha do mesmo universo do remake atual da série Havaí 5-0. Exibida pela TV Globo, a série ganhou uma vinheta de abertura própria produzida pela emissora usando a música “Tom Sawyer”, da banda Rush, como tema.
CHiPs: A série que retrata o dia a dia dos patrulheiros rodoviários da Califórnia Jon Baker (Larry Wilcox) e Frank “Ponch” Poncherello (Erik Estrada) foi a primeira a ter seu merchandising explorado no Brasil devido ao grande sucesso feito por aqui. Produzida de 1977 a 1983, teve 6 temporadas com 139 episódios no total, sendo que, na última temporada, Larry Wilcox saiu da série por conta de desavenças com Erik Estrada e foi substituído pelo patrulheiro Bobby “Hot Dog” Nelson (Tom Reilly). Foi exibida no Brasil inicialmente pelo SBT até 1982, depois foi para a Rede Record até 1985 e para a TV Bandeirantes até 1988. Na TV aberta, teve sua exibição mais recente pela extinta Rede Manchete em 1993. O estrondoso sucesso de CHiPs rendeu um longa para TV chamado CHiPs 99, que trouxe quase que o elenco todo de volta, inclusive os patrulheiros Nelson (Tom Reilly) e Baker (Larry Wilcox). Além disso, em 2017, foi lançado um filme para o cinema inspirado na série de TV com Dax Shepard e Michael Peña como Baker e Ponch, porém, as semelhanças param por aí. O longa de 2017 tem uma pegada de comédia com piadas tosqueiras, além do background dos protagonistas ser totalmente diferente dos da série.
Esquadrão Classe A (The A-Team): Quatro Boinas Verdes foram condenados pela Justiça Militar por um crime que não cometeram enquanto operavam na guerra do Vietnã. Então, estes quatro militares conseguem fugir da prisão e passam a operar como militares privados, ou mercenários, no submundo de Los Angeles. O time é composto pelo Coronel John “Hannibal” Smith (George Peppard), pelo Capitão H. M. “Louco Furioso” Murdock (Dwight Schultz), pelo Tenente Templenton “Cara de Pau” Peck (Dirk Benedict) e pelo Sargento Bosco Albert “B. A.” Baracus (Mr. T). As características distintas do quarteto e, claro, a icônica van GMC Vandura 1982 preta e prata com a faixa vermelha, foram um dos grandes responsáveis pelo sucesso da série por aqui. Vale lembrar que a química que rolava entre os personagens só acontecia na frente das câmeras, visto que George Peppard não dirigia a palavra a Mr. T no set de filmagens por ficar extremamente incomodado com a popularidade de B. A. ser muito maior que a de “Hannibal” Smith. Aliás, “Hannibal”, além de líder do grupo, era mestre dos disfarces e dono do jargão “adoro quando um plano dá certo”. Murdock, além de ser completamente louco, era o piloto de aviões e helicópteros do grupo. “Cara de Pau” era o galanteador, conseguia todo o material necessário para as missões usando seu charme. Já B. A. era o mecânico e a “força bruta” do time. Os episódios normalmente envolviam um plano maluco criado por “Hannibal” que, dava errado de início, mas acabava dando certo no fim (manjam os planos do Fred do Scooby-Doo? Então.)e engenhocas à la MacGyver construídas por B. A. e o restante do grupo. O grande sucesso da série se refletiu num longa para cinema lançado em 2010 com Liam Neeson como “Hannibal”, Bradley Cooper como “Cara de Pau”, Sharlto Copley como Murdock e Quinton “Rampage” Jackson como B.A. e ainda conta com a participação de atores do elenco original nas cenas pós-créditos (não vou dizer quais para não dar spoiler, certo?)
Super Máquina (Knight Rider): “A Super Máquina. Um voo de sombras a um mundo perigoso de um homem que não existe. Michael Knight, um jovem solitário numa cruzada para defender a causa dos inocentes, dos desamparados, dos fracos e oprimidos num mundo de criminosos que se sobrepõem à lei.” Era com essa frase que éramos apresentado ao universo da série na abertura. Narra as aventuras de Michael Knight (David Hasselhoff) ao volante de seu super carro Knight Industries Two Thousand ou, simplesmente, K.I.T.T. (voz de William Daniels, no original) lutando pelos fracos e oprimidos sob a tutela da Fundação pela Lei e Governo.
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